Centro hospitalar Lisboa Central abre Clínica da Diversidade de Género

A Clínica da Diversidade de Género assenta num modelo multidisciplinar e colaborativo “muito orientado para os cuidados e o percurso individual de cada pessoa transgénero”, disse a coordenadora.

O Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central (CHULC) inaugura esta terça-feira a Clínica da Diversidade de Género, que pretende oferecer uma resposta multidisciplinar às necessidades em saúde da população transgénero e melhorar a acessibilidade geográfica e assistencial a estes cuidados.

A Clínica da Diversidade de Género, aberta em parceria com o Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa (CHPL), assenta num modelo multidisciplinar e colaborativo “muito orientado para os cuidados e o percurso individual de cada pessoa transgénero”, disse à agência Lusa a coordenadora da nova unidade, Mariana Silva.

“A ideia [de criar este serviço] surgiu para melhorar a acessibilidade das pessoas em termos de intervenções médico-cirúrgicas, além do acompanhamento em psicologia, psiquiatria e endocrinologia que já tinham no Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa”, disse a psiquiatra no CHULC.

Outro dos objetivos é tentar reduzir os tempos de espera para realizar as intervenções, uma vez que são pessoas que estão “em grande sofrimento“.

“São pessoas que no seu dia-a-dia são muito expostas a discriminações de vários tipos (…) e daí a importância de fazer este acompanhamento de forma precoce”, para tentar limitar “o maior número de barreiras” no seu percurso e nos objetivos que têm em termos da sua afirmação de género.

Com este serviço, disse Mariana Silva, também se pretende quebrar as “muitas barreiras” que ainda existem no acesso a estes cuidados mais específicos, como apontam muitos estudos nacionais, que, enfatizou, surgem muitas vezes do desconhecimento de as pessoas não saberem que resposta dar.

“Até a estratégia da Direção-Geral da Saúde para as pessoas LGBTQIA+, de 2019, falava sobre este aspeto, que é no fundo os serviços fazerem um investimento no sentido de prestarem cuidados otimizados” a esta população e estarem preparados para conhecerem a sua especificidade.

Apesar de estar aberta a utentes de todo o país, a clínica destina-se principalmente aos residentes em Lisboa e Vale do Tejo e no sul do país, que eram habitualmente referenciados para o Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC) para realizar intervenções cirúrgicas.

A referenciação para a clínica será feita pelo Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa e o percurso da pessoa transgénero no CHULC será acompanhado pelo “enfermeiro gestor de caso”, uma figura central na organização dos cuidados.

A clínica reúne 14 especialidades e irá ter várias fases de desenvolvimento. Nesta primeira fase, irá avançar-se com a cirurgia mamária, a terapia da voz e a Medicina Interna.

Numa fase posterior, pretende-se alargar a intervenção à cirurgia maxilo-facial, à urologia, à ginecologia e à cirurgia de reatribuição sexual, que neste momento é realizada em Coimbra.

“É um projeto a longo prazo porque temos poucas pessoas no Serviço Nacional de Saúde a realizar estas intervenções. Isto significará também haver pessoas a fazer formação, eventualmente até no estrangeiro, para adquirirem outras competências, para depois se poder alargar o projeto” no sentido de todo o acompanhamento necessário ser feito no CHULC.

Questionada sobre se há uma estimativa de quantas pessoas poderão ser atendidas na clínica, a psiquiatra disse que “é difícil apontar um número”.

No ano passado, 300 pessoas transgénero estavam a realizar ou a iniciar terapia hormonal no Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa, “um universo populacional bastante significativo”.

Mariana Silva disse, contudo, que “nem todas vão recorrer a intervenções cirúrgicas”, comentando que “é uma decisão muito pessoal”.

Sobre quem recorre a estes cuidados, disse que tem vindo a observar-se uma mudança: “Enquanto há uns anos era uma população à volta dos 30, 40 anos, agora é uma população bastante mais jovem na casa dos 20 anos e até com menos de 18 anos”.

Na semana passada, o BE propôs criar um regime específico para garantir o exercício do direito à autodeterminação da identidade de género nas escolas, respondendo assim à decisão do Tribunal Constitucional que determinou que esta regulamentação era competência exclusiva do parlamento.

Quando em 2021 o Tribunal Constitucional “chumbou” a regulamentação pelo Governo da autodeterminação da identidade de género nas escolas por considerar que a matéria era competência exclusiva da Assembleia da República, o BE já tinha avançado com um projeto de lei para colmatar essa situação, mas com a dissolução do parlamento no final do ano passado esse foi um dos diplomas que caiu, tal como os do PS e do PAN sobre o mesmo tema.

ZAP // Lusa

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