A chanceler alemã, Angela Merkel, advertiu os estados regionais alemães que é preciso implementarem restrições eficazes no combate à terceira vaga de covid-19, numa altura em que vários “länder” anunciaram planos para atenuar as medidas restritivas.
“Temos de pôr em prática as medidas apropriadas, com grande seriedade. Mas, se alguns estados estão a fazê-lo, outros ainda não”, disse a líder do Governo alemão numa entrevista televisiva com o primeiro canal da estação pública alemã, culpando os estados não alinhados com as restrições de estarem a “violar” os compromissos assumidos entre Berlim e os “länder”.
Merkel acrescentou que, do seu ponto de vista, as conversações com os estados entraram numa dinâmica em que eles sabem que a chancelaria é “estrita” e aproveitam para se apresentar como defendendo a reabertura, deixando-a num papel de polícia má.
A chanceler alemã disse que é favorável à eventual decisão do Governo vir a impor restrições de movimento no país, para evitar o aumento exponencial dos casos na terceira vaga da pandemia.
“As restrições ao movimento podem ser um instrumento muito eficaz”, disse Merkel, que alertou contra o “novo vírus” [variantes] que provocou um surto de novas infeções na Alemanha nas últimas semanas.
A chanceler defendeu que chegou o momento de o país agir “decisivamente” contra a pandemia e admitiu que uma medida rigorosa que limite a circulação da população – que desde o início da pandemia e até agora não foi imposta na Alemanha – poderá ser eficaz “especialmente durante a noite”.
Alguns analistas notaram que Merkel foi sobretudo crítica na entrevista com políticos da própria CDU.
A Alemanha tem tido um aumento das infeções semanais atingindo um rácio de 129,7 por 100.000 habitantes, que compara com 124,9 este sábado e 103,9 há uma semana.
Merkel insistiu que as medidas para restringir os contactos sociais, o uso constante de máscaras e o teletrabalho como opção preferencial, quando possível, são os instrumentos para lutar contra a propagação da covid-19.
“Não temos muito tempo”, insistiu a líder do Governo alemão, que aludiu à eventualidade de virem a ser necessários “instrumentos suplementares” para reduzir o aumento de contágios na “nova pandemia” – expressão que voltou a utilizar, numa referência ao facto de a terceira vaga ser dominada pela variante do coronavírus inicialmente detetada no Reino Unido.
A Alemanha registou 17.176 novos contágios de covid-19 nas últimas 24 horas, um aumento de 3.443 em relação a domingo passado, e 90 mortos face aos 104 da semana anterior, segundo o Instituto Robert Koch de virologia.
A tendência de subida dos números de contágios levou a que, na última reunião da chanceler com os chefes de governo dos 16 estados federados, Merkel tenha conseguido o compromisso da Alemanha prolongar uma série de restrições até 18 de abril próximo.
Além disso, no plano regional e local foram tomadas outras medidas restritivas, tendo em conta a incidência em cada distrito.
O presidente do Instituto Robert Koch, Lothar Wieler, já advertiu que a terceira vaga da pandemia será mais dura do que as duas primeiras, em parte devido à presença crescente da variante britânica B.1.1.7, que é mais contagiosa e agressiva.
Na semana passada, o Governo anunciou um confinamento rigoroso durante a Páscoa e depois, percebendo que trazia problemas legais e de logística, voltou atrás, com a chanceler a assumir, primeiro numa declaração e depois no parlamento, o erro e a pedir desculpa pela “incerteza causada”, um gesto muito pouco comum.
ZAP // Lusa