Vénus tornou-se uma estufa ácida escaldante. A culpa foi dos seus supervulcões

Peter Rubin / NASA/JPL-Caltech

Conceito artístico de atividade vulcânica em Vénus

Um novo artigo científico da NASA sugere que a atividade vulcânica, que durou centenas a milhares de séculos e que libertou quantidades massivas de material, pode ter ajudado a transformar Vénus de um mundo temperado e húmido para a estufa ácida que é hoje.

O artigo também discute estas “grandes províncias ígneas” na história da Terra que causaram várias extinções em massa no nosso próprio planeta há milhões de anos atrás.

“Ao compreender o registo de grandes províncias ígneas na Terra e em Vénus, podemos determinar se estes acontecimentos podem ter causado a atual condição de Vénus”, disse Michael J. Way, investigador do GISS (Goddard Institute for Space Studies) da NASA em Nova Iorque.

Way é o autor principal do artigo, publicado a 22 de abril na revista The Planetary Science Journal.

As grandes províncias ígneas são os produtos de períodos de vulcanismo em grande escala que duram dezenas de milhares ou até mesmo centenas de milhares de anos. Podem depositar cerca de 500.000 quilómetros cúbicos de rocha vulcânica à superfície.

No limite superior, poderá significar rocha fundida suficiente para enterrar toda a Península Ibérica a quase um quilómetro de profundidade.

Hoje, Vénus tem temperaturas superficiais que rondam em média os 464º C e uma atmosfera com cerca de 90 vezes a pressão da Terra ao nível do mar.

NASA/JPL

Maat Mons é apresentado nesta perspetiva tridimensional, gerada por computador, da superfície de Vénus. O ponto de vista situa-se a 634 quilómetros para norte de Maat Mons, a uma altitude de 3 quilómetros. Os fluxos de lava estendem-se por centenas de quilómetros através das planícies fracturadas vistas em primeiro plano, até à base de Maat Mons.

De acordo com o estudo, as enormes erupções vulcânicas podem ter dado início a estas condições infernais algures na história antiga de Vénus.

Em particular, a ocorrência de várias dessas erupções num curto espaço de tempo geológico (um milhão de anos) poderia ter levado a um efeito de estufa que deu início à transição do planeta de húmido e temperado para quente e seco.

80% da superfície total de Vénus está coberta por grandes campos de rocha vulcânica solidificada, disse Way. “Embora ainda não estejamos certo da frequência com que ocorreram os acontecimentos que criaram estes campos, devemos ser capazes de a estimar estudando a própria história da Terra”.

A vida na Terra sofreu pelo menos cinco grandes eventos de extinção em massa desde a origem da vida multicelular há cerca de 540 milhões de anos, cada um dos quais dizimando mais de 50% da vida animal em todo o planeta.

Segundo este estudo e outros anteriores, a maioria destes eventos de extinção foram causados ou exacerbados pelos tipos de erupções que produzem grandes províncias ígneas.

No caso da Terra, as perturbações climáticas provocadas por estes eventos não foram suficientes para causar um efeito de estufa extremo como ocorreu em Vénus, por razões que Way e outros cientistas ainda estão a trabalhar para determinar.

As próximas missões da NASA a Vénus, programadas para o final desta década — a missão DAVINCI  e a missão VERITAS — visam estudar a origem, história e estado atual de Vénus em detalhes sem precedentes.

“Um objetivo principal da DAVINCI é melhor determinar a história da água em Vénus e quando esta pode ter desaparecido, fornecendo mais informações sobre como o clima de Vénus mudou ao longo do tempo”, disse Way.

A missão DAVINCI precederá a VERITAS, um orbitador concebido para investigar a superfície e o interior de Vénus, para melhor compreender a sua história vulcânica e volátil e, assim, o percurso de Vénus até ao seu estado atual.

Os dados de ambas as missões podem ajudar os cientistas a determinar o registo exato de como Vénus pode ter passado de húmido e temperado para seco e escaldante.

Pode também ajudar-nos a compreender melhor como o vulcanismo aqui na Terra afetou a vida no passado e como poderá a continuar a fazê-lo no futuro.

// CCVAlg

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