Os dinossauros desapareceram há 65 milhões de anos, os mamutes há 4.000 anos, e o rato da Ilha de Natal, na Austrália, há 119 anos.
Desde que se tornou um conceito popular nos anos 90, os esforços de “desextinção” centraram-se em grandes animais, explica o Phys Org.
Mas, num novo estudo apresentado num artigo publicado a 9 de março na Current Biology, uma equipa de paleogeneticistas virou a sua atenção para o extinto rato da Ilha de Natal, ou Rattus macleari. E as suas descobertas dão informações sobre as limitações da “desextinção” em todas as espécies.
O trabalho de “desextinção” de uma espécie é fundamentalmente definido pelo que é desconhecido acerca do genoma da espécie.
Ao sequenciar o genoma de uma espécie extinta, os cientistas enfrentam o desafio de trabalhar com ADN degradado, que não produz toda a informação genética necessária para reconstruir um genoma completo.
Com o rato da Ilha de Natal, que se crê ter sido extinto devido a doenças trazidas em navios europeus, o geneticista Tom Gilbert, da Universidade de Copenhaga, e os colegas investigadores tiveram sorte.
Não só a equipa conseguiu obter quase todo o genoma do roedor, como o animal extinto também divergia de outras espécies de Rattus recentes, e partilhava cerca de 95% do seu genoma com um rato vivo, o rato castanho da Noruega.
“Foi um modelo de teste bastante interessante”, sublinhou Gilbert. “É o caso perfeito porque quando se sequencia o genoma, é preciso compará-lo a uma referência moderna realmente boa”.
Depois de o ADN ter sido sequenciado o melhor possível e o genoma ser comparado com o genoma de referência das espécies vivas, os cientistas identificam as partes dos genomas que não correspondiam e, em teoria, utilizariam a tecnologia CRISPR para editar o ADN das espécies vivas, de modo a corresponder ao da espécie extinta.
O cenário do rato-castanho-da-Ilha-de-Natal é um caso de teste particularmente bom, porque a divergência evolutiva é semelhante à do elefante e do mamute.
Embora a sequência do genoma do rato da Ilha de Natal tenha tido maioritariamente sucesso, faltaram alguns genes-chave.
Estes genes estavam relacionados com o olfato, o que significa que um rato da Ilha de Natal ressuscitado seria provavelmente incapaz de processar os cheiros da forma como o teria feito originalmente.
“Com a tecnologia atual, pode ser completamente impossível recuperar a sequência completa, e por isso é impossível gerar uma réplica perfeita do rato da Ilha de Natal”, explica Gilbert.
“É muito claro que nunca conseguiremos obter toda a informação para criar uma forma de recuperação perfeita de uma espécie extinta”, acrescenta.
“Haverá sempre algum tipo de híbrido“. Embora uma réplica nunca seja perfeita, o principal objetivo é que os cientistas sejam capazes de editar para o ADN que torna o animal extinto diferente do animal vivo.
Gilbert realça que para fazer um mamute ecologicamente funcional, por exemplo, poderia ser suficiente editar o ADN do elefante para tornar o animal peludo e capaz de viver no frio.
“Se está a fazer um elefante felpudo estranho para viver num jardim zoológico, provavelmente não importa se lhe faltam alguns genes comportamentais“, refere o investigador. “Mas isso levanta uma série de questões éticas”.
Gilbert planeia tentar fazer a edição genética real em ratos, mas gostaria de começar com espécies que ainda estão vivas.
O investigador pretende começar por fazer a edição CRISPR num genoma de rato preto para o mudar para um rato castanho norueguês, antes de tentar ressuscitar o rato da Ilha de Natal.
“Penso que é uma ideia fascinante na tecnologia, mas temos de nos interrogar se essa será a melhor utilização do dinheiro, em oposição a manter vivas os animais que ainda aqui estão”, conclui Gilbert.