Já se sabia que as bactérias digestivas tinham “sexo” para trocarem genes que as ajudassem a resistir aos antibióticos. Agora, sabe-se que os micróbios usam este processo também para conseguirem transportar a vitamina B12.
Algures nos nossos intestinos é provável que estejam bactérias a ter “sexo” em nome da sua sobrevivência. Estes micróbios sorrateiros nas nossas tripas fazem-no com regularidade para poderem trocar informações sobre como sobreviver a doses fatais de antibióticos, nota o Science Alert.
As bactérias não têm genitais, pelo que não podem ter relações sexuais como as conhecemos, mas tecnicamente em Biologia, o termo “sexo” pode ser aplicado a qualquer processo que envolva a troca de material genético.
Ao formarem uma “união temporária” com outras bactérias, estes micróbios podem transferir os seus genes de uns para os outros, mesmo que não sejam da mesma espécie. Para isto, é apenas preciso que uma bactéria estique um tubo chamado pilus e que se ligue a outra, enviado-lhe um pacote de ADN quando estiver pronto.
A descoberta deste “sexo” entre as bactérias não é de agora, tendo já sido feita há mais de 70 anos. Mais recentemente descobriu-se que estas transferências de genes resistentes aos antibióticos estão sempre a acontecer e não se limitam apenas a quando as bactérias estão a ser atacadas.
Uma equipa de cientistas da Universidade do Illinois e da Universidade da Califórnia Riverside descobriu agora os genes específicos que as bactérias partilham e detalhou os resultados num estudo publicado na Cell Reports.
O estudo debruçou-se sobre um grupo de bactérias chamado Bacteroidetes, que compõe até 80% dos microbiomas humanos e são importantes na digestão. Estes micróbios têm de competir por recursos limitados no intestino grosso para colonizarem as nossas tripas e nos ajudarem a processar os hidratos de carbono.
Estes recursos limitados incluem a vitamina B12 e outros compostos associados, que alimentam o metabolismo da bactéria e a síntese de proteínas. Por esta razão, ter genes com um sistema transporte da vitamina B12 eficiente é uma mais-valia.
Os investigadores conseguiram agora descobrir os transportadores que são partilhados, confirmando assim que este “sexo” bacteriano não serve apenas para aumentar a resistência colectiva aos antibióticos.
“A troca horizontal de genes entre micróbios é provavelmente usada para qualquer coisa que aumente a sua probabilidade de sobreviver, incluindo a partilha de genes para o transporte da vitamina B12″, escrevem os autores.
Quando dois micróbios intestinais foram analisados em laboratório, a equipa notou que a bactéria que não conseguia sintetizar os transportes da B12 ligou-se à bactéria que conseguia. Depois do “sexo”, ambas já conseguiam transportar a vitamina e a bactéria que recebeu o pacote genético incorporou uma faixa adicional de ADN.
Os cientistas notaram ainda que as transferências genéticas entre bactérias da mesma espécie eram mais rápidas do que entre se as duas forem de espécies diferentes.
As conclusões sugerem que há uma pequena “barreira entre espécies” quando se trata de sexo bacteriano, mas mesmo assim, esta barreira não se compara à que existe nos mamíferos, por exemplo, que só se podem reproduzir entre si.