As escolas “anti-woke” na Flórida podem levar Ron DeSantis até à Casa Branca

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Gage Skidmore / Flickr

As políticas de educação polémicas de Ron DeSantis têm elevado o seu perfil nacional e inspirado cópias noutros estados Republicanos — e podem mesmo ser o trunfo de que o Governador precisa para a sua muito provável candidatura à Presidência dos Estados Unidos.

Têm sido dias atribulados para Ron DeSantis. Com a especulação crescente de que o anúncio da sua candidatura presidencial está para breve, o Governador da Flórida tem estado nas notícias pela sua postura cada vez mais dura na sua guerra contra a “cultura woke”, nas palavras do próprio.

No seu discurso após ser reeleito, em Novembro, DeSantis disse logo ao que vinha. “Nós refutamos a ideologia woke. Combatemos o woke nos órgãos legislativos, combatemos o woke nas escolas, combatemos o woke nas empresas. Nunca, jamais, nos renderemos à multidão woke. É na Flórida que o woke vai morrer”, garantiu.

As escolas estão a tornar-se um dos principais campos de batalha do “Governador da Educação”, como ficou conhecido. Uma das suas armas principais é o Parents Rights in Education Act — que os críticos apelidaram como “Lei Não Digas Gay” —, que entrou em vigor em Julho e proíbe os professores das escolas públicas da Flórida de abordar temas de educação sexual ou identidade de género nas aulas.

Para os seus defensores, esta lei tem como objectivo dar aos pais o poder de decidir aquilo que os filhos aprendem. “É algo inapropriado em qualquer lugar, mas especialmente na Flórida. Na Flórida, os pais têm todo o direito de participar na educação dos seus filhos”, argumenta DeSantis.

Apesar de estar focado principalmente nos 12 anos de escolaridade regular, DeSantis já acabou com o sistema de quotas no Ensino Superior e tem planos para também controlar os conteúdos ensinados nas universidades, com uma proposta de lei que está actualmente a ser debatida e pode entrar em vigor em Julho. Um dos principais alvos deste pacote será a New College of Florida, uma das principais universidades de artes liberais nos EUA.

Antes disto, DeSantis baniu mais de 40% dos manuais de Matemática que as editoras submeteram para revisão por estarem alegadamente a impor uma “doutrina” às crianças.

 

A esta lei, juntou-se a recente proibição em Fevereiro de um novo currículo que inclui uma disciplina de Estudos Afro-Americanos no secundário, que está a gerar uma onda de contestação e vai ser desafiada em tribunal.

Há ainda o Stop WOKE Act, que proíbe as empresas e as escolas de abordar questões sobre o racismo estrutural ou temas que façam os estudantes e funcionários “sentir culpa, angústia, ou qualquer forma de stress psicológico” devido à sua raça, sexo ou nacionalidade.

Todas estas restrições levaram a que se instaurasse um clima de medo entre os professores, que receiam ser detidos ou multados por alguma coisa que digam durante as aulas e que já estão a esconder os livros “woke” dos alunos.

As leis têm agravado ainda mais a falta de professores no estado. Quando DeSantis tomou posse em 2019, existiam 2217 vagas por preencher para professores. No início de Janeiro, este número disparou para 5300.

 

Perante a contestação dos professores universitários — com alguns até a descrever estas restrições como “fascistas” — o estado argumenta que os docentes das instituições públicas no estado não têm direito à liberdade de expressão e não estão protegidos pela Primeira Emend quando dão aulas, relata o The Chronicle.

A população LGBT também tem sido um dos alvos. DeSantis já avançou com uma lei que proíbe as atletas transgénero de participar nas equipas desportivas femininas nas escolas públicas e o estado quer agora acabar com o apoio das universidades e das empresas a pessoas trans — podendo até obrigar os empregadores que ofereceram seguros de saúde que abrangem cirurgias de reafirmação sexual a pagar também por cirurgias de “destransição”.

A Flórida está também a enviar inquéritos às universidades a exigir que indiquem quantos estudantes beneficiaram destes apoios, como acesso a tratamentos hormonais ou a cirurgias.

Não se sabe o que a administração planeia fazer com esta informação, mas os críticos do grupo de activistas Equality Florida acusam DeSantis de tentar beneficiar politicamente e usar o seu poder para “intimidar as universidades” de forma a que estas sejam “menos inclusivas”, cita o Politico.

Canditatura à Casa Branca iminente

Apesar da enxurrada de críticas, DeSantis está a planear usar a sua “revolução” na educação como a principal bandeira da sua muito antecipada — e ainda sem confimação oficial — candidatura à presidência dos Estados Unidos.

De acordo com o Axios, as políticas do Governador estão a inspirar o partido Republicano a nível nacional, que aposta agora na educação como uma arma para derrotar os Democratas em 2024. DeSantis afirma-se assim como um dos principais rostos desta nova onda conservadora que pretende “proteger as crianças“.

A sua crescente influência no partido é inegável — a liderança Republicana em estados como o Wyoming, Georgia, Nebraska e Indiana está agora a copiar quase palavra por palavra várias das leis de DeSantis.

Até Donald Trump parece ter arrancado uma página do livro de DeSantis e está a ir ainda mais longe do que o rival, prometendo banir o acesso dos menores de idade a procedimentos relacionados com a mudança de género e que vai também cortar o financiamento federal às escolas que ensinem a “teoria racial crítica” ou a “ideologia de género”, sem especificar o que estes termos significam.

Recorde-se que DeSantis inicialmente ganhou relevância nacional após receber o apoio de Trump na sua candidatura a Governador da Flórida.

Desde então, os boatos sobre as ambições presidenciais de DeSantis e uma possível candidatura contra Trump levaram a que a relação entre os dois azedasse, com o ex-Presidente a atacar frequentemente o seu ex-delfim, a quem chama “Ron DeSanctimonious” ou “Meatball Ron”.

A maioria das sondagens ainda dá uma vantagem ao ex-chefe de Estado num possível confronto entre os dois, mas alguns inquéritos já apontaram para uma vitória de DeSantis, que se tem afirmado como um rival à altura de Donald Trump.

DeSantis, por sua vez, tem mantido o silêncio sobre o ex-Presidente. O seu recém-lançado livro “The Courage to Be Free: Florida’s Blueprint for America’s Revival” (A Coragem de ser Livre: O exemplo da Flórida para o Renascimento da América, em tradução livre) — que está a ser apontado como um trunfo de pré-campanha — inclusivamente só se refere a Trump em termos elogiosos.

Mesmo assim, o Governador aproveita a ocasião para refutar a ideia de que só foi eleito graças ao apoio do ex-Presidente. Trump tem dito que DeSantis lhe “implorou” um apoio oficial e que até chegou a chorar, afirmando ainda que, antes da sua ajuda, a campanha de DeSantis estava “morta” e que este iria desistir.

No livro, o rival aproveita a ocasição para atirar algumas farpas veladas a Trump: “Não acho que os eleitores das primárias republicanas sejam ovelhas que apenas seguem o apoio de um político de quem gostam sem nenhuma análise individual”, escreve.

O lançamento do livro dá ainda a DeSantis oportunidades de fazer uma longa lista de aparições mediáticas para a sua promoção. O Governador fez ainda aparições recentes fora do seu estado e tem eventos de angariação de fundos agendados para o Alabama, Califórnia e Texas.

O seu comité de ação política está ainda contratar conselheiros e assessores com experiência em campanhas a nível nacional, pelo que tudo indica que só falta mesmo o anúncio oficial da sua campanha. Resta-nos esperar para ver se o plano de Trump para dar um “pontapé nos tomates” a DeSantis vai mesmo resultar.

Adriana Peixoto, ZAP //

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2 Comments

  1. Parece que os Republicanos querem regresssar à Idade Média. Afinal, não são muito diferentes dos extremistas do Afeganistão ou do Irão.

    • Você concorda que atletas que são biologicamente homens possam competir em provas femininas?

      Você concorda que uma escola possa apoiar e incentivar um menor a mudar de género e aconselhar o aluno a esconder a sua opção dos próprios pais?

      Você concorda que se ensine a crianças no ensino primário que o homem branco é naturalmente opressor enquanto o homem negro é naturalmente oprimido?

      O que referi acima passa-se em algumas escolas nos EUA. Pessoalmente acho um escândalo.

      O DeSantis não acerta em tudo, e se calhar erra mais que acerta, mas em algumas coisas está certíssimo.

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