É hoje a corrida derradeira para o Senado na Geórgia (que será decisiva para Trump)

Delta News Hub / Flickr

Senador Democrata Raphael Warnock

A corrida é decisiva para assegurar o domínio de Trump sobre o partido Republicano e pode também facilitar a vida de Biden e dar um reforço importante à maioria Democrata no Senado.

Esta terça-feira, os georgianos vão a votos para escolher ou o incumbente Democrata Raphael Warnock ou o Republicano Herschel Walker para o derradeiro último lugar no Senado, numa corrida cujas repercussões vão muito além das fronteiras do estado.

Tendo já garantido 50 lugares nas eleições intercalares, a maioria Democrata na câmara superior do Congresso não está em causa — mesmo que Warnock perca e fique cada partido com 50 Senadores, o voto de desempate da vice-presidente Kamala Harris garante o controlo do Senado para o partido de Biden.

Mesmo assim, a importância da eleição não pode ser desvalorizada. Se o facto de, pela primeira vez, ambos os candidatos serem afro-americanos é digno de nota — num estado marcado por um duro passado esclavagista e de segregação racial — é também na Geórgia que repousam as últimas esperanças de uma demonstração de força dos Republicanos, que esperaram e esperaram por uma mítica “onda vermelha” nas intercalares, onda essa que nunca rebentou.

Mas, segundo as sondagens, os Republicanos têm poucos motivos para sorrir. De acordo com um inquérito do UMass Lowell Center for Public Opinion feito a eleitores que costumam ir votar, Warnock tem uma vantagem de 51% nas intenções de voto, com Walker a ficar-se pelos 46%.

Os eleitores mostram também ter uma visão mais positiva de Warnock (49% são favoráveis e 45% são desfavoráveis) do que de Walker (39% são favoráveis e 51% são desfavoráveis).

Esta ideia negativa que os eleitores têm do ex-jogador de futebol americano pode em parte ser explicada pelos sucessivos escândalos que têm abalado a sua campanha. Apesar de fazer da proibição ao aborto uma das suas bandeiras, duas ex-namoradas suas já vieram a público dizer que Walker lhes pagou para interromperem a gravidez.

Outra ex-companheira sua diz ter sido vítima de violência doméstica por parte de Walker. A mulher afirma que, em 2005, apanhou o candidato Republicano a traí-la com outra mulher e confrontou-o. A discussão entre os dois terá escalado até ao ponto em que Walker a terá empurrado contra uma parede e tentado sufocá-la.

Já Raphael Warnock tem feito uma campanha assente na defesa acérrima do direito ao aborto, o que pode ajudar a explicar a sua vantagem de 13 pontos entre o eleitorado feminino. Um dos trunfos eleitorais de Warnock tem também sido a sua experiência política, tentando passar uma imagem de estabilidade.

O Democrata já conseguiu mais 37.675 votos do que Walker na primeira volta da eleição, mas nenhum dos candidatos conseguiu mais do que 50%, o que obrigou à convocação de uma segunda volta, de acordo com as regras do estado.

Está assim a repetir-se o mesmo que aconteceu em 2020, quando Warnock teve de disputar uma segunda ronda contra a Republicana Kelly Loeffler, numa eleição especial para escolher quem iria cumprir os últimos dois anos do mandato do Republicano Johnny Isakson, que se demitiu por motivos de saúde.

Warnock saiu vencedor contra Loeffler, que tal como Walker, também estava no centro de um escândalo. A candidata Republicana estava a ser investigada por ter alegadamente usado informações privilegiadas sobre a evolução do coronavírus a que teve acesso enquanto Senadora para investir e lucrar na bolsa.

Trump e Biden atentos

Esta eleição é ainda determinante para o rumo que ambos os partidos seguirão na antecipação das presidenciais de 2024. Recorde-se que a Geórgia — um estado historicamente Republicano que se tem tornado mais renhido e até caído para os Democratas nos últimos anos — foi decisiva para a vitória de Biden e pode servir como um termómetro sobre as suas aspirações numa eventual recandidatura.

Ter mais um Senador seu aliado é também mais importante para as contas de Biden do que parece. Apesar de já ter tido uma maioria Democrata nos dois primeiros anos do seu mandato, as dificuldades para a aprovação dos seus pacotes legislativos mantiveram-se, graças aos bloqueios sucessivos dos Senadores Democratas Kyrsten Sinema e Joe Manchin, da ala mais conservadora do partido.

Foi graças aos impasses gerados pela relutância de Manchin e Sinema que a grande bandeira eleitoral de Biden, o pacote de mega-investimento social Build Back Better, acabou por nunca sair do papel. Seguiram-se outras dores de cabeça e sucessivas cedências com a reforma eleitoral ou com a lei ambiental.

Grande parte da agenda política de Biden acabou assim por ficar encalhada no Senado, o que explica em grande parte os trambolhões na sua popularidade ao longo do mandato. Contar com Warnock na lista de aliados pode tirar poder à ala conservadora do partido e ajudar a tornar o Senado mais eficiente, dando um impulso às suas esperanças de reeleição em 2024.

Para Trump, esta eleição é também fundamental, já que o seu domínio sobre o partido Republicano está a ser posto em causa após o desaire nas intercalares. Há agora várias vozes rebeldes que o culpam pelos resultados aquém do esperado e o governador da Flórida, Ron DeSantis, tem sido apontado como um potencial rival à altura de Trump nas primárias do partido.

Em causa estão as apostas de Trump em candidatos extremistas e que pedalam conspirações sobre fraude eleitoral ou posições duras sobre o aborto — apesar de terem conquistado a base Republicana, estas escolhas podem ter alienado os eleitores independentes ou mais moderados que não se identificam com o perfil radical destes candidatos.

A vitória de Walker pode assim dar uma reforço à estratégia de Trump e mostrar que, afinal, as suas escolhas ainda são tiros certeiros. Resta-lhe segurar-se à esperança de que, tal como estiveram erradas nas intercalares, as sondagens voltem a falhar o alvo na eleição na Geórgia.

Adriana Peixoto, ZAP //

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