Tecnologia pode ser aplicada com apenas um pincel e uma camada de líquido que solidifica passados poucos minutos.
A neve e o gelo, quando em grandes quantidades e de forma acumulada, podem afetar consideravelmente o trabalho — a produção de energia — de um painel solar. Nos casos mais graves, pode até levar a danos irreversíveis nos dispositivos ou ao seu colapso. No entanto, um grupo de investigadores da Universidade do Michigain acredita ter concebido um painel transparente que, contra as mais terríveis condições atmosféricas, poderá manter os painéis solares operacionais e de forma autónoma.
De forma a testar a sua viabilidade, a equipa desenvolveu uma pesquisa entre dezembro e abril, numa quinta do Alasca onde as temperaturas podem descer até aos -35ºC. Para efeitos experimentais, deixaram alguns painéis destapados, ao passo que a outros aplicaram camadas de polímeros — numa película transparente — a outros — todos inclinados numa posição de 45º.
Durante o período de observação, os painés descobertos viram a neve cobrir 59% da sua cobertura, ao mesmo tempo que os revestidos tiveram apenas uma percentagem de 28%. Isto levou a equipa a concluir que os painéis gerassem mais 85% de energia com o revestimento durante os dias em que estas condições meteorológicas se fizeram sentir.
De acordo com o site New Scientist, o material usado no painel transparente — ou na cobertura — é uma combinação de triglicércios de meia cadeia, os quais podem ser extraídos do óleo de palma ou de coco, e de cloreto de polivinilo. A equipa de investigadores sugere ainda que o material poderá ter outras aplicações, nomeadamente para pára-brisas de automóveis ou para coberturas de sensores em carros autónomos. A parte mais positiva parece ser o facto de a cobertura poder ser aplicada apenas com um líquido e um pincel que garantem a solidez.
Para o sucesso da tecnologia, os investigadores acreditam que há dois mecanismos em jogo. Primeiramente, a camada impede que a neve e o gelo entrem em contacto com a superfície, o que reduz o atrito e permite que os materiais deslizem — a neve pode ter a densidade de apenas 0.1 gramas por centímetro cúbico, ao passo que o gelo pode ser nove vezes mais denso — esta diferença faz com que seja mais difícil a sua remoção.
“Normalmente, os revestimentos utilizados para derreter o gelo trabalham sob o seu próprio peso. Como tal, devido à variação na estrutura e densidade da neve, torna-se um desafio utilizar sempre as mesmas estratégias, descreve Anish Tuteja, principal autora da investigação, que foi publicada no Advanced Materials Technologies. “A técnica que desenvolvemos é uma das primeiras abordagens que funciona para ‘expulsar’ pequenos e grandes pedaços de gelo, ao mesmo tempo que também parece funcionar bem para a neve.”