“Não podemos baixar a fasquia”. Pressa na adesão da Ucrânia gera tensão na UE

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EPA

Zelenskyy e Von der Leyen

A presidente da Comissão Europeia (CE), Ursula Von der Leyen, com o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenskyy, em Kiev.

O possível relaxamento dos critérios de adesão à União Europeia para facilitar a entrada da Ucrânia está a criar divisões entre os Estados-membros.

A cimeira dos líderes europeus em Granada, Espanha, deixou a nu as divergências internas sobre os rumores de um alargamento histórico da União Europeia, que incluiría a Ucrânia.

O Presidente francês Emmanuel Macron e o chanceler alemão Olaf Scholz estão na linha da frente dos esforços para a expansão, mas as preocupações sobre a viabilidade do alargamento estão a causar divisões entre os Estados-membros.

Macron e Scholz usaram a terceira reunião da Comunidade Política Europeia, criada na sequência da invasão russa da Ucrânia, como uma plataforma para impulsionar a inclusão da Ucrânia e de vários outros países candidatos à UE.

Com as eleições europeias no horizonte do próximo ano, Macron encarou a cimeira como uma oportunidade para consolidar o seu legado como um europeísta ferrenho. Macron e Scholz enfrentam a tarefa árdua de convencer os Estados-membros a apoiar reformas internas significativas que permitam a entrada de Kiev, particularmente na agricultura e na tomada de decisões colectivas.

A Dinamarca, juntamente com a França e os Países Baixos, bloquearam as propostas de adesão da Albânia e da Macedónia do Norte à em 2019. No entanto, a guerra na Ucrânia parece ter levado a uma mudança de postura destes países.

Apesar de agora apoiar a entrada da Ucrânia, da Geórgia, da Moldova, da Albânia e da Macedónia do Norte, o Governo dinamarquês mantém-se cauteloso sobre um ajuste aos critérios para facilitar a expansão.

“Se não concluírem o processo de reforma antes de entrar, poderá haver o risco de desaceleração posteriormente. E nesse caso não exportamos estabilidade, corremos o risco de importar instabilidade. E é por isso que é tão importante sublinhar a necessidade de cumprir os critérios”, referiu o Ministro dos Negócios Estrangeiros da Dinamarca, Lars Løkke Rasmussen, ao Financial Times.

Sobre a exigência de uma adesão rápida feita por Volodymyr Zelenskyy, Rasmussen defende que a UE ajude Kiev a cumprir os requerimentos para poder entrar no bloco europeu. “Queremos investir e ajudar e queremos ser tão positivos e ajudar alguns quanto possível, mas não podemos baixar a fasquia“, sublinha.

Os desacordos internos estão a lançar dúvidas sobre o cronograma de expansão. Mesmo aliados próximos, como a França e a Alemanha, ainda não se entenderam sobre uma linha temporal para estas mudanças de raíz.

O Presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, sugeriu que a UE deveria estar pronta para a expansão até 2030, uma data que recebeu reações mistas. O Ministro dos Negócios Estrangeiros da Irlanda, Peter Burke, expressou reservas sobre a definição de uma data firme.

“Os países candidatos devem, numa abordagem baseada no mérito, cumprir todos os critérios antes das negociações serem abertas”, referiu Burke.

O debate sobre a expansão também complica as relações com os atuais candidatos à UE, explica o Politico. O Presidente turco Recep Tayyip Erdoğan criticou recentemente a UE pelas suas “promessas quebradas“.

Por sua vez, o primeiro-ministro ucraniano Denys Shmyhal rejeita a proposta de Macron para uma “Europa a várias velocidades“, insistindo numa adesão plena. “Estamos a fazer os esforços máximos para garantir que a Ucrânia se torne um membro pleno da União Europeia. Isto tem uma importância crítica para todos os ucranianos”, remata.

Adriana Peixoto, ZAP //

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1 Comment

  1. A Ucrânia a entrar na UE e a UE a desmembrar-se.
    Há poucos anos atrás não havia dinheiro para suportar Portugal Irlanda e Grécia depois destes países terem aumentado a divida para suportar a indústria Alemã e Francesa. Hoje gasta-se em munições para matar ucranianos e russos o que não se gastou na altura para matar a fome aos mais pobres. Ouve muita falta de vontade de dialogo antes de se entrar por esta via da guerra, julgo que a UE já percebeu que errou nas previsões que tinha feito..
    Hoje o nosso governo promove uma linha de alta velocidade para a qual julga que tem dinheiro mas não tem. Tal como o PM inglês que acaba de cancelar os projetos de alta velocidade no UK por falta de verba, já a gastou na Ucrânia agora vai faltar no país.
    Dentro de mais uns tempos devem propor a entrada na UE do Azerbaijão e da Chechênia.

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