Ministra em lágrimas, deputada do PS pediu para apagar declaração da IL

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Tiago Petinga / Lusa

A ministra da Coesão Territorial, Ana Abrunhosa

Deputado da Iniciativa Liberal pediu a demissão de Ana Abrunhosa. Deputada do PS interrompeu-o e pediu para gravação ser apagada.

A polémica à volta do marido da ministra da Coesão Territorial chegou rapidamente ao Parlamento.

Duas empresas detidas parcialmente pelo marido de Ana Abrunhosa terão beneficiado de centenas de milhares de euros em fundos comunitários.

Um aparente conflito de interesses – Abrunhosa gere os fundos comunitários – que levou dois deputados a sugerir a demissão da ministra.

Nesta quarta-feira houve audição com a ministra da Coesão Territorial e, quanto chegou a vez de Bruno Nunes, o deputado do Chega fugiu aos assuntos da audição, nas suas primeiras palavras.

“Quando vinha para aqui, recebi uma SMS urgente. E pensei que, hoje, íamos chegar aqui e falar sobre a sua demissão. Afinal, não. Se calhar estamos agora a comentar estes assuntos e na próxima semana teremos de falar sobre isto outra vez com o novo ministro porque, depois do almoço, ou vai demitir-se, ou vai ser demitida“, comentou Bruno Nunes.

Ana Abrunhosa nem respondeu a qualquer pergunta do deputado do Chega (que levantou questões depois) mas, logo a seguir, foi novamente confrontada, por Carlos Guimarães Pinto.

O deputado da Iniciativa Liberal (IL) repetiu o apelo à demissão: “A situação do seu marido pode ser perfeitamente legal mas o conflito ético é evidente. Aqui só há duas alternativas: ou as empresas do seu marido devolvem os fundos, ou a ministra demite-se. É que a terceira opção é passar o resto do mandato passar como nódoa negra do seu Governo”, considerou.

Durante a sua intervenção, começou a ouvir-se a voz de Isabel Guerreiro, deputada do Partido Socialista (PS), a tentar interromper o discurso de Guimarães Pinto.

Depois, Isabel falou, revoltada: “Com a devida vénia e máximo respeito (pela presidente da comissão), as organizações têm o seu funcionamento. O funcionamento da Assembleia da República é rigoroso. Eu não posso vir para aqui alegar factos que não estão relacionados com a ordem de trabalhos. Não posso falar, estou impedida”.

“Eu faço o ponto de ordem à mesa. O deputado não pode vir para aqui dizer o que disse e depois continuar a falar como se não tivesse acontecido nada. Por esse facto, acho que essa gravação deve ser retirada e esta parte deve retirada da acta; não pode constar”, completou.

Luís Gomes, deputado do Partido Social Democrata (PSD), criticou o pedido da deputada do PS: “Quis apagar declarações de deputados e soubemos o que foi voltar o lápis azul à democracia e ao sistema político português”.

Quando Bruno Nunes (Chega) voltou a falar, recusou fazer novas perguntas à ministra e explicou porquê: “Hoje, ao fim do dia, já não será ministra”.

Mais perto do final da audição, Ana Abrunhosa, em lágrimas, contrariou Isabel Guerreiro e pediu que não se apagasse qualquer gravação.

O deputado da Iniciativa Liberal elogiou esta postura da ministra e repetiu: os fundos recebidos das empresas do seu marido devem ser devolvidos.

Entretanto o PS pediu desculpa à IL, através de uma conversa entre os deputados Pedro Delgado Alves e Rodrigo Saraiva. “Este assunto está sanado, esclarecido e registamos positivamente esse reconhecimento do PS de uma má prática e de uma má atitude de uma deputada”, relatou o líder da bancada parlamentar dos liberais.

Nuno Teixeira da Silva, ZAP //

8 Comments

  1. Neste caso concreto até acredito que não haja favorecimento ao marido da ministra. Quem conhece sabe que é um empresário com capacidade reconhecida. O problema é que esta ministra tem outra história muito mal contada nos tempos em que queria ser presidente da CCDRC (e foi mesmo). Essa sim foi uma decisão judicial altamente discutível.

    • “Neste caso concreto até acredito que não haja favorecimento ao marido da ministra.”
      Sim, até porque empresas criadas 15 dias antes de submeter processos de obtenção de fundos comunitários, e a criação de produtos veterinários ?!?! com água termal são coisas que fazem todo o sentido.
      Onde há fumo “há golas inflamáveis”….

  2. Ministra da coesão, quando a coesão é pouca no seio do governo. Antes pelo contrário, desunião como aquela que ela demonstrou, mandando um beijo solidário ao tolo dos dois aerportos, contrapondo-se à atuação de Costa no emendar do erro.

  3. O RC desconhece o assunto que aborda. Sim, há vários casos de empresas recém-criadas com candidaturas aprovadas. De resto, os diferentes programas de apoio geralmente não impedem esse facto. São múltiplos os casos em que isso pode ocorrer (apenas um exemplo: grupo de empresas no setor industrial ou da construção civil, e que agora quer entrar no setor hoteleiro; geralmente é criada uma nova empresa). Estou muito por dentro deste tema e há imensas situações perfeitamente legítimas e corretas.

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