Gripe e infeções respiratórias mais cedo elevam pressão nas urgências

Giuseppe Lami / EPA

Nos hospitais e nos centros de saúde o número de urgências e de consultas devido a infeções respiratórias e gripe estão a aumentar, o que contribui para a pressão nos serviços de saúde.

Entre 03 de outubro e 27 de novembro as unidades de cuidados intensivos que participam na vigilância da gripe já reportaram 26 internamentos por gripe, segundo o último boletim de monitorização da gripe do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (Insa), citado pelo Público.

Na semana de 21 e 27 de novembro foram reportados 12 internamentos em cuidados intensivos, quase metade do total de casos desde o início desta época gripal e acima dos três casos nas primeiras sete semanas da época gripal 2019/2020. Mas é preciso ter em conta que o início da circulação do vírus.

“Penso que houve uma antecipação da época gripal, que espero que tenha a duração habitual. No hemisfério sul não houve um prolongamento significativo”, disse ao jornal o pneumologista Filipe Froes. Antes da pandemia, a média de casos de gripe internados em cuidados intensivos no final de cada época gripal rondava os 120 a 160 e são números que o médico acredita que se deve atingir no final desta época gripal.

“Não é habitual numa fase tão inicial da gripe ter já este impacto nos cuidados intensivos, com 12 internamentos na última semana. Por norma há um intervalo de duas a três semanas entre o aumento do número de casos na comunidade e os internamentos. Há uma maior gravidade e mais necessidade de vacinação”, disse.

E continuou: “o inverno ainda não chegou e o pico da atividade gripal ainda não foi atingido. E quando é, há um período de várias semanas de elevada atividade”. Este aumento dos casos de gripe e de outras infeções por vírus respiratórios “são um dos fatores que pode estar a contribuir para a pressão das urgências”.

O bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, indicou que “existem várias coisas a falhar”. “Sabemos que a elevada procura das urgências é um problema que tem muito a ver com organização dos serviços de saúde. Ainda não conseguimos educar as pessoas para usar os serviços de saúde e arranjar alternativas fora do hospital para as situações agudas não urgentes”, declarou.

“Faltam estruturas de maior proximidade”, reforçou.

A monitorização sazonal feita pelo Ministério da Saúde mostra que a proporção de consultas nos centros de saúde com diagnóstico de gripe tem crescido, ainda que com flutuações, desde meados de novembro.

O ministro da Saúde, Manuel Pizarro, negou a ideia de caos, mas admitiu um cenário de “grandes dificuldades” no hospital de Santa Maria. E falou de “um afluxo excessivo às urgências”, com a agravante de as respostas alternativas ainda não estarem a ter o resultado desejado. Além desta, outra das recomendações é que o primeiro contacto seja feito com o SNS24, um apelo que os hospitais também fazem.

Há 1,4 milhões de pessoas sem médico de família

Para tentar aliviar os serviços de urgências hospitalares, uma das medidas anunciadas pelo Ministério da Saúde passa pelo alargamento dos horários de vários centros de saúde. Mas há 1,4 milhões de pessoas sem médico de família, como reportou o Público.

Este problema é grave sobretudo em Lisboa e Vale do Tejo (LVT), onde um quarto da população (25,5%) estava a descoberto em novembro, mas também no Algarve (18,4%) e no Alentejo (15%). Na região centro, a falta de médicos de família afetava 9% do total dos inscrito e na região norte 2,5%.

Dois dos motivos para a saída e para a não retenção de médicos no Serviço Nacional de Saúde (SNS) são os salários pouco atrativos e as deficientes condições de trabalho e a pressão da procura nos locais onde há mais falta de profissionais.

Em 2020, Portugal era o país com mais médicos por mil habitantes (4,5), logo a seguir à Grécia (6,2) , ainda que “o número nestes dois países” seja sobreavaliado, uma vez que “inclui reformados e aqueles que poderiam ter emigrado para outros países, mas mantiveram a sua inscrição no país [na Ordem dos Médicos]”, explica-se no relatório.

O número de enfermeiros não será ainda adequado para responder à crescente procura neste que é um dos países mais envelhecidos do mundo. O rácio enfermeiro-médico (1.3), apesar de ter aumentado nos últimos anos e mesmo tendo em conta que o número de médicos está sobreavaliado, continua a ser reduzido.

Para ajudar a resolver das urgências, o presidente da Associação Nacional de Unidades de Saúde Familiar (USF-AN), André Biscaia, defendeu o aumento destas unidades, propondo que todas as USF modelo A tenham os incentivos remuneratórios das modelo B com o compromisso de, em três anos, atingirem objetivos de rácios de utentes por equipa de saúde familiar e de qualidade do atendimento.

ZAP //

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