Podem as galinhas ser a chave para recriarmos dinossauros?

Há cientistas a explorar como é que podem usar ADN de galinha para recriar uma espécie de dinossauro. Será isto possível?

As galinhas partilham um antepassado em comum com os dinossauros. Por muito que as duas criaturas sejam diferentes, este é um dado adquirido para os cientistas. Aliás, já desde 1869 que se falava de pássaros e dinossauros serem parentes, depois de Thomas Huxley ter encontrado traços aviários no crânio de dinossauros.

O ADN de galinha contém restos dos seus antepassados dinossauros. Portanto, será possível recriar dinossauros através de ADN de galinha?

Nos últimos tempos são vários os exemplos de animais extintos que os cientistas estão a tentar trazer de volta. Isto tecnicamente falando, já que os animais recriados não seriam cópias exatas dos animais que outrora existiam, mas sim réplicas geneticamente aproximadas.

Em 2021, uma empresa anunciou que ia avançar com um projeto para “desextinguir” o mamute-lanoso. A ideia dos cientistas responsáveis pelo projeto consiste em criar um híbrido elefante-mamute. Para que isso seja possível, estão a ser criados em laboratório embriões que contenham ADN de mamute.

Paralelamente, há mais projetos que tentam trazer outros animais de volta ao planeta Terra. Um grupo de cientistas da Universidade de Melbourne está a tentar trazer o tigre-da-Tasmânia de volta.

Outra equipa de cientistas está a tentar trazer de volta à vida o auroque, um animal que é o ancestral de todo o gado e que foi levado à extinção há quase 400 anos. Os próprios investigadores realçaram que ainda que não estejam nas dimensões dos seus antepassados, os rebanhos criados assemelham-se em grande parte aos auroques ancestrais.

Mais recentemente, uma empresa e uma equipa de cientistas estão a tentar trazer o icónico dodó de volta, após ter sido extinto há quase 400 anos.

Jurassic Park da vida real?

Então, o que é que impede os cientistas de fazerem o mesmo para dinossauros?

O ADN é muito mais fácil de encontrar nas “partes moles” de um animal – os seus órgãos, vasos sanguíneos, nervos, músculos e gordura. O problema é que as partes moles de um dinossauro desapareceram há muito tempo. Elas decompuseram-se ou foram comidas por outro dinossauro.

Como tal, os cientistas têm um grande problema ao tentar encontrar ADN em fósseis de dinossauros, explica William Ausich, professor de Paleontologia na Ohio State University, num artigo publicado no The Conversation.

As moléculas de ADN eventualmente “estragam-se”. Estudos recentes mostram que o ADN desintegra-se após cerca de 7 milhões de anos. Parecem uma boa notícia, mas não é o caso. O último dinossauro morreu há mais de 65 milhões de anos.

E mesmo imaginando que, no futuro, os cientistas encontrem fragmentos de ADN de dinossauro, ainda assim não será possível recriar um dinossauro inteiro. Os investigadores precisariam de combinar fragmentos com o ADN de um animal moderno para criar um organismo vivo.

Mas e com a ajuda de galinhas?

“Se os cientistas conseguirem controlar a expressão de alguns genes e basicamente silenciar o desenvolvimento específico da galinha, eles podem essencialmente descobrir os genes remanescentes dos dinossauros ancestrais e ver o que cresce durante esse desenvolvimento alterado da galinha”, lê-se na revista Nature.

As aves têm a capacidade de desenvolver dentes, escamas, caudas e até mãos. Olhando para um embrião de galinha através de um microscópio é possível ver que ele passa por um estágio de desenvolvimento em que tem uma cauda semelhante a um dinossauro. Eventualmente há um clique e puff, a cauda interrompe o seu desenvolvimento.

Atualmente, os cientistas podem usar técnicas de genética molecular para perguntar quais genes mudaram e causaram o desaparecimento da cauda. Percebendo detalhes como este, no futuro, podem mesmo ser capazes de fazer as alterações necessárias para que a galinha se transforme numa espécie de dinossauro.

Em 2015, o mítico paleontólogo Alan Grant, que serviu de inspiração para o protagonista de Jurassic Park, começou a trabalhar com uma equipa de cientistas que acredita conseguir “reviver” os dinossauros nos próximos cinco a dez anos. O prazo de cinco anos já lá vai e o de dez não está muito distante.

Os cientistas de Harvard e Yale estão precisamente focados na galinha. “É claro que os pássaros são dinossauros”, disse Jack Horner, que integra a equipa, em declarações à revista People. “Então, só precisamos de consertá-los para que se pareçam um pouco mais com um dinossauro”.

“Na verdade, as asas e as mãos não são tão difíceis”, disse Horner, acrescentando que um Galinhossaurus – como chama à criação – está a caminho de se tornar realidade. “A cauda é o maior projeto”, sublinhou. “Mas, por outro lado, conseguimos fazer algumas coisas recentemente que nos deram esperança de que não demore muito”.

Daniel Costa, ZAP //

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