O senegalês Benoit Fader Keita está a usar o poder da música para salvar a sua linguagem, ménik, que tem apenas 3 mil falantes e está em risco de extinção.
Benoit Fader Keita nasceu no Senegal e fala ménik, uma das 25 línguas nativas reconhecidas do Senegal, mas que tinha apenas cerca de 3 mil falantes na última contagem.
Se na escola falasse esta linguagem, tinha uma punição: andar com um osso de vaca amarrado por um fio à volta do pescoço o dia todo. Benoit teve de usar o osso inúmeras vezes, escreve o The Washington Post. A escola quer coagir os alunos a falarem francês.
Agora, Benoit quer mudar este estigma e incentivar os mais jovens a falarem a sua linguagem nativa. O senegalês de 35 anos escreve e canta canções de rap e reggae em ménik para encorajar os jovens a falar este idioma falado por caçadores-coletores.
Enquanto na Europa há políticas para proteger e promover as línguas em risco de extinção, na maior parte de África isso não existe.
“O que o Benoit está a fazer é muito importante, porque influencia a juventude”, disse Adjaratou Oumar Sall, linguista da Universidade Cheikh Anta Diop, em Dakar.
O próprio Benoit reconhece a força do seu movimento: “Antes, as pessoas eram um pouco inseguras sobre falar ménik, mas agora estão orgulhosas”.
Ménik é falado pelo povo Bedik, uma minoria étnica que vive em aldeias remotas nas montanhas na região sudeste de Kédougou. Benoit cresceu a aprendê-la, por influência do seu pai, que era caçador, e da sua avó, que lhe contava histórias sobre a sua cultura.
Em 2012, o território Bedik foi declarado parte do Património Mundial da UNESCO devido à cultura local e às suas tradicionais casas de barro.
A popularidade de Benoit como cantor começou a crescer no ano passado, depois de um concerto na véspera de Ano Novo em Bandafassi, que atraiu cerca de 200 pessoas. Depois disso, as crianças nas aldeias sabem todas as letras das suas canções.
O cantor revela que os ouvintes ocasionalmente contactam-no para dizer que ele pronunciou algo errado. Em ménik, o significado de uma palavra muda caso se aumente ou diminua o seu tom, salienta o jornal norte-americano.
Para Benoit o que conta é passar o legado. Recentemente, uma criança disse-lhe que queria ser cantor como ele. “Eu disse a mim mesmo, talvez daqui a cinco ou dez anos, não serei capaz de ter sucesso, mas outra pessoa terá”, atirou Benoit.