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Crise no vinho: o problema é haver demasiado e já se fala em arrancar vinhas

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O excesso de vinho nas adegas é um problema para os produtores em Portugal, numa altura em que a vindima até trouxe menos uvas do que o esperado. Ainda assim, já se fala em arrancar vinhas e pedem-se mais apoios para a “destilação de crise”.

O Governo lançou, no início de Julho, apoios para a chamada “destilação de crise”, no âmbito da vindima deste ano.

A medida visa apoiar a destilação de vinhos tintos e rosados, com Indicação Geográfica (IG) e Denominação de Origem (DO), para produção de álcool destinado exclusivamente a fins industriais (incluindo produtos de desinfecção ou fármacos) ou para fins energéticos.

O Douro é a região com maior dotação na actual “destilação de crise”, somando 6,4 milhões de euros. Mas, no todo do país, desde 2020, já foram destilados 60 milhões de litros de vinho.

“Desde as últimas décadas até ao presente, nunca se tinha verificado” nada semelhante, como revela o ministério da Agricultura em resposta à agência Lusa.

Os “destiladores atingiram este ano a capacidade máxima de destilação, a nível nacional”, refere o ministério liderado por Maria do Céu Antunes.

A “destilação de crise” para 2023 teve um orçamento de 20 milhões de euros. “O Douro é a região que maior dotação recebe, somando 6,4 milhões de euros, o que representa 32% da dotação total disponibilizada para o país”, destaca o ministério da Agricultura.

Situação é “dramática”

As adegas e associações de produtores do Douro reclamaram a destilação do vinho excedente desta vindima, que está a terminar, para ajudar as cooperativas que absorveram as uvas dos viticultores recusadas por grandes empresas e estão a ficar numa situação “dramática”.

“Todos os cooperantes, entenda-se, sócios das cooperativas, têm o direito irrecusável de entregar as suas uvas nas respectivas instituições”, esclarece também o ministério.

O pedido dirigido ao Ministério da Agricultura foi feito depois de uma reunião entre a Casa do Douro e a Associação da Lavoura Duriense com representantes de adegas da Região Demarcada do Douro que decorreu há pouco mais de uma semana, na Régua.

“As adegas não conseguem acomodar toda a uva que estão a receber e estamos a falar, em alguns casos, de 50% a mais do que é a média dos últimos anos”, o que “é incomportável financeiramente“, referiu, na altura, o presidente da Casa do Douro, Rui Paredes.

Assim, apelou à “destilação de crise”, justificando que só assim, “se consegue libertar stocks e fazer com que as adegas fiquem com algum desafogo financeiro para minimizar este impacto que é brutal“.

“Porque são elas que estão a ser o amortecedor do impacto da não-recepção de uvas por parte de muitos operadores”, avançou Rui Paredes.

Nesta vindima, grandes empresas de vinho deixaram de comprar ou compraram uvas em menor quantidade aos viticultores, ao contrário do que costumava acontecer.

Arrancar vinhas pode ser solução

Após uma retracção no consumo, quer internamente, quer externamente, há vinho em excesso nos armazéns que ficou por vender. Assim, não há espaço para o vinho deste ano.

Há “viticultores a implorar para poderem descarregar as uvas, porque os grandes operadores fecharam-lhes as portas”, lamenta o presidente da Casa do Douro em declarações proferidas nesta semana ao Dinheiro Vivo.

Rui Paredes diz-se “muito preocupado” e nota que “há muita gente a querer desistir da actividade, o que é um problema para os territórios”.

“Estou com muito medo, há situações de penúria, muita gente não vai ter dinheiro para fazer o granjeio normal da vinha para o ano, porque não retiraram rendimento para isso nesta vindima”, acrescenta.

O problema é também estrutural, como repara o presidente da Associação das Empresas de Vinho do Porto (AEVP), António Filipe, notando ao Dinheiro Vivo que, no Douro, há, todos os anos, “cerca de 20% de vinho a mais”.

Por isso, o responsável da AEVP defende que “a solução ideal era fazer crescer o mercado para absorver estes excedentes”, mas isso “não tem sido possível”, aponta. Portanto, é preciso “intervir do lado da oferta”, acrescenta.

António Filipe não descarta a possibilidade de arrancar vinhas. “Não há que ter pruridos ou reservas quanto a isso, é um processo que acontece em todo o mundo”, analisa.

Na região de Bordéus, em França, está a acontecer precisamente isso, com o arranque de milhares de hectares de vinha.

“Isso é muito drástico“, defende, contudo, o presidente da CVR de Lisboa, Francisco Toscano Rico, também em declarações ao Dinheiro Vivo, acrescentando que “há áreas mais nobres para alocar os fundos públicos do que no arranque de vinha”.

“O pior dos últimos 10 anos”

O responsável da CVR de Lisboa admite que “o mercado está muito difícil este ano” e que “será talvez o pior dos últimos 10 anos em termos de conjuntura mundial”

Dentro de portas, “o dinamismo da restauração, por força do turismo”, não será suficiente para compensar “as quebras na grande distribuição“, vinca Toscano Rico.

Com isto tudo, muitos viticultores estão a perder rendimento com o excesso de uvas – e a consequente desvalorização no preço.

A produção de vinho em Portugal vai crescer este ano, mas, ainda assim, abaixo do esperado devido a intempéries, calor excessivo e doenças, afirma o presidente executivo da ViniPortugal, Frederico Falcão.

O Instituto da Vinha e do Vinho estimou, no final de Julho, um aumento de produção na campanha de 2023/2024 a rondar os 8% para um volume de 7,4 milhões de hectolitros em relação à campanha anterior. Mas esta projeção está desactualizada.

“Depois disso, já tivemos alguns acidentes climáticos, como granizo na região de Trás-os-Montes, na região do Douro, também um bocadinho na região dos Vinhos Verdes”, aponta Falcão em declarações à Agência Lusa.

Falcão refere também problemas com míldios e doenças que afectam a vinha em várias regiões e com secura devido às temperaturas muito altas, que deverão resultar em perdas de produção.

“É muito provável que não acabe com o aumento de 8%, mas ainda assim estamos a estimar um aumento de produção”, vinca.

O presidente da ViniPortugal antecipa, por exemplo, que a produção de vinho nos Açores vai crescer, mas abaixo daquilo que era esperado, tal como em Trás-os-Montes.

“O Douro vai ter algumas quebras em relação ao que esperava”, mas “o Dão vai ter um crescimento melhor do que esperava”, reconhece Falcão, considerando que é difícil aos viticultores reduzir o impacto de intempéries e do calor.

“Aqui não há grandes soluções. Depois destes grandes acidentes climáticos não há muito a fazer, há que apanhar a uva rapidamente, aquela que se puder salvar”, explica.

Aumento das exportações para o Reino Unido

Dados do primeiro semestre de 2023 revelaram um aumento na exportação de vinhos portugueses para o Reino Unido, com um crescimento de 43,85% em valor, e 18,15% em volume, relativamente ao mesmo período de 2022.

O valor total destas exportações foi de aproximadamente 43,5 milhões de euros.

Parte deste desempenhou vinga uma aposta na promoção junto de garrafeiras independentes e restaurantes com cartas de vinhos ou sommeliers para tentar posicionar os vinhos portugueses numa gama de maior qualidade, com preço mais alto.

Mas o crescimento das exportações também se deveu à correria de alguns importadores em aumentar os stocks antes da entrada em vigor de uma nova tabela tarifária sobre as medidas alcoólicas.

Desde Agosto, o imposto sobre o vinho de mesa subiu em cerca de 20%, e o vinho fortificado, como o vinho do Porto, em cerca de 44%.

“Não acredito que consigamos terminar com este crescimento tão alto. A esperança é que haja um bocadinho de quebra ou desaceleramento até ao final do ano, mas que depois que o mercado se ajuste aos novos preços” em 2024, vaticina Falcão.

ZAP // Lusa

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5 Comments

  1. Assim é a vida.
    Quando há pouca uva, o preço do vinho sobre.
    Quando há muita uva, os produtores jogam fora para não baixar o preço.

  2. Às vezes é dificil perceber as coisas… mas deve ser da minha cabeça…

    Se à pouca produção o governo tem que dar subsidios devido à quebra mas os preços de venda do vinho aumentam, se à muita produção o governo tem que dar subsidios porque o preço de venda da uva diminui mas o preço dos vinhos mantem-se nos mercados, agora não se vende o vinho em stock pede-se subsidios para se escoar stock para acomodar a produção deste ano e já se fala em arrancar vinhas e pede-se subsidios para esse arranque… sem esqueçer que, certamente, muita dessa vinho foi plantada com recurso a subsidios… enfim é uma atividade subsidiodependente… e andamos nós a pagar para isso…

    Tenho um negócio na área da restauração e não tenho direito a nada de subsidios… se faturo faturo e se não faturo não faturo sendo as despesas fixas com eletricidade, trabalhadores, rendas, etc… sempre constantes sem qualquer apoio seja a época boa ou má… Em mais de 20 anos de atividade a unica vez que fui apoiado foi devido à covid…

  3. … A única confusão aqui é como é possível haver excedentes se nós últimos anos as produções foram baixas! No ano passado foi catastrófico, produções baixíssimas, mesmo assim apareceu muito vinho! MAGIA?

  4. Tenho um negócio de produção de uvas nos últimos vinte anos a rentabilidade tem baixado todos os anos. Veio o COVID e a crise! E não tive qualquer apoio!

  5. Há excedente, deve ser por garrafas de 7,5 terem aplicados valores acima do preço de 1 litro de combustível, prefiro andar de carro.

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