Uma investigação do Procurador-Geral de Maryland, nos Estados Unidos (EUA), identificou 158 padres católicos na Arquidiocese de Baltimore acusados de abuso sexual e físico de mais de 600 vítimas durante os últimos 80 anos, segundo registos do tribunal arquivados na quinta-feira.
O Procurador-Geral Brian Frosh anunciou que o seu gabinete completou um relatório de 463 páginas sobre a investigação, com início em 2019, e apresentou uma moção no Tribunal de Baltimore para tornar público o relatório.
A autorização do tribunal é necessária porque o relatório contém informações de intimações do grande júri, mas não é conhecida a data em que será tomada uma decisão, relatou a agência Lusa.
“Durante décadas, os sobreviventes relataram abusos sexuais perpetrados por padres católicos e durante décadas a Igreja encobriu o abuso, em vez de responsabilizar os abusadores e proteger as suas congregações”, escreveu Frosh no registo do tribunal.
O relatório, intitulado “Abuso do Clero em Maryland”, identifica 115 padres processados por abuso sexual e/ou identificados publicamente pela arquidiocese como tendo sido “acusados de forma credível de abuso sexual”. Inclui mais 43 padres acusados de abuso sexual, mas não identificados publicamente pela arquidiocese.
“O relatório resume o abuso sexual e a tortura física perpetrados pelos 158 padres e a resposta da Arquidiocese a esse abuso”, de acordo com o processo.
Embora o processo judicial sublinhe que mais de 600 vítimas foram identificadas, acrescenta que “há quase certamente mais centenas, uma vez que o Relatório Anual do Departamento de Justiça sobre a vitimização de crimes demonstrou que a maioria dos incidentes de agressões sexuais não são relatados”.
Tanto rapazes como raparigas foram vítimas de abuso, com idades que vão desde a pré-escola até à idade adulta.
“Embora nenhuma paróquia fosse segura, algumas congregações e escolas tiveram vários padres abusadores, e algumas tinham mais do que um padre abusador sexual ao mesmo tempo”, é referido no processo.
A investigação revelou também que a Arquidiocese não denunciou muitas alegações de abuso sexual, não realizou investigações adequadas sobre alegados abusos, não retirou os abusadores do ministério ou não restringiu o seu acesso às crianças.
“Em vez disso, fez um grande esforço para manter o abuso em segredo”, é mencionado no registo. “Embora a Arquidiocese tenha denunciado um grande número de acusações à polícia, especialmente em anos posteriores, durante décadas esforçou-se para garantir que os perpetradores não enfrentassem a justiça”.
Frosh argumentou que “a divulgação pública das transgressões da Igreja é fundamental para responsabilizar pessoas e instituições e para melhorar a forma como as alegações de abuso sexual são tratadas no futuro”.
O processo também assinala que dos 43 padres que não foram identificados publicamente ou não foram processados, 30 morreram.
A Procuradoria-Geral redigiu todas as informações de identificação para os 13 funcionários vivos da igreja acusados de abuso sexual, mas que não foram incluídos na lista como acusados de forma credível pela Arquidiocese e que não foram processados.
Em 2019, Frosh lançou uma investigação criminal sobre abusos sexuais de crianças perpetrados por padres e outros funcionários da Arquidiocese de Baltimore. Centenas de milhares de documentos datados dos anos 40 foram produzidos, em resposta a intimações do tribunal.
No âmbito da investigação, o gabinete do Procurador-Geral criou um endereço de correio eletrónico e uma linha telefónica direta para as pessoas denunciarem informações, procuradas por 300 pessoas, entrevistadas pelos investigadores, assim como testemunhas.