O antigo líder do PSD destacou o impacto negativo da pandemia em janeiro que enfraqueceu o primeiro-ministro como justificação da mudança de postura do Governo no combate ao novo coronavírus.
O estado da pandemia em Portugal voltou a ser tema de destaque no espaço semanal de comentário de Luís Marques Mendes. O ex-líder do PSD fez uma análise positiva aos últimos dados relativos ao impacto da covid-19 em Portugal e chegou a defender que “já se vê uma luz ao fundo do túnel”, apesar de ainda “estar distante”, sugerindo uma continuação do esforço feito até agora.
Marques Mendes salienta que após um mês de confinamento já é possível tirar algumas conclusões sobre a evolução do coronavírus no país, e acredita que Portugal já está a melhorar relativamente aos novos casos diários, significando assim que “o confinamento está a resultar”.
Ainda assim, realça que a ideia de desconfinar deve estar longe. Marques Mendes defende que o desconfinamento “deve começar no fim de março”, terá de ser “feito com muita cautela” e “acompanhando de um reforço na testagem”. O facto de acontecer antes da altura da Páscoa leva o comentador a deixar um aviso: “Não deve haver as facilidades que houve no Natal e fim-de-ano, porque se houver pagaremos a fatura mais tarde”.
O tema do desconfinamento também serviu para mostrar que “houve uma mudança na postura do primeiro-ministro”, visível logo na reunião do Infarmed, em que António Costa “foi talvez o mais exigente”.
“António Costa ficou mais frágil com o que aconteceu no pós-Natal e fim-de-ano e percebeu que não tem outro caminho que não recuperar e voltar a pôr a situação pandémica nos carris”, referiu o conselheiro de Estado.
O impacto internacional da situação menos positiva no controlo da pandemia também forçou o Governo a assumir uma postura menos relaxada, sobretudo num momento em que Portugal ocupa a Presidência da União Europeia e terá, na opinião do comentador, um teste de fogo já em Maio, com a Cimeira da União Europeia que deverá decorrer no Porto e que, “se não for presencial, será um flop”.
Luís Marques Mendes fez ainda questão de sublinhar o sucesso da vacinação em Portugal. “Estamos a vacinar ao ritmo possível face às poucas vacinas que temos. E as perspetivas apresentadas pelo novo coordenador da task force são positivas: 70% da população vacinada até ao fim do Verão e o país todo até ao final do ano”.
Por outro lado, o comentador frisa a discrepância entre as doses que foram prometidas e as que de facto foram entregues para justificar o porquê de não se estar a vacinar mais.
“No primeiro trimestre devíamos ter recebido 4,4 milhões e só recebemos 1,9 milhões. Para o segundo trimestre a previsão era 11 milhões e entregarão 7,3 milhões. Depois compensa-se nos restantes dois trimestres: mais 600 mil do que previsto no terceiro, e mais 800 mil do que previsto para o quarto”, recorda.
Na sua opinião, esta situação demonstra que “a Europa não foi capaz de impor às farmacêuticas aquilo que estava previsto nos contratos”, facto que a médio longo prazo pode atrasar a resolução global da pandemia, realidade com consequências humanas e económicas incontestáveis.
Um outro tema, muito discutido na última semana, e que Marques Mendes trouxe à tona, foi o possível adiamento das eleições autárquicas.
“Se forem em outubro há a desvantagem de não haver muitas pessoas vacinadas, apesar de haver bom tempo; se forem em dezembro já haverá mais pessoas vacinadas mas estaremos no inverno mais rigoroso”, explicando que considera que há “vantagens e desvantagens que se anulam umas às outras”.
O comentador lembra que se as autárquicas forem em dezembro a discussão do Orçamento de Estado já se terá realizado e o PCP, que tem sido “um aliado orçamental leal” do Governo e que “previsivelmente continuará a aprovar” o documento, terá de fazer campanha depois de ter “andado de mão dada” com o Governo, algo que se for em outubro não acontecerá.
Por esta razão, Marques Mendes defende que “o PS e o governo não vão mudar a data das autárquicas sobretudo para evitar incómodos para o seu aliado orçamental mais seguro, o PCP”.
Relativamente a um possível Governo de salvação nacional, o comentador referiu que “não faz sentido nenhum, e o exemplo de Itália não é uma boa referência – nem no plano político nem no plano económico”, disse o analista político.
Os três governos de iniciativa presidencial, “que aconteceram nos anos 70 do século passado, por isso na pré-história, não deixaram boa memória”. Marques Mendes disse ainda que um governo de bloco central era igualmente mau: “e depois, quem fazia oposição? O Chega? O Bloco?”.
Contudo, vinca que ”vale a pela ter em atenção as causas”, que, disse, são a desilusão que os portugueses têm em relação à política.