Este ano, o Governo da Índia pediu aos cidadãos que passem o Dia dos Namorados a abraçar vacas.
Numa declaração divulgada esta semana, citada pela Snithsonian, o departamento de bem-estar animal do Governo anunciou que o “Dia do Abraço das Vacas” terá lugar a 14 de fevereiro.
“As tradições védicas estão quase à beira da extinção devido ao progresso da cultura. O deslumbramento da civilização ocidental fez com que a nossa cultura física e o nosso património quase que fossem esquecidos”, indica o comunicado.
No hinduísmo, as vacas são como sagradas e, por vezes, associadas à maternidade. A maioria dos estados indianos, incluindo Deli, proibiram o seu abate. O departamento de bem-estar animal descreve-a como “a espinha dorsal da cultura indiana”.
De acordo com o mesmo documento, abraçar uma vaca a 14 de fevereiro trará “riqueza emocional” e aumentará a “felicidade individual e coletiva”.
Os hindus constituem quase 80% da população da Índia, de acordo com o Pew Research Center. Cerca de 14% são muçulmanos, enquanto os cristãos, sikhs, budistas e jainistas constituem os restantes 6%.
O ‘rebranding’ do Dia dos Namorados surge num momento de ascensão do nacionalismo hindu, que é “a ideia de que a fé e a cultura hindu devem moldar o Estado e as suas políticas”, segundo a NPR.
O atual Governo nacionalista hinduísta, liderado pelo primeiro-ministro Narendra Modi, tem procurado seguir essa linha.
Nas últimas décadas, os jovens indianos têm vindo a comemorar cada vez mais o Dia dos Namorados, que foi criado como uma celebração cristã. Tal como os norte-americanos, esses jovens “passam o dia em parques e restaurantes, trocam presentes e fazem festas para celebrar” a ocasião, relatou a Associated Press.
À medida que a popularidade do feriado tem crescido, os devotos hindus têm criado oposição. Segundo o Guardian, os críticos tendem a concentrar-se nas mulheres, argumentando que o Dia dos Namorados “encoraja a promiscuidade feminina e comportamento vulgar”.
Grupos de vigilantes de extrema-direita vandalizaram lojas de presentes, queimaram cartões e flores, e assediaram casais que passeavam de mãos dadas.
Nos últimos anos registou-se também um aumento dos “vigilantes de vacas” em toda a Índia, que atacam membros de grupos minoritários envolvidos no comércio do gado. Entre 2015 e 2018, multidões de vigilantes mataram pelos menos 44 pessoas, incluindo 36 muçulmanos, segundo um relatório da Human Rights Watch de 2019.