Apesar da frente unida em pública, há sinais de pequenas divergências nos bastidores entre Washington e Kiev sobre o rumo da guerra.
Os Estados Unidos têm sido um dos principais aliados da Ucrânia na guerra contra a Rússia e Joe Biden chegou até a prometer apoiar a resistência de Kiev “por quanto tempo for necessário”.
Mas pouco mais de um ano depois do início do conflito, já há sinais de pequenas divergências políticas entre Washington e Kiev e sinais de falta de estratégias a longo-prazo num conflito sem fim à vista, relata o Politico.
“A administração não tem um objectivo político claro. Será arrastar isto, que é precisamente o que Vladimir Putin quer? Será que é dar-lhes apenas o suficiente para sobreviver e não para ganhar? Não vejo uma política para a vitória agora, e se não temos isso, o que é que estamos a fazer?”, aponta o congressista Republicanoo Michael McCaul, que também preside ao comité de Negócios Estrangeiros na Câmara dos Representantes.
Publicamente, os dois países parecem estar em sintonia absoluta — que ficou clara na visita surpresa de Biden à Ucrânia em Fevereiro. Mas nos bastidores, há relatos de uma crescente tensão sobre vários pontos.
Um dos exemplos mais recentes da divergência entre as chefias ucranianas e norte-americanas é a resistência em Bakhmut, que se tornou o centro da guerra nas últimas semanas. A Ucrânia tem apostado tudo e recusa abandonar a cidade, mas os EUA temem que isto possa comprometer uma possível contra-ofensiva na Primavera.
“Todos os dias na defesa da cidade permitem-nos ganhar tempo para preparar as reversas e preparar as operações ofensivas futuras”, defendeu o coronel Oleksandr Syrskyi, que comanda as tropas no solo na Ucrânia.
Washington, por sua vez, não vê qual é o valor estratégico de Bakhmut. “Certamente não quero desvalorizar o trabalho tremendo dos soldados e líderes ucranianos na defesa de Bakhmut, mas acho que tem mais valor simbólico do que estratégico e operacional”, comentou o Secretário da Defesa, Lloyd Austin.
A sabotagem ao gasoduto Nord Stream, que abastece a Europa de gás russo, também tem gerado conflitos, especialmente depois de um relatório de inteligência dos EUA ter sugerido que um grupo ucraniano terá sido o responsável pelas fugas — apesar de salvaguardar o desconhecimento de Zelenskyy e do seu Governo do plano.
O fornecimento de armamento é outro ponto de discórdia. Apesar de os Estados Unidos serem o país que mais armas tem dado à Ucrânia, há descontentamento na Casa Branca devido aos constantes pedidos de mais ajuda por parte de Zelenskyy e também divisões sobre que armas devem ser enviadas.
A Ucrânia tem repetidamente pedido o envio dos mísseis de longo alcance ATACMS, pedido esse que os EUA têm rejeitado devido a receios de que a Kiev os possa usar para um ataque de grande escala em alvos longínquos no território russo, o que pode por sua vez desencadear uma resposta nuclear de Moscovo.
Uma notícia recente do The New York Times também deu conta de um bloqueio do Pentágono à partilha de um relatório com possíveis provas de crimes de guerra da Rússia com o Tribunal Penal Internacional, o que foi mais uma machadada na união entre os EUA e a Ucrânia.
A reconquista da Crimeia, que foi anexada pela Rússia em 2014, também estará fora de questão para os EUA, apesar da insistência de Zelenskyy em recuperar a península. O Secretário de Estado, Antony Blinken, já sinalizou a Kiev que a recaptura da Crimeia seria uma linha vermelha para Putin, possivelmente gerando uma escalada dramática do Kremlin.
Apoio até quando?
Apesar das promessas de apoio até ao fim da guerra, já há debates internos nos Estados Unidos sobre até quando é que o financiamento de grande escala à Ucrânia vai continuar, especialmente numa altura em que a economia mundial está à beira de entrar em recessão.
A união bipartidária em torno da Ucrânia também já mostra brechas e há cada vez mais Republicanos a questionar se o envolvimento na guerra é do interesse dos Estados Unidos.
Se as vozes dissidentes no partido Republicano começaram por ser da facção mais radical do partido, como a congressista Marjorie Taylor Greene ou o Senador J.D. Vance, há agora rostos mais influentes a pôr em causa o apoio sem fim aparente à Ucrânia.
Kevin McCarthy, presidente da Câmara dos Representantes, já rejeitou o convite de Zelenskyy para ir a Kiev e afirmou que os EUA não podem “dar um cheque em branco” à Ucrânia.
O Governador da Flórida — e candidato quase certo à Casa Branca — Ron DeSantis, que se tem afirmado como um dos principais políticos Republicanos a nível nacional, também descreveu recentemente a guerra na Ucrânia como uma “disputa territorial” que não deve ser considerada “um problema nacional vital”, pelo que os EUA não devem “envolver-se mais” no conflito.
DeSantis também acusou Biden de passar “practicamente um cheque em branco” à Ucrânia. “Sem dúvida, a paz deve ser o objectivo. Os EUA não devem dar assistência que exija o envio de tropas americanas ou que permita que a Ucrânia avança com operações ofensivas além das suas fronteiras”, defende.
Donald Trump também já criticou o envolvimento de Washington no conflito, considerando que a guerra não é de interesse vital para os EUA, “mas é para a Europa, e é por isso que a Europa devia estar a pagar muito mais do que nós”.
Todas estas críticas podem ser o início de uma onda de pressão política contra Biden para deixar de priorizar o apoio à Ucrânia, numa altura em que uma sondagem do The Washington Post já concluiu que 50% dos eleitores Republicanos acreditam que Biden está a investir demasiado no apoio a Kiev.
Trump é um deficiente funcional. Para este arrogante mimado a guerra na Ucrânia é um mau negócio para os EUA. Por muito inacreditável que seja, não falta na maior democracia do mundo, loucos que o apoiam. Que se f… Trump, que se f… Putin.