Outros tempos da História de Portugal. Peça que vai estrear no Teatro Carlos Alberto começa com um acidente de carro – e acaba como?
Quando a peça começa, alguns espectadores poderão pensar que vão assistir à actuação de Olivia Rodrigo nos Grammy, com a sua drivers license.
Mas aqui a carta de condução autoriza uma viagem a outro período da História de Portugal.
Início dos anos 70. Jovens portugueses tentam sair de Portugal, clandestinamente, mas têm um acidente de carro. Uma criança foge, os outros mais velhos vão acordando e as discussões surgem, o clima aquece, a confusão e o drama instalam-se. Dilemas dominam as conversas.
Este é o retrato de O Salto, a peça de teatro – com tom de sala de cinema – que marca o início da nova temporada no Teatro Carlos Alberto, no Porto.
O foco deste texto original é evidente: a emigração portuguesa nos anos 1960/70.
O espetáculo pretende levantar o véu a um período da história recente que se mantém muitas vezes tabu. E, entre a miséria e o obscurantismo, ou entre a opressão e a ditadura, um tema “escondido” destaca-se: deserção à guerra colonial.
É um fenómeno ainda pouco explorado na História de Portugal, reforça um estudo de Miguel Cardina, do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra.
A análise, que contou com a colaboração de Susana Martins estima que houve cerca de 9 mil desertores. Entre 10 e 20 mil jovens foram refratários e 200 mil faltaram à inspecção.
Um desertor era aquele que abandonava as Forças Armadas já na situação de militar – mas, aqui, o contexto centra-se em quem nem chegou a entrar na guerra, não em quem abandonou a guerra.
É uma “memória fraca”, um assunto proibido – ainda hoje – em muitas famílias portuguesas.
No texto e encenação de Tiago Correia, também há assuntos proibidos durante os diálogos. Os jovens envolvidos no acidente estão vivos, mas o que se segue?
A resposta estará no Teatro Carlos Alberto a partir da próxima quinta-feira, dia 21; estará em cena até ao domingo seguinte, dia 24.
O Salto é uma criação da companhia portuense A Turma em coprodução com o Teatro Nacional São João e o São Luiz – Teatro Municipal.
No elenco estão: Beatriz Maia, Inês Filipe, João Nunes Monteiro, Rafael Ferreira, Sofia Vilariço e André Júlio Teixeira.