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Pressão social leva indianas a tornarem-se mães aos 70 anos

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BBC

Rajo Devi, de 75 anos, com a filha Naveen, de 5 anos

Rajo Devi, de 75 anos, com a filha Naveen, de 5 anos

Rajo Devi, de 75 anos, é uma das mulheres no Estado indiano de Haryana, no norte do país, que gastou as economias da família para fazer um tratamento de fertilidade em idade avançada.

A filha Naveen, nascida há 5 anos, gosta de brincar, vestir-se com roupas bonitas e chamar a atenção da mãe, mas a senhora já não consegue correr atrás da pequena pela casa.

“Viver sem uma criança era viver na escuridão. Só uma criança pode trazer a luz”, disse à BBC.

Rajo Devi foi rejeitada pela sua família por não conseguir engravidar e diz que os seus cunhados a desprezavam. “Os moradores da minha localidade não queriam ver o meu rosto porque eu era infértil.”

Quando Rajo fez 70 anos – e o marido tinha 73 -, juntaram as suas economias, cerca de cinco mil dólares, e foram a uma clínica privada de fertilização. Foi assim que nasceu Naveen.

A maioria dos países têm regras que recomendam uma idade máxima de 45 anos para as mulheres que se submetem à fertilização in vitro.

O NHS, o sistema nacional de saúde britânico, financia o procedimento em mulheres até 42 anos. No Brasil, o limite de 50 anos de idade foi estabelecido em 2013 pelo Conselho Federal de Medicina (CFM).

Mas a Índia, onde não há idade máxima, tem registado casos de mulheres de 60 e 70 anos à procura do tratamento.

O governo admite que centenas de mulheres idosas estão a ser forçadas a engravidar em áreas rurais, onde a infertilidade traz vergonha e estigma social – e onde há clínicas privadas irregulares.

Sem escolha

Rajo Devi acabou por admitir que não pretendia ter um filho em idade tão avançada. “O mundo é dos homens e as mulheres aqui não têm escolha”, afirma.

Há cerca de duas mil clínicas irregulares na Índia que fazem inseminação artificial em mulheres idosas. Foi a uma delas que o casal recorreu, o Centro Nacional de Fertilização.

O médico Anurag Bishnoi, que trabalha na clínica, diz que o procedimento exclui mulheres com hipertensão, diabetes e outras doenças.

“Só aceitamos os pacientes se a mulher estiver fisicamente apta a fazer o procedimento”, afirma.

O médico diz que alguns dos riscos da fertilização in vitro em mulheres idosas são minimizados se forem usados óvulos de mulheres mais jovens.

No entanto, há cada vez mais pessoas preocupadas com os riscos para a saúde da mãe e com o direito da criança a ter pais presentes.

Agora, o Conselho Nacional de Investigação Médica indiano está a desenvolver uma legislação que cubra todos os aspectos dos procedimentos de reprodução assistida, incluindo, pela primeira vez, um limite máximo de idade.

“A saúde da mulher infértil também corre riscos. Muitas questões sociais e éticas devem ser consideradas, assim como desenvolvimento da criança”, diz o representante do órgão, R. S. Sharma.

A pequena Naveen já diz que quer ser médica, mas os seus pais, que já são mais velhos até do que a esperança média de vida na Índia, provavelmente não viverão para ver a filha realizar o seu sonho.

ZAP / BBC

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