Um estudo realizado por uma equipa internacional de investigadores na Gruta da Oliveira, em Portugal, está a desafiar a visão de longa data de que os Neandertais são uma espécie separada dos humanos modernos.
Os neandertais sabiam controlar o fogo e usavam-no para cozinhar, revela um estudo conduzido por uma equipa internacional de investigadores, da qual fazem parte os arqueólogos portugueses Mariana Nabais e João Zilhão.
O estudo, liderado por Diego Angelucci, arqueólogo da Universidade de Trento, baseia-se em descobertas na Gruta da Oliveira, em Torres Novas.
Este sítio arqueológico, uma jazida do Paleolítico Médio descoberta em 1989, foi habitado pelos Neandertais há mais de 71.000 anos.
De acordo com os autores do estudo, publicado na PLOS One, os Neandertais faziam um uso sofisticado e controlado do fogo para cozinhar e aquecer-se, de forma semelhante aos humanos modernos.
A conclusão é evidenciada pelo posicionamento consistente de uma lareira e de ossos queimados encontrados no local.
Esta descoberta está em linha com a ideia de que os Neandertais, que chegaram a ser considerados intelectualmente inferiores aos humanos contemporâneos, tinham uma cultura complexa, com práticas como o enterro intencional dos mortos, a elaboração de joias e, possivelmente, a criação de arte.
A visão tradicional dos Neandertais como uma espécie distinta, designada Homo neanderthalensis, remonta à sua descoberta inicial em 1864 e subsequente classificação pelo geólogo William King.
No entanto, esta perspetiva tem mudado à medida que análises mais sofisticadas revelaram ligações genéticas e culturais que aproximam os Neandertais do Homo sapiens.
Pesquisas genéticas mostram que os Neandertais acasalaram com antepassados dos humanos modernos, tornando ainda mais ténue a linha que em teoria separa as duas espécies.
O uso controlado do fogo, marca da civilização humana agora identificada na Gruta da Oliveira, apoia a ideia de que as capacidades e práticas culturais dos Neandertais não eram afinal assim tão diferentes das nossas.
“Os achados do local da Gruta da Oliveira sugerem que os Neandertais talvez devam ser vistos como diferentes formas de humanos e não como uma espécie completamente separada”, diz Diego Angelucci numa nota de imprensa publicada no site da Universidade de Trento.
Assim, embora a classificação taxonómica formal possa não mudar a curto prazo, devido à natureza conservadora da taxonomia, o estudo agora publicado reflete a ideia de que os Neandertais são afinal mais como nossos irmãos do que primos distantes na árvore genealógica humana.