A história do país esquecido que existiu entre Portugal e Espanha durante 700 anos

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Durante mais de 700 anos, o Couto Misto deu que falar pelos seus privilégios, pelo seu governo democrático e por ser um refúgio para criminosos.

Na confluência de Portugal e Espanha, já existiu um microestado que muitos de nós nunca ouvimos falar. Trata-se de Couto Misto, um pequeno país independente que foi um enigma geográfico durante 800 anos, espalhando-se ao longo de 27 km² na fronteira entre Montalegre, Portugal, e a província de Ourense, Espanha.

Este microestado simbolizava a união de duas culturas, onde os residentes falavam tanto português quanto espanhol, e celebravam fervorosamente as tradições e histórias de ambas as nações.

A origem do Couto Misto é envolta em mistério. Os documentos escritos referem-se ao país a partir de 1147, mas há quem acredite que possa ter sido estabelecido antes, possivelmente coincidindo com a independência de Portugal do Reino de Leão, em 1143, explica o Aventuras na História.

As narrativas divergem, desde a sua criação legal por parte do rei português D. Sancho I, ser supostamente um refúgio para criminosos e até lendas que falam de uma princesa grávida que, após ser salva pelos habitantes durante um nevão, ofereceu a autonomia e privilégios ao território.

Viver no Couto Misto era um privilégio em si. No dia do seu casamento, os residentes podiam escolher a sua nacionalidade – portuguesa, espanhola, ambas ou mesmo nenhuma, o que, por consequência, poderia isentá-los do serviço militar. Também desfrutavam de benefícios fiscais, já que o microestado não estava submetido a nenhum imposto real.

A sua fama enquanto um porto de abrigo para criminosos terá tido origem no seu famoso “Caminho do Privilégio“, uma rota que ligava várias localidades e onde o transporte de mercadorias, mesmo contrabandeadas, era permitido.

Qualquer pessoa poderia passar por esta estrada e as autoridades não a poderiam prender ou perseguir, mesmo que suspeitassem que tinha produtos ilegais. O microestado também oferecia asilo a qualquer pessoa, mesmo que fosse criminosa, e não podia ser presa ou privada das suas riquezas e direitos dentro do território.

O sistema de Governo do Couto Misto era notavelmente democrático. Era governado por um juiz, eleito pelas famílias locais, e qualquer decisão tomada era deliberada em praça pública com os moradores. Os poderes dos juízes também eram rapidamente revogados caso houvesse suspeitas de desvios ou abusos.

Esta forma peculiar de governar gerou um mal-estar entre as famílias mais ricas e poderosas, tanto de Portugal como de Espanha, que frequentemente questionavam a legitimidade do Couto Misto.

A contestação acabou por ditar o fim deste microestado, que em 1864 foi dissolvido, com o Tratado de Lisboa. O território foi então dividido: Rubiás, Meaus e Santiago passaram a integrar Espanha, enquanto que uma porção desabitada do Couto e as localidades adjacentes foram anexadas a Portugal.

Hoje, a antiga região do Couto Misto, particularmente na província de Ourense, serve como uma janela para o passado, com trilhos, atrações e artefactos recém-descobertos, convidando todos a mergulhar neste capítulo fascinante da história da Península Ibérica.

Adriana Peixoto, ZAP //

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9 Comments

  1. O Português continua a ser maltratado. “Tanto de Portugal e de Espanha” é errado, deveria escrever “tanto de Portugal COMO de Espanha”, ou então “quer de Portugal quer de Espanha”.

  2. Do lado da Galiza o que se falava/fala é galego.
    É assim que no Couto Misto a lingua era o galego-portugués ou quer galego, quer português.

  3. À época, não se falaria nem Português – que não existia – nem Espanhol – que não existe!
    Quanto muito – à época – falar-se-ia “Galaico- Português”!

  4. OLIVVENÇA/COUTO MISTO Conteúdos interessantes. Desconhecia o segundo. Final da história: PORTUGAL perde os dois conteúdos e não demora perder o restante do CONTEÚDO LUSITANO. É o que pensa joaoluizgondimaguiargondim.joao

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