Patrões têm opiniões diferentes sobre a estratégia do Governo, relembrando que a estratégia seguida durante a pandemia não foi a melhor.
O dia de ontem ficou marcado pelas reuniões dos membros do Executivo de António Costa para a apresentação do Orçamento do Estado para 2022 aos partidos e aos parceiros sociais, estes últimos em sede de concertação social. Apesar das linhas gerais do documento serem as mesmas das apresentadas em outubro do último ano, são incontornáveis as medidas que visam atenuar os efeitos da inflação — fenómeno que já se vinha a sentir desde o final do ano passado — e da guerra na Ucrânia, sobretudo no que respeita ao setor energética e aos alimentos.
A resposta do Governo foi elogiada pelos patrões, apesar de apontarem que as medidas podem surgir tardiamente, temendo também que os apoios direitos só cheguem às empresas após processos demasiado burocráticos. Estes foram alguns dos pontos defendidos por António Saraiva, presidente da Confederação Empresarial de Portugal. “As medidas que o Governo anunciou são boas medidas, mas se pensarmos se vão resolver o problema, não vão, são paliativos“.
O dirigente realçou ainda o atraso do executivo de António Costa no que respeita às medidas mais recentes, que diz pecarem por tardias. Usou ainda como termo de comparação “outros países” que o fizeram “há semanas“. De acordo com o Expresso, António Saraiva criticou em concreto a medida anunciada na última semana pelo primeiro-ministro de que visa a redução do ISP para valores equivalentes à descida do IVA para 13% nos combustíveis — a qual surgiu face à ausência de resposta da Comissão Europeia sobre a descida do IVA.
Sobre este ponto, o líder dos patrões notou que “outros países já a tomaram, independentemente da vontade boa ou má da União Europeia“. Vivemos um tempo que “exige ousadia e rapidez de resposta”, sublinhou António Saraiva. A ocasião foi também aproveitada para deixar críticas ao Governo pela resposta dada à crise causada pela pandemia. “Portugal foi o país que menor ajuda deu à economia em percentagem do PIB — apenas 3% — no quadro da pandemia”, pelo que o representante defendeu que a receita a aplicar não seja a mesma e “não se peque novamente por uma resposta tardia”.
Um dos temas mais falados nas últimas semanas tem que ver com hipotéticas subidas dos salários, uma possibilidade que o Governo tem afastado por defender que estes valores seriam rapidamente absorvidos pela subida dos preços. Confrontados com esta possibilidade, António Saraiva também a afastou. “As empresas estão a sofrer aumentos brutais dos seus custos de produção. É impossível acompanharem ao nível salarial esta inflação de um dia para o outro”.
João Vieira Lopes, presidente do Comércio e Serviços de Portugal partilhou da mesma opinião, defendendo que “as micro e pequenas empresas não têm capacidade de acompanhar a inflação em termos de aumentos salariais”. Como tal, o representante aponta que a resposta tendo em vista o conservar do poder de compra das famílias tem que ser operada pelo Governo, na perspetiva da fiscalidade. No entanto, João Vieira Lopes sublinhou que na reunião “não ficou claro quais vão ser as opções de fundo em termos de orçamento”.
Já sobre as medidas recentemente anunciadas e direcionadas para combater os aumentos dos preços da energia, o representante afirmou que estas são “positivas” — apesar de querer ver com detalhe e o impacto da aplicação das mesmas em diversos setores. Deixou, no entanto, críticas ao foco do Governo no cumprimento do défice.
No que respeita aos sindicatos, os seus dirigentes manifestaram opções diferentes. No caso da CGTP, Andrea Araújo, defendeu que o Orçamento dos Estado para 2022 tem “medidas muito escassas” ao nível da proteção dos trabalhadores face à escalada de preços. No seu entender, o documento “devia responder à urgência do aumento geral dos salários” daí que a central sindical aponte como necessidade “urgente” a revisão do salário mínimo nacional para este ano.
Já a UGT, pela voz da sua presidente, Lucinda Dâmaso, afirmou que no contexto da reunião “a preocupação com os rendimentos dos trabalhadores não se dissipou”, apesar de ter saído mais esclarecida. Segundo a líder sindical, Fernando Medina, ministro das Finanças, garantiu que a proteção dos salários não iria ocorrer por via de aumentos salariais diretos, “mas por outras medidas que serão tomadas para evitar que determinados produtos para evitar que determinados produtos sofram aumentos, para apoiar as empresas muito dependentes da energia e também com apoios a famílias mais vulneráveis“.
Após a reunião, António Saraiva também adiantou que está prevista a finalização do acordo de competitividade e rendimentos “até junho“, depois de a pandemia ter interrompido as negociações na primavera de 2020. “Há urgência, na minha perspetiva, de celebrar esse acordo”, defendeu o dirigente. “Acredito que até junho é possível”, disse. “Temos já caminho feito que minora o tempo que precisaríamos de gastar se fôssemos agora iniciar um texto que parte do zero”, referiu, citado pelo Diário de Notícias.