“Chocada”, ONU quer investigar, enquanto Israel garante que manteve a dignidade dos mais de 500 corpos encontrados em dois hospitais.
A ONU considera necessária uma investigação às valas comuns encontradas nos últimos dias sob os escombros de dois hospitais na Faixa de Gaza, Al-Shifa e Nasser, frisou Stéphane Dujarric, porta-voz do secretário-geral António Guterres.
Pelo menos 310 corpos já foram exumados de várias valas comuns nos pátios do Hospital Nasser em Khan Younis, no sul da Faixa de Gaza, de onde as tropas israelitas se retiraram no início de abril, após quatro meses de combates nesta área. Por sua vez, as valas comuns encontradas no Hospital Al-Shifa continham mais de 200 corpos.
Os corpos encontrados estavam “enterrados no solo e cobertos de lixo“. Alguns, de mãos atadas.
“Entre os falecidos encontravam-se alegadamente idosos, mulheres e feridos, enquanto outros foram encontrados com as mãos atadas, amarrados e despidos“, disse Ravina Shamdasani, porta-voz do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos.
Mas afinal quem construiu estas valas? Se há informações de que foram os palestinianos a fazê-lo por falta de espaço nos cemitérios,também há fontes que indicam que terão sido soldados israelitas, com retroescavadoras, a fazê-lo para esconder os corpos.
Israel: “mantivemos a dignidade dos corpos”
As Forças de Defesa de Israel (FDI) afirmaram serem infundadas as acusações feitas pelas autoridades da Faixa de Gaza.
“As alegações de que as FDI enterraram corpos de palestinianos são completamente infundadas“, disse o Exército israelita num comunicado em que dá conta, pela primeira vez, da sua versão dos acontecimentos relatados pelas autoridades de Gaza há vários dias.
Segundo as autoridades militares israelitas, citadas pelo The Times of Israel, durante o período em que as FDI estiveram no complexo médico, examinaram os restos mortais de corpos enterrados por palestinianos “como parte dos esforços para localizar os reféns”.
De acordo com o Exército israelita, estas exumações foram “seletivas” e só foram realizadas quando houve informações concretas que indicavam que um dos reféns capturados pelo Hamas no início de outubro poderia estar enterrado na área.
“Os exames foram realizados de forma ordenada, mantendo a dignidade dos mortos e de forma respeitosa”, afirmou Telavive
ONU quer investigar
“Precisamos de uma investigação clara, credível e transparente“, destacou Dujarric, acrescentando que várias agências da ONU podem ser encarregadas de realizá-la e que em nenhum caso os resultados dessa eventual investigação deveriam ser alvo de um prejulgamento antes de serem conhecidos.
“[Mas também] Precisamos de mais jornalistas com a possibilidade de fazer o seu trabalho em Gaza com segurança e contar os factos”, acrescentou o porta-voz do secretário-geral da ONU, em referência ao bloqueio de informação registado na Faixa de Gaza, onde o Exército israelita só permite a entrada de alguns repórteres incorporados nas suas fileiras.
“Dado o clima de impunidade, a investigação deve incluir investigadores internacionais“, defendeu o Alto-Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Turk, “chocado” e “horrorizado” com a descoberta de mais de 280 cadáveres na vala comum nos terrenos do Hospital Nasser.
As autoridades de Gaza estimam que cerca de 2000 pessoas estão desaparecidas na sequência do ataque israelita à unidade hospitalar. “Não se sabe se foram detidos ou se morreram e se os corpos foram escondidos”, segundo o governo de Gaza.
ZAP // Lusa
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