O paradoxo da “desextinção”: Reviver animais extintos é impossível, mas não interessa

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Trazer animais extintos de volta, exatamente como eles eram antes, é impossível, mas isso não importa para os investigadores.

Ultimamente, vários projetos têm-se focado em trazer de volta animais extintos. Se isso é tecnicamente possível ou não, pouco importa, destaca a Quanta Magazine.

Um dos projetos mais mediáticos é o do mamute-lanoso. Investigadores norte-americanos estão a avançar com o plano de trazer de volta ao Ártico o mamute-lanoso.

No entanto, aquilo que os cientistas estão a tentar fazer não é trazer uma réplica exata de um mamute-lanoso como era há dez mil anos, antes da sua extinção.

A ideia dos cientistas responsáveis pelo projeto consiste em criar um híbrido elefante-mamute. Para que isso seja possível, vão ser criados em laboratório embriões que contenham ADN de mamute.

Um artigo científico publicado em março na revista científica Current Biology abordou precisamente isto. Os autores querem trazer de volta o rato da Ilha de Natal, extinto há quase 120 anos. As suas descobertas dão informações sobre as limitações da “desextinção” em todas as espécies.

O trabalho de “desextinção” de uma espécie é fundamentalmente definido pelo que é desconhecido acerca do genoma da espécie.

Ao sequenciar o genoma de uma espécie extinta, os cientistas enfrentam o desafio de trabalhar com ADN degradado, que não produz toda a informação genética necessária para reconstruir um genoma completo.

Apesar dos melhores esforços, os cientistas não conseguiram recuperar quase 5% do genoma do animal. Muitos dos genes ausentes estavam relacionados com a imunidade e o olfato, duas funções altamente importantes para o animal.

“Não são apenas as coisas irrelevantes que não se vão recuperar”, disse o autor principal do estudo, Tom Gilbert. “O resultado não vai ser nada parecido com o que ficou extinto”.

“Com a tecnologia atual, pode ser completamente impossível recuperar a sequência completa, e por isso é impossível gerar uma réplica perfeita do rato da Ilha de Natal”, explicou Gilbert.

Paralelamente, há mais projetos que tentam trazer outros animais de volta ao planeta Terra. Um grupo de cientistas da Universidade de Melbourne está a tentar trazer o tigre-da-Tasmânia de volta.

Outra equipa de cientistas está a tentar trazer de volta à vida o auroque, um animal que é o ancestral de todo o gado e que foi levado à extinção há quase 400 anos. Os próprios investigadores realçaram que ainda que não estejam nas dimensões dos seus antepassados, os rebanhos criados assemelham-se em grande parte aos auroques ancestrais.

“Conhecemos o ADN deste animal e podemos compará-lo com o ADN do gado moderno, o que pode produzir alguns resultados bastante surpreendentes”, disse ainda Claus Kropp, arqueólogo que lidera o Projeto Auerrind. “A distância dos auroques para o gado Pajuna de Espanha é de apenas 0,12%, por isso há mais de 98% de sobreposição”.

Beth Shapiro, professora de ecologia e biologia evolutiva da Universidade da Califórnia, diz que “o maior equívoco sobre a desextinção é que é possível”.

“Você nunca pode trazer de volta algo que está extinto”, diz Ben Novak, líder da Revive & Restore, uma das organizações sem fins lucrativos de vanguarda no esforço da desextinção. Mas para Novak e a maioria dos outros investigadores, criar uma cópia aproximada em vez da coisa real não é um problema – é o objetivo.

Os investigadores não querem recriar um mítico animal apenas para colocá-lo em exposição no jardim zoológico. Os especialistas visam criar versões aproximadas para fins educacionais ou de conservação.

Chegar perto de conseguir todo o código genético de uma espécie extinta pode muitas vezes ser impossível. Ainda que os esforços de engenharia genética e reprodução seletiva sejam bem-sucedidos, só podem criar uma espécie de híbrido em vez de uma espécie puramente ressuscitada.

Daniel Costa, ZAP //

1 Comment

  1. Erro de contas? Se a diferença dos Pujana para o Auroque é 0.12% então a sobreposição é de 99,88% e não 98% …

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