A haver fosfina em Vénus, é em quantidades mesmo muito pequenas

Paul K. Byrne / NASA / USGS

Na ausência de observações diretas de vida extraterrestre, os cientistas concentram-se frequentemente na procura por bioassinaturas, subprodutos químicos da vida, que podem ser avistados com deteção remota.

Embora Marte tenha recebido a maior atenção a este respeito, também têm sido investigados outros mundos do Sistema Solar com atmosferas.

Em 2021, os astrónomos planetários relataram uma deteção do gás fosfina na atmosfera de Vénus utilizando observações rádio terrestres. A concentração do gás foi inicialmente relatada como sendo de 20 partes por milhar de milhão, mas posteriormente revista para 7 ou menos partes por milhar de milhão, com base numa melhor calibração e análise dos dados.

Na Terra, a fosfina pode estar associada a processos biológicos, e os investigadores estão a estudar se o gás pode ser utilizado como sinal de vida noutros planetas.

A suposta deteção de fosfina foi recebida com ceticismo devido a dificuldades na calibração dos dados e na análise dos dados recolhidos a partir do solo. As tentativas de acompanhamento, que visaram também a deteção da fosfina na atmosfera de Vénus, utilizando outros telescópios terrestres e espaciais, também não produziram nenhuma deteção definitiva. Cordiner et al. contribuem com outro conjunto de medições a partir de uma plataforma de observação única: o SOFIA (Stratospheric Observatory for Infrared Astronomy).

O recentemente aposentado avião SOFIA voava a uma altitude de 13 quilómetros, acima da maioria da atmosfera terrestre, reduzindo em muito a contaminação do sinal de fosfina proveniente de fontes terrestres.

Os investigadores utilizaram o instrumento alemão GREAT (German Receiver for Astronomy at Terahertz Frequencies) do SOFIA, que tem uma resolução espectral muito alta, para recolher dados espectroscópicos no infravermelho distante 75-110 quilómetros acima da superfície de Vénus, o que está muito perto do intervalo de altitudes medido pelo estudo anterior.

Os investigadores relatam que os dados recolhidos pelo GREAT durante os três voos de observação não revelaram evidências claras de fosfina. A haver fosfina na atmosfera de Vénus, e assumindo que a abundância é constante ao longo do tempo, as novas observações indicam um limite superior para a sua concentração de 0,8 partes por milhar de milhão. Este nível é o limite superior mais rigoroso apresentado até à data para todo o hemisfério visível de Vénus.

Muitas complexidades da densa atmosfera de Vénus continuam a ser intrigantes para os cientistas planetários. A próxima grande descoberta poderá chegar quando a sonda DAVINCI (Deep Atmosphere Venus Investigation of Noble Gases, Chemistry, and Imaging) da NASA mergulhar até à superfície do planeta, o que está previsto ocorrer no início da década de 2030.

// CCVAlg

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