Como houve mais 11 mil pessoas a votar, em relação a 2020, há várias contas a fazer. E o famoso “dia de reflexão”?
As eleições regionais nos Açores, realizadas no domingo passado, permitiram fazer várias contas.
Algumas já partilhámos aqui, como a perda de dois deputados do PS, essencial para a sua primeira derrota nos últimos 32 anos – além do facto de ter “lutado” contra uma coligação desta vez.
O BE perdeu um deputado, enquanto IL e PAN mantiveram um lugar na Assembleia Regional. CDU e Livre continuam fora dos debates.
Também destacámos o caso particular da coligação MPT/Aliança, a Alternativa 21 – que tinha cinco candidatos a deputados mas só conseguiu quatro votos no total.
A abstenção baixou de 54,58% para 49,67%. O que quer dizer que o número de pessoas que votaram subiu, em relação às eleições de 2020. Tinham sido 104 mil, passaram a ser mais de 115 mil.
Para onde foram esses mais de 11 mil votos novos? É sempre um exercício arriscado de fazer mas há duas forças políticas que podem responder: AD e Chega.
A coligação de direita – que não existiu em 2020 – conseguiu quase 49 mil votos. Nas eleições anteriores, os três partidos juntos (PSD, CDS e PPM) ficaram-se por pouco mais de 43 mil votos. A subida foi de cerca de 5.400 votos.
Foi o maior aumento absoluto de sempre, pouco superior à diferença de 5.300 votos do Chega: de cerca de 5 mil passaram para mais de 10.500 votos.
Ou seja, se juntarmos estas duas diferenças, ficamos com 10.700 votos a mais – é praticamente o total do número de novos eleitores. Aparentemente, os novos (ou regressados) nas urnas votaram à direita.
CNE criticada
As eleições ficaram marcadas por algo que aconteceu na véspera, que envolveu a Comissão Nacional de Eleições (CNE) e a Iniciativa Liberal (IL).
A IL ia apresentar o seu programa eleitoral para as legislativas de 10 de Março no sábado, um dia antes das eleições nos Açores.
A CNE avisou na sexta-feira que essa apresentação era uma “propaganda proibida pela lei”, já que decorria no famoso dia de reflexão. Mas a IL apresentou na mesma.
Alexandra Machado disse, com ironia, que essa apresentação deve ter feito uma “grande diferença”: a IL conseguiu mais 470 votos, comparando com 2020 – apesar da ironia, foi uma subida de 23%.
No mesmo programa da rádio Observador, Paulo Ferreira também lamentou este aviso da CNE. Foi uma “tentativa de calar o país todo em termos políticos” no fim-de-semana, foi um “alerta estúpido”.
E o facto de sábado ter sido um dia normal – para partidos e jornalistas – na campanha das legislativas nacionais só mostrou que “toda a gente se está a borrifar” para a CNE.
As eleições nos Açores mostraram as opções dos açorianos Ponto.
Parem de inventar comparações e sondagens da treta.
Já cansa a horde de zandingas e adivinhos que se alimentam do tudo e nada que acontece na política do país.
Com a ânsia desmesurada de influenciar as opções de voto, só produzem mais abstenção, pelo cansaço.
Oh, Lucinda, tenha calma.
O PS perdeu nos Açores e os partidos que constituem a Aliança Democrática ganharam, contrariando todas as sondagens.
É grave e triste o que se tem passado com as empresas de sondagem. Mas já toda a gente começou a entender há muito tempo o que as sondagens pretendem fazer, bem como outros agentes.
Se o PS ganhasse nos Açores, já se podia invocar essa vitória para efeitos das legislativas nacionais. Como perdeu, avisa, não se confundam eleições.
Todos sabemos que as eleições são diferentes, mas talvez seja bem melhor para a AD o que aconteceu nos Açores. Dar-lhe-á outro ânimo. Mas também a AD não deve embandeirar em arco, porque nada está ganho. O Povo é soberano e sabe em quem votar, dê a vitória a quem entender.