A oferta de alojamento para arrendar em Lisboa destinado a universitários teve este ano “um grande aumento”, segundo o presidente da Associação Académica da Universidade de Lisboa, organismo que dá apoio neste campo aos estudantes deslocados.
As associações académicas dão, de acordo com André Machado, “um grande apoio aos estudantes que estão deslocados” e que “são uma boa parte da comunidade estudantil” da capital.
O serviço mais comum, contou, é “centralizar nas instalações as ofertas, que vão chegando em catadupa no início do ano letivo”. Tenta-se fazer uma triagem da oferta – através do contacto com o senhorio ou mesmo de visitas às casas – e faz-se chegar essa informação aos estudantes.
Embora haja quem queira apartamentos, a maior parte da procura prende-se com quartos. “Normalmente o estudante deslocado vem sozinho e procura um quarto para ficar”, referiu André Machado.
A média de renda de um quarto, apontou, ronda os 250/300 euros e de um apartamento para duas/três pessoas os 650/800 euros.
As zonas com mais ofertas são a Cidade Universitária, Ajuda e Benfica.
Procurar alojamento “não é assim tão fácil”
Estudante do 2.º ano da licenciatura em Administração Pública no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, Daniel Viegas Rocha, de 19 anos, é um dos muitos universitários deslocados na cidade.
Quando trocou Lagoa, no Algarve, por Lisboa, chegou na companhia de três colegas do secundário, com quem andou à procura de casa.
“Procurámos vários apartamentos e até encontrámos no Bairro Alto. Achei que era uma boa aposta, mas ao mesmo tempo não, porque seria muita diversão”, contou à Lusa.
Acabou por optar por um apartamento em Benfica, com quatro quartos, onde uma amiga já tinha vivido.
Procurar alojamento “não é assim tão fácil”, já que os pais “impõem um limite de preços”.
Segundo Daniel, os preços em Benfica “são os melhores”, a par de Arroios, por exemplo.
Este ano, divide a casa com três raparigas, todas estudantes de mestrado, e outro rapaz, que já trabalha.
Um apartamento típico
O apartamento é arrendado por quarto. Cada um dos quartos individuais custa 190 euros, sem despesas de água, gás e luz, e o duplo custa 250.
Os quartos estão mobilados “com o essencial” e o preço da renda inclui “telefone, internet e televisão por cabo, bem como limpeza de duas em duas semanas”. As despesas rondam os 30/40 euros.
Para ter quatro quartos, o apartamento ficou sem sala.
A colega de casa Rita Mendes, de 21 anos, que fez a licenciatura em Coimbra e este ano iniciou na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH) da Universidade Nova de Lisboa o mestrado em Comunicação Estratégica, diz que é algo “habitual”.
“Que me recorde, em Coimbra não havia muitas casas que tivessem estudantes onde houvesse uma sala, esse espaço comum sem ser a cozinha, onde as pessoas pudessem estar umas com as outras”, disse, referindo que “geralmente os senhorios fazem-no de forma a lucrar mais”.
Nádia Gouveia, de 21 anos, também estudante de mestrado na FCSH, mas de Relações Internacionais, e colega de licenciatura de Rita Mendes em Coimbra, contou que naquela casa “não há bem um dia a dia em conjunto”.
“Normalmente cada um faz o seu jantar, trata da sua alimentação. Nunca estamos muitas vezes juntos, porque temos horários completamente diferentes”, relatou.
Importância de contrato
Até agora, nenhum destes jovens teve problemas com o senhorio ou as casas. Mas nem sempre é assim.
Segundo o presidente da Associação Académica, as poucas queixas recebidas “prendem-se com a precariedade do vínculo entre estudante e senhorio”.
“As pessoas tentam poupar ao máximo e recorrem a arrendamento ilegal. Tentamos fazer perceber aos colegas que é muito importante cimentarem as relações que têm num contrato escrito”, referiu André Machado, acrescentando que assim os estudantes podem candidatar-se ao programa de incentivo ao arrendamento Porta 65.
O dirigente admite que, “por força das condições sociais e financeiras, há uma proliferação do arrendamento ilegal”.
Mas reforça o dirigente que, “embora possa inflacionar o preço”, o contrato dá “alguma segurança para algum problema” e a possibilidade de recorrer a um apoio do Estado, que pode ser “uma grande ajuda para emancipação e vida independente em casa dos pais”.
/Lusa