O chefe de Estado está a ser alvo de críticas pela sua inacção perante o problema da violência armada. Apenas 33% dos inquiridos de uma nova sondagem aprovam o trabalho do Presidente.
Joe Biden foi interrompido pelo pai de uma vítima de um tiroteio em massa durante um evento da Casa Branca que assinalava a aprovação de uma lei federal para o controlo de armas.
Na intervenção, Biden afirmou que a violência armada transformou os Estados Unidos em “campos de execução” e que a nova lei é um “começo importante” e uma “conquista histórica“.
O chefe de Estado agradeceu aos presentes, onde se incluíam muitos activistas e associações que defendem as reformas das leis das armas. “Por causa do vosso trabalho e da vossa coragem, vidas serão salvas hoje e amanhã. Não vamos salvar todos da epidemia da violência armada, mas se esta lei estivesse em vigor há anos ou até só este ano, vidas teriam sido salvas”, afirmou.
No entanto, Biden reconhece que a lei não chega. “É hora de galvanizar este momento porque é o nosso dever para o povo desta nação. Devemos isto às famílias de Buffalo, onde um supermercado se tornou um campo de execução. Devemos isto às famílias em Uvalde, onde uma escola primária se tornou um campo de execução. É isto que devemos às famílias em Highland Park, onde a parada do 4 de Julho de tornou um campo de execução”, declarou.
“Estamos a viver num país inundado com armas de guerra. As armas são a principal causa de morte de crianças nos Estados Unidos, mais do que acidentes de carro ou o cancro”, atirou, visivelmente frustrado.
Biden falou ainda da Segunda Emenda da Constituição, que garante o direito aos cidadãos de terem armas e é o principal argumento usado contra o aperto das leis.
“Com direitos há também responsabilidades. Sim, há um direito a estar armado, mas também temos o direito de viver livremente sem temer pelas nossas vidas, num supermercado, numa sala de aula, num parque infantil, num local de culto religioso, numa discoteca, nas ruas. O direito às armas não é um direito absoluto que domina todos os outros”, afirmou.
O Presidente dos Estados Unidos estava a fazer o discurso quando foi interpelado por Manuel Oliver, cujo filho de 17 anos Joaquin morreu no tiroteio na escola secundária de Parkland em 2018, que vitimou mortalmente 14 estudantes e três funcionários. “Temos de fazer mais que isso!“, gritou.
Inicialmente, Biden disse-lhe para se sentar e ouvir o que tinha dizer, mas o chefe de Estado acabou depois por dizer “deixem-no falar, deixem-no falar”. No entanto, os seguranças já tinham escoltado Oliver.
“O que é que é suposto eu fazer aqui hoje? Ouvir um pacote de leis que não resolve o problema que está a matar pessoas todos os dias na América? Bater palmas e ficar feliz? Fazer parte da celebração? Esse não sou eu. Recebemos um convite chique da Casa Branca, como se viéssemos a um casamento”, declarou à saída do evento.
O activista garante que votou em Biden e que participou na campanha que o elegeu, mas que simplesmente lhe disse: “Presidente Biden, você pode fazer mais“.
Oliver já tinha deixado bem clara a sua reacção à aprovação da lei, tendo escrito no Twitter que “a palavra CELEBRAÇÃO não tem lugar numa sociedade que viu 19 crianças serem massacradas há um mês”, referindo-se ao tiroteio na escola primária de Uvalde, no Texas.
“Não há nada para se celebrar aqui”
O novo pacote legislativo inclui medidas que ajudam os estados a bloquear o acesso às armas de pessoas que já estejam sinalizadas como sendo um perigo para si mesmas ou para a sociedade, proíbe as vendas a quem tiver sido condenado por violência doméstica e aumenta os requisitos para os mais jovens poderem comprar uma arma legalmente.
A lei é a mudança mais significativa na política das armas nos Estados Unidos desde a ilegalização temporária das armas de assalto aprovada em 1993, mas está a ser criticada por ser pouco ambiciosa.
Várias das propostas dos Democratas acabaram por não sair da gaveta, como a proibição da venda de armas de estilo militar ou a imposição de uma taxa de 1000% sobre as armas de assalto.
As negociações são especialmente difíceis devido ao controlo que o lobby da Associação Nacional de Armas tem sobre os políticos norte-americanos, especialmente no Partido Republicano, que se recusa a aprovar medidas mais duras.
“Simplesmente não há nada para se celebrar aqui. É histórico, mas é o mínimo que o Congresso deve fazer. Tal como fomos lembrados pelo tiroteio de 4 de Julho e as muitas outras mortes com armas que aconteceram desde então, a crise da violência armada é muito mais urgente“, revela Igor Volsky, director do grupo Guns Down America, à Associated Press.
Volsky também não poupou nas críticas a Biden: “Temos um Presidente que não está a responder ao momento, que escolheu agir como um espectador neste assunto”.
De momento, Volsky não parecer ser o único que está frustrado com Biden, que tem sido acusado de não fazer o suficiente na luta contra a violência armada e também noutros temas, como o aborto, o custo de vida ou as alterações climáticas.
Uma sondagem do The New York Times concluiu que a popularidade de Biden bateu um novo recorde mínimo, com apenas 33% dos inquiridos a aprovar a sua actuação como chefe de Estado.
E apesar de Biden já ter dito que se tenciona recandidatar à Casa Branca em 2024, 64% dos eleitores Democratas acreditam que o partido deve escolher outro candidato. Também apenas 13% dos inquiridos consideram que o país está no caminho certo, o valor mais baixo registado nas sondagens do Times desde a crise financeira de 2008.