Cheney e Pence têm a Casa Branca na mira. Pode um opositor de Trump ganhar o bilhete Republicano em 2024?

3

Liz Cheney e Mike Pence estão a posicionar-se como dois Republicanos anti-Trump com possíveis ambições presidenciais, apesar das perspectivas de vitória no partido serem reduzidas devido à influência do ex-Presidente.

A derrota de Liz Cheney nas primárias republicanas no Wyoming — o estado que deu a maior margem de vitória a Donald Trump nas presidenciais de 2016 — veio acabar com a sua esperança de ser reeleita para o Câmara dos Representantes nas eleições intercalares de Novembro.

A congressista Republicana tornou-se uma das mais ferozes opositoras de Donald Trump, tendo votado a favor da sua destituição e sendo a vice-presidente da comissão parlamentar que está a investigar a insurreição dos apoiantes do ex-Presidente dos Estados Unidos a 6 de Janeiro de 2021.

Esta oposição acabou por lhe sair cara, já que foi derrotada por Harriet Hageman,  candidata que recebeu o apoio de Trump, nas primárias Republicanas com a maior taxa de participação nos 132 anos de existência do estado do Wyoming — um sinal do poder de mobilização que o ex-Presidente tem na base do partido.

Mas a filha de Dick Cheney não é a única opositora do ex-chefe de Estado que acabou por ser castigada nas urnas. Dos 10 congressistas Republicanos que votaram a favor da destituição de Trump, quatro perderam primárias, quatro decidiram não se recandidatar e apenas dois estarão no boletim de voto em Novembro e poderão ser reeleitos. Mais do que nunca, o partido Republicano é agora o partido de Trump.

 

No entanto, esta derrota eleitoral não significa que Cheney cairá no “esquecimento político”, como garantiu Trump, pelo menos por enquanto, já que uma corrida à Casa Branca pode ser o próximo passo.

“É algo em que estou a pensar, vou tomar uma decisão nos próximos meses”, disse a congressista à NBC quando questionada sobre as suas ambições presidenciais. Cheney promete ainda que vai fazer “o que for preciso para manter Donald Trump fora da Sala Oval”.

Namoriscar com a possibilidade de uma candidatura à presidência no rescaldo de uma grande derrota eleitoral pode parecer arriscado — e a verdade é que Cheney tem muitos obstáculos a ultrapassar caso queira ser uma verdadeira pedra no sapato de Trump, que já deu a entender que se quer recandidatar em 2024.

Tal como os resultados nas primárias têm mostrado, Trump tem uma enorme influência no eleitorado Republicano e nem os escândalos com as buscas do FBI à sua casa, as suspeitas de fraude fiscal nas suas empresas ou as revelações nas audiências da comissão que investiga o 6 de Janeiro afectam a sua popularidade.

Mesmo que Trump acabe por cair na desgraça dos eleitores ou que seja legalmente impedido de se recandidatar fruto das várias investigações de que tem sido alvo, é pouco provável que Cheney seja a candidata Republicana nas presidenciais, já que há outros nomes, como o Governador da Flórida Ron DeSantis — um apoiante de Trump que se tem progressivamente afastado do ex-Presidente com um possível confronto em 2024 em mente —  que são vistos como alternativas mais viáveis.

Uma sondagem da YouGov da semana passada confirma estes cenários. Apenas 14% dos Republicanos têm uma opinião favorável de Cheney enquanto que uns esmagadores 67% têm uma visão negativa da congressista.

Na verdade, Cheney é mais popular com os Democratas — 59% têm uma opinião favorável contra 20% com opiniões desfavoráveis —, mas este apoio de nada serve nas primárias Republicanas para a presidência.

Perante este cenário desfavorável, é também possível que a congressista esteja apenas a usar a especulação sobre uma corrida à Casa Branca para se manter politicamente relevante, como lembra Aaron Blake no The Washington Post.

Ou a candidata pode também ter apenas um único objectivo em mente — parar Trump. Fazer um oposição vincada ao ex-Presidente cara a cara num debate pode  ser um método muito mais eficaz do que os ataques feitos até agora, já que a mensagem chegaria directamente à base Republicana e livre da influência dos media conservadores pró-Trump.

Pence também tem a Casa Branca em mente

Outro opositor de Trump que pode ter a presidência na mira é Mike Pence. Apesar de ter sido o número 2 de Trump, a relação dos dois azedou depois de Pence ter recusado participar no golpe para a anulação da vitória eleitoral de Joe Biden.

Desde então que Pence se tornou um dos principais alvos de Trump e também recebeu imensas ameaças dos seus apoiantes, que a 6 de Janeiro gritavam que queriam “enforcar Mike Pence“.

O ex-vice-presidente tem usado estes ataques a seu favor e tem tentado posicionar-se como um dos poucos rostos dos Republicanos que não é leal a Trump. Recentemente, Pence passou um raspanete aos seus colegas de partido que têm atacado o FBI depois das buscas à casa de Trump.

“Eu quero lembrar os meus colegas Republicanos que podemos responsabilizar o procurador-geral pela decisão que tomou sem atacar os funcionários no FBI. O partido Republicano é o partido da lei e ordem. O nosso partido está ao lado dos homens e mulheres que nos servem no nível federal, estadual e local. E estes ataques ao FBI têm de parar”, condenou numa visita a uma Universidade no New Hampshire.

No mesmo evento, Pence voltou a desafiar a linha dominante no partido ao mostrar-se disponível para testemunhar perante a comissão que está a investigar o assalto ao Capitólio: “Se houver um convite para participar, consideraria aceitar”.

O local onde estas afirmações foram feitas também não foi por acaso, já que o New Hampshire é o segundo estado a ir a votos nas primárias presidenciais. Nos dias 19 e 20 de Agosto, Pence vai também marcar presença na feira estadual do Iowa, que é o primeiro estado a votar nas primárias e cujo resultado pode ser determinante no impulso que é dado (ou retirado) a uma campanha presidencial.

Tudo isto parece indicar que Pence tem uma candidatura à Casa Branca nos planos, posicionando-se como um Republicano anti-Trump e competindo com Cheney por este eleitorado.

Nesta competição a dois, Pence parte com uma grande vantagem em relação a Chenei, já que, apesar do seu desentendimento com Trump, 63% dos eleitores Republicanos continuam a ter uma opinião favorável sua, de acordo com a mesma sondagem da YouGov.

Por enquanto, tudo parece indicar que Trump é o favorito e qualquer Republicano que seja seu opositor parece destinado a fracassar. No entanto, pode ser que a acumulação de escândalos faça mossa nas perspectivas de reeleição do ex-Presidente — e caso esse cenário se concretize, Cheney e Pence parecem estar prontos para atacar.

Adriana Peixoto, ZAP //

Siga o ZAP no Whatsapp

3 Comments

  1. Se calhar era altura de o Partido Republicano se dividir em 2, originando um partido trumpetista e alargando o expectro partidário americano (estranhamente centrado só em 2 partidos).

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.