Estações mais longas dão árvores maiores? Nem sempre

Um estudo, em que participa o Departamento de Ciências da Vida (DCV) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), sugere que as estações de crescimento mais longas não implicam necessariamente a formação de anéis de crescimento mais largos.

A investigação, que pretendeu testar de que forma é que a variação da duração da estação de crescimento condiciona o desenvolvimento das árvores, foi apresentada num artigo publicado na revista Agricultural and Forest Meteorology.

Segundo as conclusões do estudo, que envolveu sete investigadores oriundos de Espanha, Portugal e Rússia, as folhas surgem primeiro no pinheiro-de-alepo (início de março) do que no pinheiro-silvestre (meados de maio).

“Com o aumento da temperatura média global, são esperadas estações de crescimento mais longas. No entanto, o aumento da duração da estação de crescimento pode não significar um aumento da produção de madeira”, começa por explicar Filipe Campelo, investigador do Centro de Ecologia Funcional da Universidade de Coimbra, e coautor do estudo.

“Por exemplo, a seca estival pode neutralizar o potencial efeito positivo de uma estação de crescimento mais longa, limitando o crescimento e a produtividade florestal”, acrescenta o investigador.

“Por outro lado, desconhece-se como a fenologia das árvores, em particular a data de aparecimento e queda das folhas, afeta o crescimento, a fixação de carbono e consequentemente a mitigação das alterações climáticas pelas florestas”, revela o investigador da FCTUC.

Para alcançar estes resultados, foi testada a relação entre a duração da estação de crescimento e o crescimento através da comparação de dados fenológicos das folhas e das datas de início e fim da formação da madeira simuladas por modelos de formação da madeira.

(dr) Notícias UC

Anéis de crescimento

Assim, foram analisadas séries temporais com as datas de emergência e queda das folhas, bem como séries temporais do tamanho dos anéis de crescimento, em duas espécies de pinheiro sob condições climáticas contrastantes, nomeadamente o pinheiro-de-alepo (Pinus halepensis), num sítio mediterrânico em Espanha, e o pinheiro-silvestre (Pinus sylvestris), num sítio boreal na Rússia.

“Os resultados demonstraram que a formação da madeira está dissociada da fenologia das folhas e uma estação de crescimento mais longa nem sempre resulta num aumento do crescimento radial nem na fixação de mais carbono” afirma Filipe Campelo.

“Este estudo sugere ainda que a estimativa da quantidade de carbono sequestrado anualmente pelas florestas deve ter em consideração, além da duração da estação de crescimento, a variação intra-anual das taxas de formação da madeira“, acrescenta o investigador.

Este ponto é crucial para uma melhor compreensão do ciclo global do carbono e avaliação da contribuição das florestas para a regulação do dióxido de carbono na atmosfera”, conclui o coautor do estudo.

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