27 anos depois, detido um suspeito da morte de Tupac Shakur. Como é que a polícia o apanhou?

Quase três décadas depois do assassinato do rapper Tupac Shakur, a polícia de Las Vegas deteve um homem como suspeito do crime. Trata-se de um rapper e ex-elemento de um gangue.

O rapper Keffe D, de nome Duane Davis, de 60 anos, é apontado como o autor moral do crime, com o vice-promotor distrital do Ministério Público, Marc DiGiacomo, a salientar que foi ele que “ordenou a morte” do rapper.

Tupac Shakur foi assassinado em 1996, em Las Vegas, num tiroteio, quando tinha apenas 25 anos.

É um momento “agridoce” para a família do artista, segundo o meio-irmão de Tupac, Mopreme Shakur. “Passamos por décadas de dor. Eles sabiam deste tipo, que fala demais, há anos”, lamenta em declarações à CNN.

“Então, porquê agora?“, questiona Mopreme Shakur. “Queremos saber porquê e se houve cúmplices”, acrescenta.

“Orquestrou o plano” para matar Tupac

Keffe D foi detido nesta sexta-feira, 29 de Setembro, e acusado de ter sido o mentor do plano que levou à morte de Tupac enquanto líder do gangue Southside Compton Crips. Alguns elementos deste gangue tiveram, na altura, um desaguisado com Tupac e com pessoal da sua segurança.

“Ele orquestrou o plano que foi executado”, explica o tenente Jason Johansson da divisão de homicídios da polícia de Las Vegas, durante uma conferência de imprensa após a detenção.

“Duane Davis foi o mandante deste grupo de indivíduos que cometeram este crime”, acrescenta o tenente.

A polícia alega que Davis estava no carro, juntamente com outras três pessoas, de onde foram disparados os tiros que atingiram Tupac, matando-o. Não se sabe quem abriu fogo contra o rapper.

Em Julho deste ano, a polícia fez buscas a uma casa relacionada com o suspeito agora detido. Nessa altura, soube-se também que que “Keffe D” admitiu o envolvimento na morte de Tupac no documentário “Unsolved: The Tupac and Biggie Murders” que foi divulgado pela Netflix.

Keffe D confessou aos media e num livro

A detenção de Duane Davis é um momento marcante no âmbito de um dos assassinatos mais mediáticos, e sem resolução, do mundo artístico das últimas décadas. Até agora, ninguém tinha sido acusado do crime.

Nunca tivemos as provas necessárias para levar este caso adiante e apresentá-lo para acusações criminais”, explica o tenente Johansson aos media norte-americanos.

A situação mudou a partir do momento em que Keffe D começou a falar do seu envolvimento no assassinato, em 2018, com declarações a vários meios de comunicação social.

Em 2019, Duane Davis também publicou o livro “Compton Street Legend”, onde alega que foi o seu sobrinho, Orlando Anderson, quem atingiu fatalmente Tupac. Também conta que estava no interior do carro quando este disparou.

A morte de Tupac Shakur é um dos grandes mistérios dos últimos anos, com controvérsia também na forma como o caso foi investigado pela polícia, com suspeitas de corrupção e de envolvimento entre agentes e elementos de gangues.

Várias teses foram lançadas, nos últimos anos, quanto ao autor/autores do crime. Em 2002, o jornalista Chuck Philips, do Los Angeles Times, investigou o assassinato e avançou com vários suspeitos, incluindo o grande rival de Tupac no universo rap, Notorious BIG.

Quem era Tupac Shakur?

Na altura da sua morte, Tupac Shakur era uma das maiores estrelas do mundo no universo do hip hop.

Nascido em East Harlem, Nova Iorque, em 1971, era filho de membros activos do grupo activista “Panteras Negras”.

Estudou representação, poesia e jazz na Escola de Artes de Baltimore e lançou o seu primeiro álbum “2Pacalypse Now” em 1991, abordando temas como a violência dos gangues e a corrupção na polícia.

Seguiram-se outros álbuns que foram sucessos de vendas enquanto também recebeu aplausos pelas participações em filmes como “Poetic Justice” e “Gang Related”.

Pelo meio também esteve envolvido em vários casos com a polícia e cumpriu oito meses de prisão, em 1995, depois de ter sido condenado por abuso sexual em primeiro grau.

Em 1993, foi acusado de agressão agravada no âmbito de um tiroteio com dois polícias em Atlanta. O caso resolveu-se fora dos tribunais, com as acusações a serem retiradas.

Um ano depois, em 1994, esteve envolvido noutro tiroteio, numa emboscada de que foi alvo, e acabou baleado. Nessa altura, Tupac acusou o rival Notorious BIG e Sean Coombs, mais conhecido como Puff Daddy, como os autores da cilada.

Desse modo, inciou-se uma rivalidade entre os rappers da Costa Leste e da Costa Oeste dos EUA.

O assassinato de Tupac acaba por surgir também no âmbito dessa rivalidade, com gangues pelo meio. Morreu seis dias depois de ter sido baleado devido a hemorragias internas.

Notorious BIG, que morreu após um tiroteio seis meses depois da morte de Shakur, sempre negou qualquer envolvimento no assassinato do rival.

Após a sua morte, foram lançados 11 álbuns em nome de Tupac Shakur que venderam 75 milhões de cópias. Desde então, recebeu inúmeras homenagens.

Em 2017, foi incluído no “Hall of Fame” do Rock & Roll. E, em Junho deste ano, recebeu uma estrela no Passeio da Fama de Hollywood.

Susana Valente, ZAP //

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