Descoberta intrigante associa o declínio cognitivo à saúde dos seus dentes

ZAP // StockSnap, Aleksander / Pixabay

Desde a infância que nos dizem que devemos escovar os dentes para manter a saúde oral. No entanto, parece que higiene dentária não afeta apenas os nossos dentes e gengivas, mas também a saúde do nosso cérebro.

Investigadores do Japão descobriram uma intrigante relação entre a perda de dentes, a doença gengival e uma região do cérebro responsável pela memória e pelo desenvolvimento de doença de Alzheimer.

Surpreendentemente, os resultados sugerem que, em alguns casos, pode ser melhor perder dentes, ao invés de os preservar, de modo a assegurar a saúde das gengivas e do cérebro.

“Estes resultados destacam a importância de preservar a saúde dos dentes e não apenas de os manter”, afirma o dentista geriátrico Satoshi Yamaguchi, investigador da Universidade de Tohoku.

Durante este estudo, cujos resultados foram apresentados num artigo publicado a semana passada na Neurology, foram acompanhadas 172 pessoas com 55 anos ou mais, ao longo de 4 anos.

Todos os participantes realizaram testes de memória no início do estudo bem como outros exames de saúde geral. Os investigadores recolheram dados sobre o histórico médico de todos os participantes e cruzaram os resultados.

Um dos pré-requisitos era que os participantes não poderiam apresentar problemas de memória no início do estudo. Através de Ressonância Magnética, a equipa liderada por Yamaguchi conseguiu determinar o volume do hipocampo no início da investigação e após 4 anos.

Os dentistas contaram ainda o número de dentes de cada participante e examinaram a profundidade de sondagem periodontal, que permite analisar a gengiva à volta de cada dente e aferir sobre uma possível doença gengival.

“A perda de dentes e a doença gengival, que acontece devido à inflamação do tecido à volta destes com consequências na integridade dos dentes e gengivas, são muito comuns”, explica Yamaguchi. “Neste sentido, avaliar uma possível ligação com a demência mental é extremamente importante.”

Uma sondagem periodontal saudável encontra-se entre 1 e 3 milímetros. Se existirem sondagens periodontais com 3 a 4 milímetros em múltiplos pontos, estamos perante um quadre de doença gengival leve.

Já uma doença gengival grave envolve uma sondagem periodontal com 5 a 6 milímetros em vários pontos. Nesta análise foi considerada a média de sondagens periodontais para cada participante no início e fim do estudo.

Os investigadores descobriram que o número de dentes e a extensão da doença gengival estavam relacionados com alterações no hipocampo esquerdo do cérebro. Esta é, também, a região do cérebro que sofre uma perda de volume progressivo durante a doença de Alzheimer.

De acordo com os resultados, pessoas com doença gengival leve e menos dentes sofrem uma maior diminuição do hipocampo. Cada dente a menos aumenta a taxa de encolhimento do cérebro numa quantidade quase igual a um ano adicional de envelhecimento cerebral.

Por outro lado, nos participantes com doença gengival grave, ter mais dentes foi associado a uma taxa mais rápida de encolhimento do cérebro na mesmo região.

O aumento no encolhimento do hipocampo esquerdo causado por mais um dente foi equivalente a 1.3 anos de envelhecimento cerebral. Estes resultados tiveram em consideração a diferença de idades dos participantes.

“Esta descoberta sugere que a retenção de dentes em casos de doença gengival grave pode estar associada a atrofia cerebral”, afirma o autor do estudo, publicado na revista Neurology. “Controlar a progressão da doença gengival através de visitas regulares ao dentista é crucial.”

Esta investigação envolveu um número reduzido de pessoas e todas elas pertencem a uma região do Japão. É importante desenvolver novos estudos, com um conjunto alargado e diverso de participantes, de forma a poder generalizar os resultados obtidos.

No entanto, não deixa de ser importante frisar que a saúde oral é importante não apenas para mastigar alimentos, mas também para manter a saúde do nosso cérebro.

“O nosso estudo descobriu que a perda de dentes e a doença gengival podem desempenhar um papel na área do cérebro que controla o pensamento e a memória, dando às pessoas outro motivo para cuidarem melhor de seus dentes”, diz Yamaguchi.

Patrícia Carvalho, ZAP //

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