Nancy Pelosi é a mais importante representante norte-americana a visitar Taiwan, em 25 anos. Na visita, expressou “solidariedade” com Taiwan e reforçou o compromisso dos EUA com a região, irritando a China.
Ministros de Alemanha, Canadá, EUA, França, Itália, Japão, Reino Unido e o alto representante da União Europeia para as relações externas expressaram preocupação “com as anunciadas ações ameaçadoras da República Popular da China, em particular exercícios de tiro real e coerção económica”.
Os ministros dos Negócios Estrangeiros do G7 expressaram o seu compromisso conjunto com a manutenção da ordem internacional, alertando para uma “escalada desnecessária” por parte da China no Estreito de Taiwan.
Os ministros consideraram que “não há justificação para usar a visita [da presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Nancy Pelosi, a Taiwan] para uma atividade militar agressiva no Estreito de Taiwan”.
Depois de afirmarem que “é normal e uma rotina para os eleitos” dos seus países “viajarem internacionalmente”, os ministros consideraram que “a resposta da República Popular da China arrisca aumentar a tensão e desestabilizar a região“.
Apelaram a Pequim para que “não altere unilateralmente a situação pelo uso da força na região e que se resolvam por meios pacíficos as diferenças através do Estreito”.
Os ministros e o alto representante também garantiram que os membros do G7 não mudaram as políticas relativas à China e a Taiwan.
Nancy Pelosi, presidente do Congresso norte-americano, chegou na noite de terça-feira a Taiwan e visitou o Parlamento. Encontrou-se ainda com a chefe de Estado da República da China, Tsai Ing-wen, a quem transmitiu “apoio”.
Pelosi permaneceu menos de 24 horas em Taiwan, visitando o Parlamento de Taipé antes da reunião com a chefe de Estado da República da China, Tsai Ing-wen.
Em resposta, o Exército Popular de Libertação enviou na terça-feira 21 aviões militares para a Zona de Identificação da Defesa Aérea de Taiwan, de acordo com o Ministério da Defesa da República da China em comunicado.
Paralelamente, Pequim impôs, pelo segundo dia consecutivo, sanções comerciais a Taiwan proibindo a importação de citrinos, rebentos de bambu congelados e dois tipos de peixe, bem como a bloqueou a exportação de areia para a República da China.
O chefe da diplomacia de Pequim, Wang Yi, disse hoje que “aqueles que ofendem a China devem ser punidos de forma inelutável” referindo-se à visita de Nancy Pelosi, presidente do Parlamento norte-americano.
Momentos depois de Pelosi ter aterrado na terça-feira em Taiwan — território que a China reivindica como uma província separatista a ser reunificada pela força caso necessário —, Pequim anunciava que entrava em “alerta máximo” e que ia lançar “uma série de operações militares“, que classificou como “contramedidas”.
“Os exercícios estão a começar”, disse a televisão estatal chinesa CCTV numa mensagem publicada na rede social Weibo — muito semelhante ao Twitter — pouco depois das 12h locais (5h em Lisboa).
Os exercícios estão programados até domingo e abrangem seis zonas marítimas e aéreas em redor da ilha. Incluem “disparos reais de longo alcance” e “testes de mísseis convencionais”, informa a estação.
“Esta é a nossa mensagem firme para os dirigentes mal-intencionados e as forças separatistas que querem a independência de Taiwan”, afirmou Gu Zhongm, um responsável da região militar Leste do Exército de Libertação Popular (ELP), à CCTV.
O Exército chinês anunciou entretanto que disparou vários mísseis para a água na costa Leste de Taiwan. As autoridades da ilha denunciaram o lançamento de mísseis também a Nordeste e Sudeste, e cerca de 10 navios da Marinha chinesa a atravessarem a “linha média” que separa as águas territoriais da China e de Taiwan.
Segundo as coordenadas avançadas pelo exército chinês, em certos locais, as operações vão aproximar-se até 20 quilómetros da costa de Taiwan.
VIDEO: Chinese military helicopters fly past Pingtan island, one of mainland China’s closest points to Taiwan, in Fujian province on Thursday.
China has begun massive military drills off Taiwan following US House Speaker Nancy Pelosi’s visit to the self-ruled island pic.twitter.com/7czzPNQbNp
— AFP News Agency (@AFP) August 4, 2022
“Preparar para a guerra sem procurar a guerra”
As forças armadas de Taiwan informaram esta quinta-feira que se estão a “preparar para a guerra sem procurar a guerra”, momentos depois da China ter iniciado as maiores manobras militares da história em torno da ilha.
“O Ministério da Defesa Nacional sublinha que respeitará o princípio de se preparar para a guerra sem procurar a guerra“, informou em comunicado.
A China iniciou hoje os exercícios militares, que incluem fogo real, nas imediações de Taiwan, noticiou a televisão estatal chinesa CCTV. Washington tem também um porta-aviões e outro equipamento naval na região.
As manobras militares surgem em resposta à visita da congressista norte-americana Nancy Pelosi a Taiwan, vista como uma grave provocação pela China.
Pequim reclama a soberania sobre a ilha e considera Taiwan uma província “rebelde”, desde que os nacionalistas do Kuomintang se retiraram para a ilha em 1949, depois de perderem a guerra civil contra os comunistas.
Poder de Xi Jinping posto à prova
A mensagem que Nancy Pelosi foi transmitir à ilha, que se vê como independente, é que “Os Estados Unidos não vão abandonar Taiwan”.
A visita reacendeu as tensões entre EUA e China e, apesar de os receios dos mercados parecerem já estar a aliviar, o agravamento chega numa altura em que Xi Jinping poderá querer dar mostras de poder.
“Para Xi Jinping, esta é uma janela realmente crítica entre agora e o 20.º Congresso do Partido”, explicou Jude Blanchette, do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, em declarações à Bloomberg.
Blanchette referia-se ao importante congresso, no qual o atual líder vai concorrer a um terceiro mandato, à frente da segunda maior economia do mundo.
“Não poderá realmente dar-se ao luxo de ser visto como fraco. É por isso que há uma preocupação significativa sobre até onde é que [as tensões entre EUA e China] podem ir”, acrescenta o especialista, citado pelo Jornal de Negócios.
A China é o maior parceiro comercial de Taiwan, com o comércio bilateral avaliado em 328,3 mil milhões de dólares no ano passado, dando a Pequim vantagem estratégica.
“Alguma estabilidade voltou aos mercados após o aumento da volatilidade observado durante a sessão de negociações de terça-feira e desencadeado por comentários agressivos da Fed, juntamente com o aumento das tensões entre EUA e China sobre a visita de Nancy Pelosi a Taiwan”, referiu Pierre Veyret, analista da ActivTrades.
No entanto, ainda há pouca clareza sobre se a China irá reforçar o contra-ataque aos EUA, fazendo com que os investidores se foquem novamente na geopolítica.
O exército chinês disparou vários mísseis para a água na costa leste de Taiwan. PEIXINHOS, FUUUJAAAAMMMM!!!…