Em novembro, a China impôs tarifas paralisantes sobre o vinho australiano. Portugal pode ser o beneficiado desta “guerra” alfandegária.
O presidente da Associação Comercial Internacional para os Mercados Lusófonos (ACIML) disse, este sábado, à Lusa que Portugal pode aproveitar a tensão política e diplomática entre Pequim e Camberra para exportar mais vinho para a China.
“Portugal pode tornar-se um dos maiores fornecedores de vinho no mercado chinês”, defendeu Eduardo Ambrósio.
A China tem imposto elevadas taxas alfandegárias sobre o vinho australiano, em resposta à tensão diplomática entre os dois países, desde que a Austrália excluiu a Huawei do desenvolvimento da sua rede de quinta geração (5G), por motivos de segurança nacional.
Principal parceiro comercial da Austrália, a China não perdoou também o facto de Camberra ter apelado a uma investigação internacional sobre as origens da pandemia de covid-19, o que enfureceu Pequim, que considerou que o pedido tem segundas intenções políticas.
Segundo dados do Instituto da Vinha e do Vinho, as exportações de Portugal para a China decresceram mais de um terço no último ano, quando comprado com os dados de 2019. No mercado chinês, para além da Austrália, Portugal concorre com os vinhos espanhóis e italianos.
Em entrevista à Lusa, o presidente da ACIML salientou que a aposta empresarial de exportação para o mercado chinês tem de se focar “em produtos de primeira qualidade”. E deu exemplos, para além do vinho: o café produzido em boa parte dos países lusófonos (com o Brasil à cabeça), a madeira e o algodão de Moçambique, o caju da Guiné-Bissau.
A água é outro dos exemplos, defendendo que se tem fracassado na promoção na China. “Há que corrigir esse ‘gap’ [falha] e procurar entrar no mercado, como conseguiu a França”, explicou.
A associação, sediada em Macau, tem todas as condições para conseguir fazer a ponte entre os diferentes mercados, sustentou, já que os empresários “percebem os chineses, Macau e os países de língua portuguesa, a cultura e os mercados”, sustentou.
Após a passagem da administração de Macau das mãos de Portugal para a China em 1999, Pequim definiu que uma das prioridades do território passaria por servir de plataforma cultural, comercial e económica sino-lusófona.
Pequim acabou mesmo por criar em Macau, em outubro de 2003, o Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa, onde se encontram representados os oito países de língua portuguesa (Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, Timor-Leste e São Tomé e Príncipe).
ZAP // Lusa