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O café está sob ameaça das alterações climáticas — mas uma espécie selvagem pode salvá-lo

As plantações de café a nível mundial estão sob ameaça das alterações climáticas. Uma espécie selvagem redescoberta por cientistas pode salvar a bebida favorita de milhões.

O mundo adora café. Mais precisamente, adora café arábica. Do cheiro dos grãos moídos na hora até ao último gole, o arábica é uma delícia sensorial.

O robusta, a outra espécie de café comum, é quase tão amplamente comercializado quanto o arábica, mas carece de sabor. O robusta é usado principalmente para café instantâneo e misturas, enquanto o arábica é reservado para baristas exigentes e expressos caros.

Os consumidores podem estar felizes, mas as alterações climáticas estão a deixar os produtores de café preocupados. Doenças e pragas estão a tornar-se mais comuns e graves à medida que as temperaturas aumentam.

A infeção fúngica conhecida como ferrugem do café devastou plantações na América Central e do Sul. E embora as plantações de robusta tendam a ser mais resistentes, elas precisam de muita chuva — uma tarefa difícil à medida que as secas proliferam.

O futuro da cafeicultura parece difícil, senão sombrio. Mas uma das soluções mais promissoras envolve o desenvolvimento de novas colheitas de café mais resistentes. Estes novos cafés não apenas terão que tolerar temperaturas mais altas e chuvas menos previsíveis, mas também continuarão a satisfazer as expectativas dos consumidores quanto ao sabor e ao cheiro.

Encontrar esta combinação perfeita de características numa nova espécie parecia algo remoto. Mas num estudo recentemente publicado na revista Nature Plants, uma equipa de investigadores revelou uma espécie de café selvagem pouco conhecida que poderia ser a melhor candidata até ao momento.

Produzir café num mundo cada vez mais quente

Coffea stenophylla foi descrito pela primeira vez como uma nova espécie da Serra Leoa em 1834. Foi cultivado nas partes mais húmidas do oeste de África até ao início do século XX, quando foi substituído pelo recém-descoberto e mais produtivo robusta, e amplamente esquecido pelo indústria do café. Continuou a crescer selvagem nas florestas húmidas da Guiné, Serra Leoa e Costa do Marfim, onde foi ameaçado pela desflorestação.

No final de 2018, encontrou-se stenophylla em Serra Leoa após vários anos de procura sem sucesso. Os investigadores conseguiram recuperar uma amostra de 10g para degustação.

Os botânicos de campo do século XIX há muito proclamavam o sabor superior do café stenophylla e também registavam a sua resistência à ferrugem do café e à seca.

No entanto, estes primeiros provadores eram muitas vezes inexperientes e as expectativas eram baixas antes da primeira degustação no verão de 2020. Isto tudo mudou quando o cientista Aaron Davis provou a sua primeira chávena num painel com cinco outros especialistas em café. Esses primeiros goles foram reveladores: era como estar à espera de vinagre e conseguir champanhe.

A degustação inicial em Londres foi seguida por uma avaliação completa do sabor do café no sul da França, liderada por Delpine Mieulet. Mieulet reuniu 18 apreciadores de café para um teste de sabor às cegas e eles relataram um perfil complexo para o café stenophylla, com doçura natural, acidez média-alta, frutado e encorpado, como seria de esperar de um arábica de alta qualidade.

Os especialistas em degustação de café apanharam notas de pêssego, groselha preta, tangerina, mel, chá preto light, jasmim, chocolate, caramelo e xarope de flor de sabugueiro. Essencialmente, o café stenophylla é delicioso.

E apesar de pontuar muito pela sua semelhança com o arábica, a amostra de café stenophylla foi identificada como algo totalmente único por 47% dos jurados. Isto significa que pode haver um novo nicho de mercado a ser preenchido por este café redescoberto.

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