A chuva miudinha que começou logo pela manhã em Glasgow não intimidou milhares de pessoas a juntarem-se à manifestação convocada por uma série de grupos e organizações para um Dia Mundial de Ação contra as alterações climáticas.
Os organizadores da manifestação, a Coligação COP26, esperam que entre 50.000 a 100.000 marchem pelas ruas de Glasgow, onde decorre a 26.ª conferência do clima das Nações Unidas (COP26), e milhões se manifestem em outras cidades do mundo, incluindo em Portugal.
O desfile começou em Kelvingrove Park, organizado numa série de blocos de grupos que defendem a “justiça climática”, como comunidades indígenas, ativistas anti-racismo, agricultores, juventude, sindicatos e partidos políticos, e atravessou a cidade, vigiada por um grande dispositivo policial.
Colorida e barulhenta, animada por música e grupos de percussão, palavras de ordem, faixas e posters, a manifestação pretende ser uma intimação aos líderes políticos que participam na COP26, onde devem tomar decisões para cumprir o Acordo de Paris e limitar o aquecimento global.
Entre muitos personagens vestidos para a ocasião, três operários envergavam capacetes, cada um com a palavra “blah” no topo, uma referência à expressão reprovadora da ativista sueca Greta Thunberg, um surfista vestido com fato de neoprene segurava um poster em forma de prancha onde se lia “atuem já”, e outra pessoa mascarada de panda.
“Estou aqui porque o Bangladesh é uma vítima inocente das alterações climáticas”, disse à agência Lusa Sohanur Rahman, da organização YouthNet for Climate Justice, queixando-se dos cada vez mais frequentes ciclones e indundações que afetam o país.
“Contribuímos com 0,04% das emissões de carbono, mas [o país] está a pagar um preço alto e a morrer. Estou aqui em representação de milhões de habitantes que querem compensação pelos danos que estamos estamos a sofrer”, acrescentou.
Sentada numa cadeira de rodas, a tiritar de frio mas empunhando um poster artesanal em cartão onde se lia “Sustentabilidade significa acessibilidade”, Graine afirmou à Lusa que os escoceses, como ela, estão habituados à chuva e frio.
“É importante vir aqui porque o planeta enfrenta o risco de extinção. Quero ter um futuro onde nem eu nem os meus amigos noutras partes do mundo se tenham de preocupar com as ameaças das alterações climáticas”, salientou, referindo que também a Escócia está a sofrer, com inundações e temperaturas mais quentes.
Iris, uma estudante holandesa, lembrou como os Países Baixos correm especial risco da subida do nível do mar.
“É importante colocar pressão sobre os líderes mundiais que estão na COP, fazer ouvir a nossa voz e mostrar que vamos pedir-lhes contas pelas decisões que tomarem”, acrescentou.
Três membros da organização ambientalista portuguesa Zero juntaram-se, segurando uma faixa onde se lia “Emissão justa de emissões já”.
Segundo o dirigente Francisco Ferreira, o que está “aqui acima de tudo em causa é a humanidade que não tem recursos para lidar com as consequências das alterações climáticas”, manifestando a esperança que “os líderes oiçam em todo o mundo”.
No ponto de chegada, na praça de Glasgow Green, no centro da cidade, vai realizar-se um comício pelas 15:00, com oradores como a filipina Mitzi Jonelle Tan, a ugandesa Vanessa Nakate e o rapper escocês Darren McGarvey conhecido por Loki, entre outros.
O subchefe da polícia da Polícia da Escócia, Gary Ritchie, disse que as centenas de polícias destacados para acompanhar a manifestação têm “a missão de manter a segurança do público e dos participantes e proteger os direitos das pessoas que desejam protestar pacificamente ou contra-protestar”.
Ritchie pediu que os participantes se portem “com responsabilidade” e cumpram o percurso do desfile.
“Até agora, foram feitas menos de 20 detenções, a maioria por crimes de perturbação da ordem pública, e isso demonstra o relacionamento positivo entre agentes de polícia e manifestantes”, vincou.
Na véspera, milhares de jovens protestaram em Glasgow sem incidentes.
Decisores políticos e milhares de especialistas e ativistas reúnem-se até 12 de novembro, em Glasgow, na Escócia, na COP26 para atualizar os contributos dos países para a redução das emissões de gases com efeito de estufa até 2030 e aumentar o financiamento para ajudar países afetados a enfrentar a crise climática.
A COP26 decorre seis anos após o Acordo de Paris, que estabeleceu como meta limitar o aumento da temperatura média global do planeta entre 1,5 e 2 graus celsius acima dos valores da época pré-industrial.
Apesar dos compromissos assumidos, as concentrações de gases com efeito de estufa atingiram níveis recorde em 2020, mesmo com a desaceleração económica provocada pela pandemia de covid-19, segundo a ONU, que estima que ao atual ritmo de emissões, as temperaturas serão no final do século superiores em 2,7 ºC.
// Lusa