Emblemático Embaixador foi despejado pelo senhorio

Sindicato Hotelaria Norte / Facebook

Café Embaixador no Porto

O emblemático Café Embaixador, um dos espaços comerciais históricos do Porto, foi despejado pelo senhorio por não poder suportar o valor das rendas pedidas. Assim, o local deverá passar a ser explorado por um restaurante de fast food.

Numa altura em que se apresta para celebrar 65 anos de vida, o Café Embaixador fecha as portas. É mais uma vítima da nova lei das rendas na baixa do Porto que perde outro dos seus espaços comerciais emblemáticos.

“Pedem uma renda de 30 mil euros por mês e parece que já há um interessado. De acordo com o que me disseram, isto vai ser um restaurante da cadeira de fast food Burger King“, revela ao Jornal de Notícias (JN) um dos gerentes do Embaixador, Lino Perestrelo.

O senhorio do espaço tinha a decorrer na justiça várias acções de despejo há alguns anos depois de se ter recusado a renovar o contrato de arredamento. Venceu todas essas acções judiciais, pelo que o encerramento do Embaixador é uma “morte anunciada”.

“Sabíamos que ao abrigo da nova lei das rendas, a batalha não seria fácil. Fomos recorrendo sempre e a verdade é que o senhorio ganhou sempre nas três instâncias”, refere Lino Perestrelo ao JN.

“Na acção inicial, conseguimos detectar algumas ilegalidades e foi isso que nos foi dando esperança”, conta ainda. Mas o desfecho é desfavorável aos responsáveis do café.

O senhorio do imóvel é “descendente da família Pinto Leite” e “quer agora entregar o espaço a quem oferecer mais dinheiro“, diz ainda Lino Perestrelo.

Inaugurado em 1957 no edifício do antigo Banco Pinto Leite, o Embaixador é reconhecido pela imagem da estátua de um embaixador de bigode, smoking, laço na camisa branca e cartola.

Trata-se de um dos mais carismáticos cafés da baixa portuense que, em 2019, recebeu a distinção de Porto de Tradição da Cãmara Municipal do Porto.

Sindicato acusa empresa que gere o café de não respeitar direitos dos trabalhadores

O encerramento do Embaixador deixa 16 trabalhadores no desemprego e “sem os direitos devidos”, como aponta o Sindicato da Hotelaria do Norte (SHN),notando que a empresa que gere o café alega que não tem “possibilidades de pagar as indemnizações devidas”.

Numa publicação no Facebook, o Sindicato avança que sugeriu que se encontrasse “um local alternativo para instalar o Café Embaixador”, notando que a “Câmara Municipal do Porto manifestou-se disponível para encontrar uma solução de instalações”.

Mas a empresa que gere o café “não se mostrou muito interessada e manteve a sua posição de que não tinha dinheiro para pagar os direitos dos trabalhadores”, acusa o SHN.

Uma situação que o Sindicato não entende perante um estabelecimento que “funciona bem, tem muita clientela, não tem dívidas ao Estado nem aos fornecedores e, por isso, não se justifica não haver dinheiro para pagar os direitos“.

Além disso, o SHN fala em despedimento “ilegal e punível com pena de prisão até dois anos, por força do disposto no artigo 316.º do Código do Trabalho, porque não foram cumpridos os formalismos e procedimentos legais”.

De acordo com a entidade, “não foi dado início ao procedimento legal com vista ao despedimento colectivo, a despedimento por extinção de posto de trabalho, redução temporária do período normal do trabalho ou suspensão do contrato de trabalho em situação de crise empresarial, nem por motivo de férias”.