Décadas depois, o dia de reflexão mantém-se. Entre o “não é uma questão” e os sorrisos que Paulo Raimundo conquistou.
Neste sábado, é véspera de eleições legislativas. Por isso, é dia de reflexão.
Não há debates, não há campanha eleitoral. É suposto ser o dia para as pessoas reflectirem e decidirem em quem vão votar. Sem interferências oficiais.
Há quem defenda que este dia da reflexão já não faz sentido, sobretudo desde que há internet, desde que há partilhas políticas a cada minuto nas redes sociais – mesmo na véspera do acto eleitoral.
Há quem tenha outra versão: o dia da reflexão continua a fazer sentido porque impede acções de campanha de última hora (polémicas ou declarações falsas, por exemplo) que já não tenham explicação/desmentido a tempo.
Ao longo desta campanha eleitoral, houve um momento em que este assunto foi comentado por (quase) todos os líderes dos partidos com representação no Parlamento – “quase” porque André Ventura faltou. Foi no debate nas rádios.
Mariana Mortágua (BE) lembrou que tem havido alterações, como o voto antecipado, mas mostrou que nunca tinha pensado sobre o assunto.
Paulo Raimundo (CDU) protagonizou a resposta que originou sorrisos ou mesmo pequenas gargalhadas: “Há uma coisa que é clara para todos nós: depois de 15 dias de campanha, o dia da reflexão sabe bem, sabe bem para reflectirmos, de preferência na horizontal” – e não é uma questão central, nem qualquer problema.
Rui Tavares (Livre) seguiu o mesmo rumo: “Não conheço ninguém que fosse a favor de abolir o dia de reflexão mas que, depois de ter feito uma campanha, não queira manter”, lembrando que é também dia de descanso para quem vai estar nas mesas de voto no domingo.
Pedro Nuno Santos (PS) repetiu que não é uma questão central, que não é um problema, admitindo que as redes sociais estão sempre activas mas este dia de paragem “não prejudica o esclarecimento” dos eleitores.
Inês de Sousa Real (PAN) falou em “áreas cinzentas” e que é difícil combater a desinformação nas redes sociais “quando não nos podemos pronunciar”; preferiu centrar-se no voto antecipado, sobretudo para quem vive no estrangeiro: “Deveríamos aproximar as pessoas mais das urnas”.
Luís Montenegro (AD) acha que o dia de reflexão deve continuar: “Para fomentar a participação nas eleições, até é um dia mais importante do que um dia de campanha – que pode ter um efeito contrário”.
Rui Rocha (IL) discorda: “É um mecanismo ultrapassado. É tentar parar o vento da história com as mãos. Não faz nenhum sentido no momento em que estamos”.