O Hospital Egas Moniz esclareceu que a doente que morreu de Hepatite C, alegadamente por falta de tratamento com Sofosbuvir, poderia ter sido tratada anteriormente com terapêutica alternativa, o que sempre recusou.
A doente de 51 anos, que faleceu na sexta-feira no Hospital de Santa Maria, foi seguida durante nove anos no Hospital Egas Moniz, pertencente ao Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental (CHLO), afirma esta unidade em comunicado.
“Desde 2008 foi-lhe proposta por várias vezes a terapêutica convencional com resultados muito favoráveis para o genótipo que a doente apresentava, terapêutica esta que a doente sempre recusou, tendo a doença evoluído, sem tratamento específico durante cerca de seis anos”, refere a nota.
Segundo o CHLO, em 2014 a doente apresentava já doença hepática “muito avançada, com prognóstico reservado“, tendo estado internada sete vezes durante esse ano.
Em julho, a Comissão de Farmácia e Terapêutica do CHLO recebeu o primeiro pedido de terapêutica com Sofosbuvir (medicamento inovador para a hepatite C), tendo sido posteriormente solicitada ao laboratório Gilead a disponibilização desse medicamente de forma gratuita.
Segundo o CHLO, esse pedido foi aceite pela Gilead em janeiro deste ano.
“Nesta data a doente estava internada em situação extremamente critica e por acentuada deterioração do estado clinico, com necessidade de cuidados intensivos (…) foi transferida para o Hospital de Santa Maria”.
Medicamento estava disponível?
A farmacêutica Gilead disse esta quarta-feira que a doente em causa podia ter tido acesso ao fármaco sem qualquer custo para o Estado.
Numa nota enviada à agência Lusa, a Gilead disse nunca ter recebido qualquer nota de encomenda para o uso do medicamento nesta doente, apesar de o laboratório o ter disponibilizado.
Segundo a farmacêutica, o Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental enviou à Gilead, a 4 de novembro do ano passado, um pedido de acesso sem custos ao medicamento Ledispasvir/Sofosbuvir, mas na altura não havia enquadramento legal para o fornecer sem custos.
Na sequência de um pedido de esclarecimento, a Autoridade do Medicamento explicou, a 31 de dezembro de 2014, que o fornecimento do medicamento se enquadrava num novo regulamento relativo ao programa para acesso precoce a fármacos sem custos para o Serviço Nacional de Saúde (SNS).
Nove dias depois, a Gilead comunica ao Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental a sua disponibilidade para fornecer o medicamento a essa doente sem custos para o SNS.
Contudo, até hoje, o laboratório diz não ter recebido “qualquer nota de encomenda ao abrigo do respetivo regulamento por parte desse hospital para o medicamento em questão”.
Filho nega que mãe tenha recusado tratamento
O filho da doente que morreu na sexta-feira, no Hospital de Santa Maria, negou que a mãe tenha recusado tratamento anterior com terapêutica alternativa.
David Gomes, que vai avançar com acção judicial contra a unidade hospitalar por negligência médica, referiu à agência Lusa que a mãe “nunca rejeitou” anteriormente a outra terapêutica para combater a doença hepática, ao contrário do afirmado hoje pelo Hospital Egas Moniz, em comunicado.
“Isso é uma profunda mentira. Os efeitos secundários são muitos grandes e a minha mãe nunca rejeitou, mas nunca conseguiu concretizar o tratamento. Mais do que uma vez, ela tentou fazer os tratamentos e não os acabou”, afirmou.
No entender de David Gomes, a unidade hospitalar da capital “quer fugir às responsabilidades“.
O filho da doente vincou que a questão “não tem a ver com o tratamento agora em causa”, no Hospital de Santa Maria – para onde foi encaminhada a doente, em estado crítico, a 28 de Janeiro -, uma vez que disse desconhecer por que não foi administrado “o medicamento” Sofosbuvir.
“Desde Fevereiro de 2014 que a minha mãe está ao cuidado dos hospitais, primeiro no Hospital Egas Moniz e, nesta fase final, no Hospital de Santa Maria. Desde Janeiro do ano passado que o medicamento está disponível”, referiu.
Sem saber quem “foi o responsável por não ter sido dado o medicamento”, David Gomes referiu que se pretende “afastar a morte” da mãe, criando “um assunto que é falso, que é a terapêutica alternativa“.
“O medicamento cura a 95 por cento e é disponibilizado para os estados mais graves. Não sei por que não o foi para a minha mãe”, acentuou David Gomes, que teve hoje uma audiência com o ministro da Saúde, Paulo Macedo, que lhe transmitiu que a morte será investigada.
David Gomes estranhou ainda que a farmacêutica Gilead tenha afirmado que a doente podia ter sido tratada com o medicamento sem qualquer custo para o Estado.
“Por que não lhe deram o medicamento? Quem é o responsável?”, questionou David Gomes.
/Lusa