Os Republicanos alegam ter provas de que Joe Biden usou a sua influência política para interferir nos negócios do filho, Hunter Biden.
Depois de Donald Trump ter enfrentado duas tentativas de destituição, é agora a vez do seu sucessor passar pelo mesmo processo. Kevin McCarthy, Presidente da Câmara dos Representantes e um dos nomes de peso dos Republicanos, anunciou esta terça-feira que vai avançar com um inquérito formal de impeachment contra Joe Biden, alegando ter descoberto uma “cultura de corrupção” na Casa Branca.
McCarthy garante que não tomou a decisão “de ânimo leve”. “O povo americano merece saber que os responsáveis políticos não estão à venda e que o Governo federal não está a ser usado para encobrir as acções de uma família associada politicamente”, referiu.
O processo vai focar-se nos negócios do filho do chefe de Estado, Hunter Biden, e nas alegações de que o Presidente terá beneficiado ilicitamente. Até agora, as investigações dos Republicanos ainda não forneceram provas concretas e as acusações têm sido ridicularizadas pelos Democratas.
Mesmo assim, um memorando do Comité de Supervisão da Câmara dos Representantes divulgado no início de agosto afirma que as evidências sugeriam que a família Biden e os seus parceiros de negócios tinham recebido mais de 20 milhões de dólares em pagamentos com origem em países como a China, Cazaquistão, Ucrânia, Rússia e Roménia.
As acusações baseiam-se nos registos bancários obtidos pelo comité, mas uma análise do Washington Post descobriu que apenas sete dos 20 milhões em causa foram para membros da família Biden, maioritariamente para Hunter.
Interferência de Joe Biden na Burisma
Outra das alegações é que Joe Biden terá interferido directamente e usado a sua influência política para ajudar o filho nos negócios. Esta acusação baseia-se no testemunho de Devon Archer, ex-parceiro de negócios de Hunter Biden, que afirma que Joe Biden terá falado ao telefone com outros potenciais parceiros de Hunter “talvez 20 vezes” num período de 10 anos.
De acordo com McCarthy, uma destas interferências terá sido a pressão de Biden para que o Governo ucraniano despedisse um procurador que estava a investigar a empresa energética Burisma, onde Hunter Biden fazia parte da direcção. O Presidente da Câmara dos Representantes acusa ainda a equipa de Joe Biden de ter combinado com Hunter as respostas para dar aos jornalistas sobre o caso.
Um documento do FBI que detalhava esta alegação refere que o ex-CEO da Burisma, Mykola Zlochevsky, teria dito que pagou 10 milhões de dólares a Joe e Hunter Biden. Em 2019, ainda durante o mandato de Donald Trump, o Departamento de Justiça investigou este caso durante oito meses, mas acabou por deixar cair o processo devido à falta de provas. Zlochevsky também negou ter tido contacto com Joe Biden ou qualquer um dos seus funcionários.
Archer também refere que os telefonemas que testemunhou entre Biden e os parceiros de Hunter eram “conversas casuais” e que nunca foram abordados detalhes das negociações comerciais.
Os Republicanos acreditam ainda de que o Departamento de Justiça, já durante a administração Biden, terá interferido numa investigação fiscal a Hunter Biden, de acordo com o testemunho de dois agentes das Finanças.
“O tiro pode sair pela culatra”
A falta de provas concretas é um sinal de que a decisão de McCarthy pode ter outros propósitos. No meio de muita contestação interna por parte do Freedom Caucus e congressistas como Marjorie Taylor Greene, o Presidente da Câmara dos Representantes pode ter avançado com o processo de destituição para tentar acalmar as críticas vinda do flanco mais radical do seu próprio partido
“McCarthy teve que fazer isto para manter o seu emprego”, refere um ex-alto membro do Partido Republicano no Congresso ao Financial Times.
Mesmo assim, a investigação pode afectar as esperanças de reeleição de Biden, com a audiências, depoimentos e votações a ameaçarem assombrar a sua campanha.
“Não há provas de nada quem liguem o Presidente ao seu abuso de poder. Mas isso pode prejudicá-lo e esse é o ponto: as audiências podem ajudar a moldar a opinião pública, energizar o Partido Republicano e criar preocupação no eleitorado“, defende Julian Zelizer, professor de história política na Universidade de Princeton.
Uma recente sondagem da CNN indica que esta estratégia pode já estar a funcionar, dado que 61% dos inquiridos acreditam que Biden se intrometeu nos negócios do filho e 42% acham que a conduta do Presidente foi ilegal.
Mas há quem sugira um cenário contrário. Em vez de ser prejudicado pelo seu processo de destituição, Bill Clinton beneficiou politicamente, tendo inclusive um desempenho melhor do que o esperado nas eleições intercalares desse ano.
Newt Gingrich, ex-Presidente da Câmara dos Representantes que avançou com impeachment deClinton há 25 anos, avisa que se os Republicanos “agirem demasiado depressa, o tiro poderá sair pela culatra”.