O Parlamento britânico está a transformar-se num “espectáculo de mer**”

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UK Parliament / Flickr

Câmara dos Comuns.

Os deputados estão a recorrer mais a palavrões e linguagem grosseira no Parlamento britânico e a tendência não passa despercebida.

Os políticos britânicos estão a precisar de pimenta na língua. Nos últimos tempos, os palavrões têm-se tornado mais frequentes no Parlamento, tanto na Câmara dos Comuns como na Câmara dos Lordes — e o público britânico não está a achar graça.

O líder da oposição, Keir Starmer, conhecido pela sua postura geralmente séria e posh — termo britânico usado para descrever alguém refinado e da classe económica alta — gerou surpresa ao contribuir para esta tendência quando repetiu uma crítica anónima à política de cuidados infantis do governo, descrevendo-a como um “shitshow” ou um “espectáculo de mer**”.

Apesar de as estratégias do Partido Trabalhista não preverem o uso frequente de palavrões por parte de Starmer no Parlamento, a sua escolha de palavreado está alinhada com a tendência atual.

Segundo dados do Hansard, o registo parlamentar oficial, o uso de palavras como “shit” (mer**) e “fuck” (fo***) tem aumentado significativamente nos últimos anos.

Recentemente, o Secretário do Interior, James Cleverly, foi acusado de descrever a cidade inglesa de Stockton como um “shit hole” (buraco de mer**) durante uma sessão, embora tenha negado a alegação específica, admitindo apenas o uso de “linguagem inapropriada“.

Para alguns, o aumento do uso de linguagem vulgar no parlamento é um reflexo dos tempos atuais. “Acho que os palavrões são apenas um subproduto para corresponder ao ridículo da política britânica nos últimos anos”, afirma Mhairi Black do Partido Nacional Escocês, que também foi advertida no parlamento pelo uso de linguagem imprópria.

As regras que regem o debate parlamentar no Reino Unido impõem limites ao vocabulário dos parlamentares, proibindo o uso de “linguagem não parlamentar”. Palavras como “covarde”, “idiota” e “guttersnipe” (criança vagabunda) são alguns dos termos aos quais os presidentes da Câmara dos Comuns se opuseram ao longo dos anos, relata o Politico.

No entanto, os parlamentares podem proferir palavrões sem sanções se estiverem a citar outras pessoas — uma brecha frequentemente utilizada para incluir profanidades e pontuar pontos políticos ou ilustrar abusos recebidos.

A palavra “cunt” (con*), que é tida como um dos palavrões mais brutos, foi proferida três vezes nos últimos seis anos por deputados que estavam a citar alguns insultos de que foram alvo. Já “que se f***” apareceu nos registos parlamentares 13 vezes, nove delas desde 2017.

Mas o uso desta linguagem em ambiente parlamentar não é visto com bons olhos pela população. “Apesar da compreensão pública se for um deslize ocasional em momentos de frustração, a opinião geral é de que o comportamento impróprio deliberado é inaceitável. A resposta mais comum a este tipo de comportamento é ‘imagine que se eu fizesse isso no meu local de trabalho, perderia o meu emprego!’”, defende Luke Tryl, director da consultora More in Common.

É caso para dizer que alguém precisa de meter ordem nesta casa.

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Adriana Peixoto, ZAP //

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