Uma nova investigação sugere que os transplantes fecais podem ajudar pacientes com uma forma perigosa de cancro da pele a responder à imunoterapia.
Os transplantes fecais consistem na introdução de fezes e dos micróbios nelas contidos de uma pessoa saudável no intestino de outra e, segundo o jornal The Guardian, têm vindo a tornar-se um tratamento promissor entre várias doenças do trato intestinal.
Mas, agora, uma equipa de investigadores diz que esta abordagem também pode ajudar pacientes com melanoma, um tipo de cancro da pele bastante perigoso que pode ser tratado com imunoterapia.
“A imunoterapia liberta as próprias células imunitárias do corpo contra o cancro. O problema é que estes medicamentos não funcionam de uma forma perfeita, na medida em que não funcionam o tempo todo”, explica Diwakar Davar, professor assistente de Medicina da Universidade de Pittsburgh e coautor do estudo publicado, a 5 de fevereiro, na revista científica Science.
A equipa recolheu fezes de sete pacientes que, anteriormente, mostraram uma resposta total ou parcial a um tipo de imunoterapia chamado pembrolizumabe e examinaram-nas em busca de vírus, bactérias ou fungos potencialmente prejudiciais.
Terminada essa etapa, transferiram estas fezes para doentes que, pelo contrário, não tinham respondido de forma positiva a essa forma de imunoterapia. Depois do transplante, estes pacientes começaram a receber novamente o pembrolizumabe, que foi repetido a cada três semanas. A sua evolução foi acompanhada durante mais ou menos um ano.
Segundo o jornal britânico, dos 15 pacientes que receberam o transplante fecal, seis mostraram resultados positivos, sendo que três deles tiveram uma grande redução ou erradicação completa do cancro. “Os outros três tiveram cancros que pararam de crescer”, acrescenta Davar.
Os cientistas concluíram que, entre os 15 pacientes, o tempo médio de sobrevivência depois do transplante foi de sete meses. Mas, tendo em conta os seis doentes que responderam à imunoterapia depois do transplante, essa média subiu para 14 meses.
Uma investigação posterior também mostrou que os seis pacientes desenvolveram uma comunidade de micróbios intestinais semelhantes aos das fezes do doador, tornando-se particularmente mais ricos em dois grandes tipos de bactérias – firmicutes e actinobactérias – previamente associados a uma boa resposta à imunoterapia.
O trabalho também mostrou uma queda de células e proteínas específicas que suprimem a resposta imunitária do corpo ao cancro e sinais de uma maior resposta imunitária. “As bactérias atuam reduzindo a quantidade de células imunitárias adversas”, diz Devar.
O estudo tem limitações, incluindo o facto de se basear num pequeno grupo de pacientes. Por isso, o próximo passo desta equipa é realizar testes com amostras maiores e com outros tipos de cancros que também são tratados com imunoterapia.