Ofensivas militares já obrigaram à deslocação de milhares de famílias que fogem com medo dos combates nas ruas, bombardeamentos aéreos e da interpretação extremista da lei islâmica que o grupo traz consigo. Negociações entre os talibãs e o Governo afegão iniciam-se hoje no Qatar.
Perante os avanços sucessivos dos talibãs no Afeganistão, com o grupo fundamentalista islâmico a controlar seis capitais do Afeganistão em quatro dias, a conquista do centro do poder, em Cabul, é já um facto consumado nos Estados Unidos e na Europa. A própria NATO veio reafirmar que a retirada das forças é mesmo para ser levada até ao fim.
“Não existe solução militar para o conflito. Os talibãs têm de perceber que nunca serão reconhecidos pela comunidade internacional se rejeitarem o processo político e se tentarem assumir o poder pela força”, revelou à Reuters um responsável da aliança.
Do outro lado, os talibãs já afastaram a possibilidade de qualquer acordo de cessar-fogo com o Governo afegão, numa altura em que, tal como relembra o Público, os combatentes do movimento fundamentalista islâmico já conquistaram mais territórios nos últimos dois meses do que nas duas décadas anteriores.
No plano internacional, assiste-se a um passar de culpas, com os Governos britânico e alemão a responsabilizarem os Estados Unidos da América pelo “péssimo acordo” que Donald Trump assinou com os talibãs.
Ben Wallace, ministro da Defesa britânico, apontou também o dedo a alguns aliados da NATO por não terem aceitado ficar mais tempo no Afeganistão depois da retirada dos EUA, a 31 de agosto.
“Alguns Governos disseram-nos que admitiam essa hipótese, mas que os seus parlamentos não concordavam. Tornou-se evidente que essa alternativa não era viável sem que os EUA tivessem um papel de liderança”, disse o ministro britânico, citado pelo Daily Mail.
Apesar de o acordo ter sido celebrado com Donald Trump, a atual administração norte-americana continua a executá-lo, com a saída das tropas norte-americanas do Afeganistão a ser dada como moeda de troca de promessas de que o grupo de fundamentalistas islâmico não voltaria a dar refúgio a organizações terroristas — tal como aconteceu após os atentados de 11 de setembro.
Do lado alemão, um comunicado foi emitido, podendo este ser interpretado como uma resposta aos reparos do Governo britânico. “As notícias de Kunduz e de todo o Afeganistão são cruéis e causam-nos dor“, disse Annegret Kramp-Karrenbauer, ministra da Defesa que colocou de parte um eventual regresso das tropas germânicas ao Afeganistão. “Com que objetivos, com que estratégia e com que parceiros estaríamos dispostos a pôr em risco as vidas dos nossos soldados?”, questionou.
Kramp-Karrenbauner sugeriu mesmo que “quem quiser derrotar os talibãs terá de realizar uma missão de combate longa e muito dura“, classificando mesmo o acordo assinado por Trump como o “princípio do fim”.
Ofensivas militares com consequências humanitárias nefastas
Segundo o Público, o avanço e conquistas dos talibãs têm obrigado à deslocação de milhares de famílias à medida que as suas cidades vão caindo devido aos receios de combates nas ruas, de bombardeamentos aéreos da interpretação extremista da lei islâmica que o grupo traz consigo. De acordo com a ONU, só no último mês foram mortas mais de mil pessoas na sequência da ofensiva dos talibãs, assim como 27 crianças nos últimos três dias
“Há muito que o Afeganistão é um dos piores sítios na Terra para se ser criança, mas nas últimas semanas, e principalmente nas últimas 72 horas, ficou ainda pior”, disse à BBC Samantha Mort, diretora de comunicação da Unicef no Afeganistão.
Do lado do Governo afegão, a estratégia passa por descredibilizar o grupo, ao defender que as notícias que têm vindo a público nos últimos dias consistem em propaganda e que as forças governamentais vão repudiar os ataques. “Num dado momento, uma província pode ficar sob controlo dos taliban, mas a situação no terreno é muito fluída“, disse Ahmad Shuja Jamal, diretor de assuntos internacionais do Conselho de Segurança Nacional do Afeganistão.
A partir desta terça-feira, decorrem no Qatar negociações entre os talibãs e o Governo afegão, precisamente.
O “processo de paz” começou em setembro do ano passado e determinou a retirada total das forças norte-americanas (e da Aliança Atlântica, que integrava militares portugueses) até ao dia 31 de agosto.
Segundo a Lusa, apesar do atual impasse das negociações, os Estados Unidos, que promoveram as conversações, devem enviar a Doha o emissário Zalmay Khalilzad para “exortar os talibãs a cessar a ofensiva militar e negociar um acordo político no sentido da manutenção da estabilidade e do desenvolvimento” do Afeganistão.
Mais um belo serviço do Trump (e companhia)…
Obrigado ZAP, por terem passado um esponja sobre o que acabei de escrever. Sei que somos controlados, mas poderiam faze-lo de uma forma mais discreta.
Na verdade, acho possivelmente será a última vez que aqui comento. É perda de tempo.
Caro leitor,
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É o costume, as intervenções dos arrivistas e broncos americanos acabam sempre em desordem ou em retiradas mais ou menos cobardes. Para trás fica, como assinatura, uma esteira de mortos e destruição. Bem-vindos à paz americana.
Já alguém se deu ao cuidado de analisar com seriedade e independência o resultado nefasto da política externa dos Estados Unidos, em todo o mundo? Ingerência, invasão, morte de populações inocentes, destruição de património mundial classificado, roubo de recursos naturais com um único objectivo global de obtenção de hegemonia geoestratégica. Afeganistão, Iraque, Líbia, Síria, Sudão, Somália, Iémen, Vietname, Ucrânia, Koreia do Norte, Cuba, Venezuela, Nicarágua, são alguns exemplos recentes e antigos.
Os talibans já ocuparam todos os ministérios e deram uma entrevista no palácio presidencial. Esperam a chegada dos seus líderes e pretendem um regime reconhecido internacionalmente. É esperar para ver.