“Costumava cheirar a cocó”, “por favor, preciso de ajuda”, “inexplicável”. Estas são alguns dos testemunhos das vítimas da PATM — uma misteriosa (e malcheirosa) condição.
Não há dúvida que todos de nós conhecemos alguém com um odor corporal um pouco mais intenso do que o normal. Nos casos em que essa intensidade reflete odores insuportáveis, determinados tipos de bactérias presentes na pele derrubam os lípidos e aminoacidos do suor e produzem substâncias que podem incomodar os narizes dos outros.
Enquanto muitas dessas pessoas não dão conta do seu odor intenso, outras convencem-se que essas bactérias são capazes de ter efeitos para além do mau cheiro — há quem viva convencido de que os gases emitidos a partir da sua pele causam reações alérgicas graves em pessoas em seu redor.
“Pessoas alérgicas a mim”
Sem nome científico, a condição começou a ser apelidada de PATM — People Allergic to Me (em português, “pessoas alérgicas a mim”).
As vítimas da misteriosa condição, que até hoje não tem uma explicação, alegam que a mesma provoca espirros, tosse e comichão às pessoas que estão por perto, além do incómodo constante.
“Costumava cheirar a cocó”, “por favor, preciso de ajuda”, “inexplicável”. Estas são algumas das queixas que saltam à vista no subreddit da doença, uma comunidade no Reddit que conta com 160 membros. “Algumas pessoas chegaram a fugir de mim”, confessa uma vítima de PATM: “o odor devia ser mau a esse ponto”, recorda. “Eu não sou doente mas toda a gente à minha volta fica doente quando se encontra comigo… sinto-me sozinho e estou a afastar-me da sociedade”, disse outro paciente.
Pouco se sabe e poucos estudos existem acerca da misteriosa condição, mas as investigações disponíveis apontam para que a doença seja uma consequência de depressão, ansiedade social ou transtorno dismórfico, mas sem conclusões concretas. Agora, um novo estudo pode vir a mudar radicalmente estas crenças.
Mais “compostos malcheirosos” do que o normal
Num estudo recente, investigadores compararam os gases emitidos da pele de 20 pessoas que pensam ser portadores da condição a outras 24 “saudáveis”.
As pessoas com “pessoas alérgicas a mim” emitiram muito maiores quantidades de variados odores ofensivos, que eventualmente podem provocar efeitos de saúde adversos.
Mais concretamente, as pessoas queixosas emitiram cinco vezes mais metanotiol, um composto caracterizado pelo seu cheiro a lixo apodrecido, 50 vezes mais acetona, seis vezes mais hexanal e 40 vezes mais tolueno, um conhecido irritante.
A exposição a este último composto no ar interior desencadeia sintomas como “irritação na pele, olhos, nariz e garganta, e sintomas psiconeuróticos, como tonturas, náuseas e dores de cabeça”, observaram os cientistas. No entanto, repararam também que a concentração média de tolueno emitida pelos sujeitos “alérgicos a mim” era muito inferior à quantidade permitida pelas diretrizes japonesas (onde o estudo foi realizado, segundo o Big Think) para a qualidade do ar interior.
Curiosamente, os investigadores descartaram o suor excessivo como causa da doença, uma vez que os visados não mostraram sinais de transpiração relevantes em comparação com os participantes “saudáveis”.
Embora o estudo recente não revele uma cura ou causa para aqueles que sofrem de “alérgicos a mim” valida, pelo menos, as experiências dos afetados, uma vez que se verifica, efetivamente, que há alguma coisa de errado na sua pele.