A pesquisa revelou que o noroeste da Gronelândia não teve gelo durante o Estágio Isotópico Marinho 11, o que pode servir de alerta para o que as alterações climáticas causarão na região no futuro.
Uma análise a amostras de sedimentos recentemente encontradas na base do núcleo de gelo de Camp Century, no noroeste da Gronelândia, revelam informações revolucionárias sobre a história do nosso planeta. O estudo foi publicado na Science.
Os sedimentos indicam que esta parte da Gronelândia estava livre de gelo durante o período interglacial do Estágio Isotópico Marinho (MIS) 11 – um período conhecido por ter alguns dos volumes de gelo globais mais baixos jamais registados.
As potenciais implicações desta descoberta são significativas. A ausência de gelo durante o MIS 11 indica que a calota de gelo da Gronelândia pode ter adicionado mais de 1,4 metros ao nível médio das águas do mar durante este período.
O que é preocupante para os cientistas e decisores políticos é que as temperaturas globais durante o MIS 11 são semelhantes às previstas para um futuro próximo devido às alterações climáticas induzidas pelo Homem, podendo este estudo dar-nos uma visão sobre aquilo que nos espera.
Historicamente, os períodos interglaciais – caracterizados por temperaturas globais mais elevadas e diminuição da cobertura de gelo – oferecem uma visão sobre como as calotas de gelo da Terra podem reagir ao aquecimento atual.
Contudo, encontrar os registos sedimentares de regiões que estavam livres de gelo durante estes períodos continua a ser um desafio, principalmente porque estas áreas estão agora cobertas de gelo, explica o SciTech Daily.
Este desafio torna as descobertas do núcleo de gelo de Camp Century inestimáveis. Os cientistas encontraram sedimentos subglaciais, que, após análise, sugeriram que a região estava desprovida de gelo durante o período Pleistoceno.
Através da datação por luminescência e dados de nuclídeos cósmicos, os autores descobriram ainda que os sedimentos foram depositados por água que fluía num ambiente livre de gelo durante o período interglacial MIS 11, aproximadamente há 416 mil anos.
À luz destas descobertas, os autores supõem que, se a Gronelândia testemunhou uma perda significativa de gelo devido ao calor moderado que durou 29 mil anos, então o rápido e prolongado aquecimento induzido pelo Homem hoje pode levar a um profundo derretimento da calota de gelo da Gronelândia nos próximos séculos.
Tal evento não só elevaria significativamente os níveis globais do mar, mas também introduziria ciclos de retroalimentação climática adicionais, possivelmente catastróficos.