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O que se passa com os jovens? Elas são cada vez mais liberais e eles mais conservadores

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Estamos a assistir a uma divisão ideológica profunda entre os jovens homens e mulheres da Geração Z, com idades entre os 18 e os 29 anos. Elas estão a tornar-se cada vez mais liberais enquanto eles estão a ficar mais conservadores.

Este fenómeno tem-se verificado em vários países, nomeadamente nas urnas de voto, com elas tendencialmente a votarem mais à esquerda e eles a virarem à direita, ou à extrema-direita.

Em Portugal, uma sondagem recente revelou que o Chega tem maior potencial de voto entre os homens com idades entre os 18 e os 34 anos.

Na Polónia, nas eleições legislativas de 2023, “quase metade dos homens entre os 18 e os 21 anos” votou no partido Confederação da direita radical enquanto entre as mulheres da mesma faixa etária “apenas um sexto” apoiou este partido, refere o jornalista de dados do Financial Times John Burn-Murdoch.

Já no Reino Unido, as mulheres até aos 30 anos são 25% mais progressistas do que os homens, acrescenta Burn-Murdoch.

E na Alemanha, há “uma diferença de 30 pontos entre os jovens cada vez mais conservadores e as mulheres contemporâneas mais progressistas”, destaca o mesmo jornalista.

Este “gender gap”, ou disparidade de género, verifica-se ainda noutros países europeus e também noutros continentes, nomeadamente nos EUA, com homens e mulheres jovens cada vez mais extremados nas suas opiniões quanto a temas como a imigração, o racismo, a igualdade de género e as questões LGBTQI+.

O que explica estas diferenças?

A professora e investigadora britânica Alice Evans do King’s College London avança com “três possíveis explicações” para esta divergência entre homens e mulheres da Geração Z, notando que “tem a ver com tecnologia, com cultura, mas também com economia”.

“Em muitos países, as gerações mais jovens têm estas mentalidades de “soma zero””, em que há a ideia de que existe “um cesto fixo de bens” e de que “se estás a receber uma maçã, isso significa menos maçãs para mim”, aponta a especialista em questões de género em declarações à BBC divulgadas no X, o antigo Twitter.

Neste sentido, “há uma minoria de homens que se sente ameaçada” pelas mulheres e também pelos imigrantes, constata.

Alice Evans repara ainda que a “estagnação económica”, o “aumento do desemprego, ou o desemprego de longa duração” estão a fomentar um aumento de votos em partidos populistas e da extrema-direita precisamente porque existe essa ideia de que “os imigrantes ou as mulheres estão a tirar-nos os nossos ganhos”.

As “bolhas das redes sociais”

Além destas questões económicas, vivemos uma época de “mudanças culturais”, com os media a “bombardearem” as pessoas com “histórias negativas” e com “atrocidades terríveis”, nota Alice Evans.

As “bolhas das redes sociais” podem criar “filtros” destacando “os exemplos mais extremos” e “valores discrepantes que não representam as perspectivas de todos”, mas que criam a sensação de que são “histórias maiores” e que envolvem o todo, acrescenta a professora.

A investigadora também repara que “empreendedores culturais como Andrew Tate“, influencer e ex-kickboxer britânico conhecido pelos discursos misóginos e que foi acusado de violação, também estão a aproveitar o “ressentimento económico” e a “negatividade” das redes sociais para passar aos homens a mensagem de que a “culpa” pelas suas dificuldades financeiras não é deles, mas dos imigrantes e das mulheres.

Simultaneamente, “as corporações das redes sociais querem manter os utilizadores agarrados” e, por isso, alimentam a sua sede de informação mostrando-lhes as tais “histórias negativas” que costumam ver, com “conteúdos sensacionalistas e polarizadores que só os tornam mais inflamados e ligados” a esses assuntos, realça Alice Evans.

Que repercussões numa sociedade “dividida em duas”?

As diferenças ideológicas entre homens e mulheres são, mais ou menos, históricas. Tendencialmente, as mulheres têm votado mais à esquerda do que os homens, mas estão agora mais extremadas na chamada Geração Z.

“O movimento #MeToo foi o principal gatilho, dando origem a valores ferozmente feministas entre as jovens que se sentiram capacitadas para falar contra as injustiças de longa data”, destaca John Burn-Murdoch no Financial Times.

“Essa faísca encontrou material inflamável” sobretudo em países onde a desigualdade de género é mais acentuada, como a Coreia do Sul, reforça o jornalista.

O resultado, e tendo o exemplo sul-coreano como extremo, é uma sociedade “dividida em duas”, com quedas significativas nas taxas de casamento e de natalidade, aponta ainda Burn-Murdoch.

Na Coreia do Sul, em 2022, houve “0,78 nascimentos por mulher”, a “mais baixa” taxa de natalidade do mundo, vinca o jornalista.

E este “gender gap” não é uma fase que vai passar. Pelo contrário, “as lacunas ideológicas só estão a aumentar”, repara o profissional do Financial Times, notando que cada vez mais os homens e as mulheres jovens vivem em “espaços separados e vivenciam culturas distintas”.

E a mudança pode “deixar repercussões nas gerações vindouras, impactando muito mais do que a contagem de votos”, conclui o especialista de dados.

Susana Valente, ZAP //

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2 Comments

  1. “Elas” andam quase levianamente distraídas e não se dão conta do retrocesso civilizacional que o “conservadorismo” deles representa.
    Receio que só vão perceber, quando começarem a perder os direitos conquistados, que julgam garantidos. Enquanto não começarem, como as suas bisavós, a levar porrada, a ter os filhos”que Deus lhes quiser dar”, a vestir e usar unicamente o que eles permitirem e a não levantarem os olhos do chão (a não ser para o seu “eleito”), sujeitando-se à amarra até que a morte os separe, não vislumbram o perigo.
    Nessa altura, se não abrirem a pestana antes, perceberão os desígnios da extrema direita, esses que não entram nos comícios nos debates, nem nos rituais de sedução.

  2. Muito simples.. os partidos de esquerda são todos misandricos e feminazis..
    Embora não se concorde com a direita em muita coisa.. são os que menos discriminam o homem e onde há menos feminazismo!

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