“Interrogatórios brutais e revistas corporais humilhantes” nos “campos de filtragem” russos

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EPA/Mykola Tys

Um relatório da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) publicado esta quinta-feira descreve a situação “alarmante” nos campos de filtragem para onde são enviados civis ucranianos.

A OSCE está “seriamente preocupada” com o tratamento de Moscovo aos civis ucranianos em “campos de filtragem” projetados para identificar os suspeitos de ligações com as autoridades ucranianas, segundo um relatório publicado esta quinta-feira, citado pela agência Lusa.

“Segundo testemunhas”, este procedimento “envolve interrogatórios brutais e revistas corporais humilhantes”, escrevem os três autores do relatório de 115 páginas – ao qual a agência AFP teve acesso -, sublinhando que esta situação é “alarmante”.

O documento, produzido para a OSCE, indica que os ucranianos retirados de cidades cercadas, como o porto estratégico de Mariupol, ou aqueles que saem de territórios ocupados por tropas russas, são obrigados a transitar por esses centros.

“Os seus dados pessoais são registados, as suas impressões digitais tiradas e os seus documentos de identidade copiados”, detalha o relatório. Aparentemente, o objetivo é determinar se as pessoas lutaram do lado ucraniano ou se têm ligações com o regimento militar ucraniano Azov ou com as autoridades ucranianas.

“Se assim for, essas pessoas são separadas das outras e muitas vezes simplesmente desaparecem”, dizem os especialistas, dois dos quais viajaram para a Ucrânia em junho para concluir o seu trabalho, que tem com base várias fontes.

“Alguns são transferidos” para as autoproclamadas Repúblicas de Luhansk e Donetsk [que só foram reconhecidas por Moscovo], “onde são detidos ou até mortos”, segundo os autores do relatório.

Aqueles que passam no teste “são frequentemente enviados para a Rússia, “com ou sem o seu consentimento”.

De acordo com o relatório, estas pessoas, uma vez na Rússia, recebem a promessa de emprego e moradia gratuita. Estes cidadãos certamente são livres para se movimentar, mas “muitas vezes não têm informações suficientes, dinheiro ou telefone” para poder deixar o país, observa o relatório.

Kiev tem vindo a denunciar há várias semanas “deportações” que afetaram mais de um milhão de ucranianos enquanto Moscovo assegura que o seu único objetivo é permitir que os civis “saiam” de “áreas perigosas”.

Existem “cerca de 20 dessas estruturas” de filtragem, disse Yevhenii Tsybalium, embaixador da Ucrânia na OSCE, citado no documento.

Este é o segundo relatório da OSCE desde o início do conflito no âmbito do chamado mecanismo “Moscovo”, no qual a Rússia recusa-se a cooperar. Abrangendo o período de abril a junho, confirma a descoberta de “claras violações de direitos” que podem constituir crimes de guerra e crimes contra a humanidade.

A OSCE, criada em 1975, no coração da Guerra Fria, para promover o diálogo Leste-Oeste, realizou uma iniciativa semelhante em 2018 para examinar crimes na Chechénia contra pessoas LGBTIQ+ ou ainda após as eleições alegadamente fraudulentas e a repressão da oposição na Bielorrússia em 2020.

Lusa //

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