Catarina Martins desafia Costa a avançar já com o aumento das pensões e diz que o BE não se arrepende do chumbo do OE

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Mário Cruz / Lusa

A líder bloquista criticou as prioridades do Governo e lembra que algumas das medidas previstas para este ano podem avançar já mesmo com a governação em duodécimos. Catarina Martins garante ainda que o BE não se arrepende do voto contra o OE, mesmo depois da penalização nas urnas.

Em entrevista ao Público, Catarina Martins foi perentória quando questionada sobre se notou uma aproximação entre o Bloco de Esquerda e o Governo. “Se a aproximação existisse tínhamos feito um OE”, respondeu a líder bloquista.

A coordenadora do Bloco de Esquerda pressionou ainda o Governo a avançar agora com algumas das medidas que estavam previstas, visto que a repetição do voto dos emigrantes vai atrasar ainda mais o início da legislatura e o fim da governação em duodécimos.

“O Governo está em gestão e tem de se comportar como tal. Mas há algumas medidas que podiam ter avançado e não avançaram porque o Governo não quis até agora, quando os orçamentos anteriores deram essa margem”, refere, sublinhando os o prolongamento do subsídio social de desemprego, as contratações no Serviço Nacional de Saúde ou as autorizações para se comprar equipamento.

O aumento extraordinário das pensões também pode avançar porque “já houve o ano passado”. “O Governo está a gerir o país de acordo com as normas do OE2021, por isso tem essa margem, uma vez que é o OE passado que se mantém em duodécimos enquanto não houver um novo”, pressiona a deputada.

Catarina Martins acusa o executivo de estar “sentado em cima do dinheiro” para fazer “um novo brilharete de défice”, mesmo com os problemas no SNS. “Ao mesmo tempo, já sabendo que o Parlamento ia ser dissolvido, o Governo foi capaz de assinar contratos de prospecção de lítio; ou de fazer alterações do ponto de vista de concursos a fundos e de benefícios fiscais em períodos em que não se percebe a quem é que se deveu essas alterações”, critica.

A legislação laboral foi um dos temas que levou ao “divórcio” entre os parceiros da geringonça e a coordenadora bloquista acredita que o PS vai continuar a usar a concertação social como um “veto” aos avanços, lembrando que o acordo dos parceiros de esquerda em 2019 veio “completamente desfeito” depois das reuniões com os patrões.

“Havia um impasse grande e o PS com maioria absoluta comportar-se-á como o PS sempre se comportou. Sempre se sentiu confortável com esse veto patronal“, aponta a líder bloquista que promete “fiscalizar” o Governo por saber das “tentações das maiorias absolutas” de “ocupar o aparelho de Estado com o partido”.

Extrema-direita é o “seguro de vida do centrão”

Olhando para as decisões passadas, Catarina Martins diz que o BE sabia dos riscos na hora de assinar o acordo com o PS em 2015, mas que o fez porque “era preciso travar a direita e a destruição que traria consigo”.

O Bloco foi também um dos grandes perdedores das legislativas, passando de 19 deputados para cinco, mas a líder garante que “não há ninguém no BE que ache que devíamos ter aprovado o OE” e mostra-se ciente das consequências deste voto, acreditando que “o pior que podia acontecer à esquerda era anular o seu mandato para ser um satélite do PS”.

Catarina Martins refere ainda que o que determinou os resultados das eleições foi um “enorme medo de uma governação condicionada pela extrema-direita“. “Resta saber aprender, construindo a alternativa fundamental de combate ao ressentimento e com isso combater a extrema-direita”, remata.

“Muita gente à esquerda, com medo, acabou por votar no PS. Todos nós conhecemos pessoas que no dia seguinte às eleições pensaram “não era uma maioria absoluta que eu queria”. Temos um “centrão” que dizendo “somos nós ou a barbárie” engorda de votos como o único que pode fazer frente à extrema-direita. É uma relação muito perigosa. A extrema-direita é o seguro de vida do centrão“, considera ainda.

Perante a tensão entre a Ucrânia e a Rússia, o Bloco de Esquerda voltou a recuperar uma das suas bandeiras mais antigas — a saída de Portugal da NATO. Catarina Martins considera “natural” que o tema regresse neste contexto e lembra que “quando houve reunião da NATO em Portugal estávamos a manifestar-nos contra ela”.

Adriana Peixoto, ZAP //

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