Poluição associada a superbactérias. Indústria farmacêutica e agricultura são os sectores que originam maiores preocupações.
Não é propriamente uma novidade, mas há cada vez mais evidências científicas que demonstram que a resistência a antibióticos é influenciada pelo meio ambiente onde as pessoas estão enquadradas.
Na semana passada a Organização das Nações Unidas (ONU) reforçou essa ligação e deixou um alerta extra.
“É cada vez mais evidente que o meio ambiente desempenha um papel fundamental no desenvolvimento, transmissão e disseminação” da resistência antimicrobiana (AMR), revelou o novo relatório do Programa das Nações Unidas para o Ambiente.
Dois sectores originam preocupação especial: a indústria farmacêutica e a agricultura, que fazem com que os antimicrobianos entrem no meio ambiente. E começam pelos rios.
E essa poluição, cada vez mais elevada, aumenta a proliferação de superbactérias resistentes aos medicamentos – que deverão matar 10 milhões de pessoas por ano até 2050, alertou esta terça-feira a ONU.
Dando outro panorama, e seguindo estas previsões, há 270 milhões de pessoas em risco de morte até 2050, caso não se trabalhe na redução da poluição, essencialmente nos sectores farmacêuticos e agrícolas.
A resistência a antibióticos surge quando microrganismos como bactérias, vírus, parasitas ou fungos se tornam indiferentes a tratamentos antimicrobianos, aos quais eram susceptíveis.
Este problema é uma ameaça, de acordo com a Organização Mundial da Saúde – entidade que receia que o planeta esteja a caminhar para uma era em que infecções comuns poderão começar a matar de novo.
Só em 2019, quase 1,3 milhões de mortes terão ocorrido na sequência de infecções resistentes aos medicamentos. Até 2050, esse número poderá aumentar em 10 milhões de mortes directas por ano.
A resistência surge muito por causa da utilização abusiva de antibióticos, mas a ONU sublinha a “tripla crise planetária“: alterações climáticas, perda da biodiversidade e da natureza, poluição e desperdício.
“É um problema real, porque os rios são muitas vezes a fonte de nossa água potável“, disse à AFP o microbiologista Jonathan Cox, que acrescentou: “Esta já é uma pandemia silenciosa”.
Para combater desde já essa pandemia, a ONU convida a indústria farmacêutica a “assegurar o adequado confinamento e tratamento de resíduos e águas residuais”, com um reforço geral do quadro regulamentar.
Já nos hospitais, devem ser instalados sistemas específicos de tratamento de águas residuais e garantir a eliminação adequada dos medicamentos.
No outro sector muito poluente, a agricultura, sugere-se por exemplo “reavaliar os limites dos antimicrobianos” e “reduzir as descargas” para proteger os cursos de água.
Com todas essas “ameaças” hoje vive-se mais e melhor do que em qualquer outra época…